O Ministério Público da Espanha se prepara para abrir um processo para investigar o caso de racismo sofrido por Vinícius Junior na tarde do último domingo, em duelo do Real Madrid contra o Valencia na La Liga. De acordo com informações da agência EFE, a delegada responsável por investigar crimes de ódio na província de Valencia, Susana Gisbert, afirmou que iniciará o processo de apuração dos eventos ocorridos.
Segundo Gisbert, os próximos passos consistirão em colher registros de todas as fontes disponíveis, incluindo vídeos publicados nas redes sociais, eventuais informações policiais e até a súmula da partida. A investigação vai abordar tanto o que aconteceu antes do jogo como durante a chegada dos jogadores ao estádio, onde também há relatos de ofensas racistas.
Mais cedo nesta segunda-feira, o Real Madrid e o Valencia se posicionaram sobre o caso. O clube merengue informou que irá denunciar o caso à Procuradoria-Geral da Espanha, enquanto o Valencia afirma que irá banir os torcedores que cometeram os atos racistas de frequentar o estádio para sempre.
Entenda o caso
Embora durante todo o jogo gritos de “mono” (na tradução livre significa “macaco” em espanhol) pudessem ser ouvidos — o árbitro, inclusive, chegou a avisar a sua equipe num primeiro momento —, o caso maior começou aos 24 minutos. Vini Jr. fazia jogada individual pelo canto esquerdo, quando um jogador do Valencia chutou uma segunda bola que estava em campo no lance para atrapalhar o atacante brasileiro.
Indignado com o antijogo, Vini Jr. foi reclamar do lance com a arbitragem. Com isso, parte da torcida do Valencia que estava atrás do gol mais próximo da jogada voltou a xingar o brasileiro com gritos racistas. Foi quando Vini chamou Bengoetxea para denunciar um dos torcedores.
Nesse momento, alguns jogadores de Real Madrid e Valencia, entre eles o capitão da equipe mandante, Gayà, chegou para tentar acalmar os ânimos. De acordo com o jornal “Marca”, as câmeras de transmissão chegaram a captar Vini Jr. afirmando que não queria mais jogar a partida. A polícia espanhola chegou a ir no local, mas nada foi feito com o torcedor e, após oito minutos de paralisação, a partida reiniciou após o segundo aviso de caso de racismo dado pela arbitragem. Em caso de um terceiro, a partida poderia ser suspensa, como consta no código disciplinar da Fifa.
“Acredita, da próxima vez vamos (suspender o jogo)”, teria falado o árbitro da partida para Vini Jr., conforme informou o “Marca”.
Mas o jogo continuou com nova confusão, aos 48 minutos. Dessa vez, após discussão na área defensiva do Valencia, o goleiro Mamardashvili foi tirar satisfações com Vini Jr, que bateu bocas com o jogador. A princípio, ambos receberam cartão amarelo, mas posteriormente o VAR da partida chamou o árbitro do jogo para denunciar que o atacante brasileiro havia acertado o atacante Hugo Duro no rosto da confusão. Após a checagem, Vini Jr. foi expulso — Duro, que também agrediu Vini com uma espécie de mata leão durante a confusão, não recebeu a mesma punição.
Nas redes sociais, o atacante brasileiro também ironizou toda a situação e a conivência da La Liga com tantos casos de racismo contra ele:
— O prêmio que os racistas ganharam foi a minha expulsão. “Não é futebol, é La Liga” — escreveu.
Depois de receber o cartão vermelho, Vini andou em direção ao vestiário falando e batendo palmas em sinal de ironia. Reservas e integrantes da comissão técnica do Valencia partiram para cima do atacante brasileiro, que foi escoltado por companheiros de Real Madrid até o túnel de saída do campo.