O setor agropecuário foi um dos mais afetados pela escalada inflacionária e a pressão dos custos decorrentes da guerra na Ucrânia, em 2022. Com insumos mais caros, e com o consumidor com menos renda disponível para a aquisição de alimentos gradativamente mais ‘salgados’, o crescimento foi reduzido. Outro entrave veio da mudança climática, materializada em uma nova cheia atípica e mais uma vazante recorde, que geraram perdas de produção e mais dificuldades logísticas. A iniciativa privada e o governo, contudo, mantêm o otimismo para 2023, embasados no potencial inexplorado do setor.
De acordo com o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, 2022 foi um “ano desafiante” para a agropecuária amazonense. Ele diz que os principais motivos para isso foram a “forte cheia” e a “estiagem atípica”, que impactou negativamente a atividade primária. “Além disso, tivemos uma alta da taxa básica de juros, que encareceu o custo dos financiamentos para custeio, investimentos e consumo. E tudo indica que os juros básicos da economia devem permanecer altos em 2023”, lamentou.
Os segmentos da agropecuária do Amazonas que apresentaram crescimento no ano passado, segundo o dirigente, foram a piscicultura e fruticultura, além da pecuária de corte e leite. Outro destaque apontado foi o crescimento da produção de soja e do rebanho pecuário nos municípios do Sul do Estado. Muni Lourenço considera que outro fato importante de 2022 foi a retomada das concorrências públicas da Suframa para venda de lotes no Distrito Agropecuário da autarquia, uma iniciativa que deve gerar investimentos de R$ 200 milhões em empreendimentos rurais.
O presidente da Faea lembra que as previsões para 2023 variam de uma estabilidade a um crescimento de 2,5% para o PIB do agronegócio nacional, em relação a 2022, e estima que essa também deve ser a realidade para o setor no Amazonas, apesar das expectativas de que as dificuldades continuem. “Um fator que preocupou nosso setor em 2022, e que deve persistir em 2023, é a forte alta do custo com insumos e custos de produção. Especialmente pela elevação dos preços de adubos e fertilizantes, que superaram 100% de alta neste ano”, salientou.
Investimentos públicos
O titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrucio Magalhães Júnior, concorda que os desafios e obstáculos ao andamento da agropecuária amazonense foram muitos em 2022, mas considera que o saldo foi positivo. “Sem dúvida alguma, a pandemia, crises políticas e econômicas e enchentes foram os maiores limitadores para que tivéssemos resultados ainda melhores. Mesmo assim, precisamos enaltecer os acertos, que foram muitos, nas políticas públicas. E estas foram devidamente reconhecidas pela população nas eleições gerais deste ano”, assinalou.
O secretário estadual argumenta que os investimentos públicos foram fundamentais para alavancar o Produto Interno Bruto do setor primário e contribuir para um lento e gradual aumento de participação na economia amazonense. Tais resultados, conforme o gestor, podem ser percebidos pelo incremento de produção de frutas, ovos, carne, leite, café, grãos, frutas cítricas e pescados, entre outros “agroprodutos sustentáveis da sociobiodiversidade” do Amazonas.
“O governo lançou o Programa Agro Amazonas para diversificar a nossa matriz econômica e gerar novas oportunidades no interior. Criou o Plano Safra bianual, com o maior volume de recursos orçamentários para fortalecer as cadeias produtivas e a produção. Só para 2021/2022, foram disponibilizados mais de R$ 1 bilhão, entre recursos públicos, compras governamentais da agricultura familiar e crédito rural pelos agentes financeiros”, informou, acrescentando que o lançamento de um pacote de obras para recuperação de ramais e vicinais do interior ajudou a melhorar o escoamento da produção.
Parcerias e ações
Pesca e aquicultura foram foco de R$ 2,4 milhões em investimentos no Estado, beneficiando 4.752 profissionais. Na piscicultura, o titular da Sepror cita avanços com parcerias mantidas com prefeituras –como as de Humaitá e Presidente Figueiredo –em diversas ações, como a entrega de alevinos e pós larvas de tambaquis, incremento do apoio ao licenciamento ambiental e capacitações. “Em 2023 esperamos aumentar o fomento e consolidar as parcerias, para estimular a cadeia produtiva e consolidar a piscicultura no Estado, tanto cultura, quanto economicamente”, apontou.
Segundo o secretário estadual, os pescadores artesanais voltaram a ser cadastrados, passados sete anos sem ações do gênero. Houve ainda entrega de insumos para as pescas artesanal e manejada, assim como apoio estatal para a pesca esportiva. “Temos a possibilidade de estabelecer parcerias para mais apoios e incentivos no setor pesqueiro. Além disso, as parcerias com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e prefeituras serão ampliadas, para estabelecer o manejo adequado dos recursos”, assinalou.
Os programas Procalcário e Promecanização também ganharam impulso, com R$ 10.989 milhões investidos. O primeiro atendeu produtores rurais de 15 municípios, com a aquisição de mais de 3,1 toneladas de calcário. O segundo recuperou 926,5 hectares de áreas degradadas. O Estado também distribuiu kits de sementes de hortaliças, frutíferas e grãos (2.300); açaí (6.500); limão e laranja (1.400); e de mudas de café (1.500). Foram beneficiados mais de 11.700 agricultores familiares, em todos os municípios.
Petrucio Magalhães Júnior frisa também que a Sepror destinou mais de R$ 23 milhões para apoiar o setor primário de 50 municípios, com recursos oriundos de emendas parlamentares e de bancada, que beneficiaram produtores rurais com repasse de itens de fomento e insumo para diversas atividades voltadas ao agronegócio. A ações foram realizadas por meio de convênios celebrados com prefeituras, sindicatos e associações comunitárias, entre outros. Foram executadas emendas de bancada (R$ 17,55 milhões) e individuais (R$ 5,81 milhões). Em torno de R$ 11,50 milhões foram direcionados à realização de eventos agropecuários realizados em 14 municípios.
Regularização e licenciamento
Na análise do titular da Sepror, apesar das nuvens que surgem no cenário geopolítico e econômico global, e do crescente rombo orçamentário brasileiro, 2023 oferece mais oportunidades do que riscos para agropecuária. O secretário estadual estima que as políticas públicas devem ser ampliadas para alcançar “o máximo da população rural”. Também espera maior oferta de oportunidades e um mercado consumidor recebendo “produtos de qualidade e com preço justo”. Também aposta na sustentabilidade nos processos, amparada na legislação ambiental, “mas com viés de respeito ao agricultor”.
“O maior desafio continua sendo avançar na regularização fundiária e garantir maior agilidade no licenciamento ambiental. Isso possibilitaria mais empreendedores acessarem o crédito rural e aumentar o volume de capital produtivo. No meu entendimento, o maior acerto foi o olhar diferenciado do governador em direcionar investimentos e dinamizar vetores econômicos para o interior do Amazonas”, encerrou.
Reportagem: Marco Dassori