Ainda que não seja relativamente novo, uma prática criminosa tem se relatado cada vez mais e merece a atenção da população: é o chamado “golpe da facção”. Segundo relatos, os criminosos entram em contato com as vítimas se identificando como integrantes de facção criminosa e, por meio de ameaças e intimidação, tentam extorquir dinheiro dos usuários.
A reportagem de A CRÍTICA recebeu a denúncia de uma manauara que foi abordada com a mensagem de um desses criminosos. A mulher, que preferiu não ser identificada, relatou que o suspeito entrou em contato com ela se apresentando como integrante da facção Comando Vermelho (CV). Ele afirma que a vítima havia sido acusada por terceiros de estar delatando uma boca de fumo da organização criminosa, e que por conta disso ela e a família dela estariam ‘marcados’ para morrer.
A tática da intimidação e ameaça serviria para amedrontar a vítima, que posteriormente ganharia uma saída: dar dinheiro para o criminoso a fim da família se livrar da facção. Apesar da organização criminosa ser conhecida por ser do estado do Rio de Janeiro, além do Amazonas, segundo ela o suposto criminoso tinha um número com prefixo (DDD) do Mato Grosso.
Segundo a vítima, passado o susto inicial, ela procurou pesquisar sobre o número e também encontrou na internet relatos de pessoas que já haviam sido extorquidas por criminosos usando essa mesma tática.
“Ele mandou mensagem e já acordei com isso. Mas eu tinha visto recentemente uma matéria sobre esse tipo de crime, e ao ver o DDD percebi também que se tratava de um golpe. Como não respondi, o golpe não foi pra frente”, relata.
Ainda que se trate de uma tentativa de golpe, um boletim de ocorrência foi registrado. Segundo a vítima, o criminoso conseguiu o seu contato de WhatsApp através da página profissional no Instagram, que além do número contém informações gerais, mas importantes.
“Fui para o google e encontrei vários relatos de empresas e microempresas contando sobre esse golpe. Eles [os criminosos] pegam os contatos por lá [Instagram], o que me deixou preocupada porque ali tinha o meu endereço também, o que já tirei”, afirma a vítima.
Para o especialista em segurança digital, Weverton Rodrigues, perfis empresariais são os mais suscetíveis a serem alvos desse tipo de crime, principalmente por conta da maior exposição. No entanto, segundo ele, diante da prática criminosa como a relatada, o ideal é que as pessoas não deem margens para os criminosos.
“Todos nós estamos sujeitos a este tipo de golpe, desde pessoas físicas e jurídicas e grandes empresários. Porém, a gente percebe que isso é mais comum em comerciantes e autônomos não muito grandes. Sabendo que este tipo de criminoso se aproveita do medo das pessoas para conseguir dinheiro, o ideal mesmo é que as pessoas não abrirem margem para eles, não respondendo. Apenas bloqueie o número e mande para a polícia”, afirma Weverton.
Ainda segundo o especialista, mesmo não havendo como se proteger totalmente, há uma série de medidas que podem – e devem – ser tomadas para fins de segurança.
“Evitar 100% não tem como, até porque o bandido só precisa de uma abertura mínima para ir atrás das pessoas, o que pode ser feito em várias redes sociais. Só que na questão do WhastApp, é importante salientar que uma prática bem saudável para quem é comerciante ou autônomo é ter dois números, um para profissional e outro para pessoal, porque aí com o número público ele pode filtrar melhor as possíveis tentativas de golpe. Aí o contato pessoal você passa apenas para amigos e pessoas próximas”, finaliza o especialista.
Orientação
A Polícia Civil orienta as pessoas que receberem esse tipo de mensagem a não efetuar transferências, depósitos ou qualquer pagamento aos golpistas. Os números de telefone que enviam as mensagens também devem ser bloqueados, e o BO deve ser registrado imediatamente na unidade policial mais próxima.
Caso no interior do Amazonas
Em abril deste ano, a polícia alertou a população sobre uma nova modalidade de golpe em que os infratores entram em contato com as vítimas, por meio de um aplicativo de mensagens instantâneas, passando-se por integrantes de uma organização criminosa, a fim de extorqui-las e conseguir dinheiro. O golpe já foi registrado em Itapiranga (a 227 quilômetros de Manaus), Urucurituba (a 208 quilômetros) e outros municípios do Amazonas.
O delegado Aldiney Nogueira informou que os criminosos enviam mensagens de áudio e texto às pessoas, ameaçando-as e alegando que elas os haviam denunciado para a polícia.
“Eles proferem ameaças às pessoas, principalmente comerciantes, e falam que vão atacar os estabelecimentos, fazendo com que fiquem com medo. Em seguida, os criminosos pedem que estas (vítimas) façam transferências de quantias em dinheiro pelo Pix (meio de pagamento eletrônico instantâneo) para uma conta bancária”, explicou o delegado.
Nogueira destacou que na delegacia as vítimas são orientadas a não efetuar o pagamento, pois se trata de um golpe. A partir da denúncia e registro de Boletim de Ocorrência (BO), é instaurada uma investigação preliminar pela unidade policial do município.
“Nossa investigação já conta com dois casos. Entramos em contato com outras delegacias de municípios próximos a Itapiranga e Urucurituba, para averiguar se houve registro de casos, e estes relataram já haver ocorrências nesse sentido. Por isso é importante que a população tome conhecimento dessa prática criminosa e esteja atenta”, enfatizou Nogueira.
*Com informações acritica