O discurso de Lula em sua primeira reunião ministerial do terceiro mandato é histórico. Infelizmente, no pior sentido. Nunca antes um presidente se desnudou politicamente diante da nação de forma tão obscena. Inaugura-se uma nova era, a do pragmatismo suicida – em que está autorizado o assassínio de todo e qualquer compromisso com suas promessas de campanha.
Não haverá sobreviventes se os ministros do mandatário levarem as palavras de seu líder ao pé da letra. Ou todos sairão diagnosticados como esquizofrênicos, bipolares ou alguma outra séria definição de distúrbio mental. O quadro é grave.
Lula, com ares de estadista, avisou aos seus ministros que estão (estamos) todos cercados. E não há saída, além de vermos o Executivo refém dos interesses do Legislativo.
Singelamente, Lula disse, nesta sexta (6): “Preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda, nós não mandamos no Congresso, dependemos do Congresso”. Enfatizou aos seus: “Não tem importância se você divirja de um deputado ou senador”.
Em nome da famigerada governabilidade, montou-se um ministério Frankenstein, em que posam na mesma foto paladinos da justiça e da honestidade ao lado de notórios anfitriões da corrupção, do fisiologismo e de milicianos. Mas o presidente não considera isso ao ressaltar: “Quem fizer coisa errrada, a pessoa… será convidada a deixar o governo”. Por que convidou gente com passado comprovadamente duvidoso? Explicar essa contradição ficou para outro momento (que a natureza humana nos garante, virá).
Não é necessário destacar nomes e biografias. Lula e sua “frente ampla” já são de conhecimento público. O presidente eleito reinventou a mitológica caixa de Pandora. Segundo os gregos antigos, nela os deuses colocaram todas as desgraças do mundo, entre as quais a guerra, a discórdia, as doenças do corpo e da alma. Ao ser aberta, todas fugiram. Nela, só ficou a esperança. Lula acaba de fechá-la.