A posse de Nicolás Maduro, marcada para sexta-feira, 10, será acompanhada por representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um dos principais aliados do regime chavista no Brasil. Dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) também devem marcar presença na cerimônia, ainda que sem representar oficialmente a legenda. E apesar de ser tradição em eventos dessa natureza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não recebeu convite formal para o evento, postura que simboliza uma espécie de afronta de Caracas.
Fontes do Itamaraty disseram a VEJA que o governo brasileiro será representado pela embaixadora em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira. É um gesto protocolar, sem o peso de uma representação de alto nível.
O PT afirmou a VEJA que não há nome oficial representando o partido. “Se for algum dirigente, ele está por conta própria”, disse uma fonte. Mas aventa-se a possibilidade de Camila Moreno, membro da direção nacional da legenda, comparecer à posse. Postagens em seu Instagram mostram que ela está a caminho de Bogotá, na Colômbia, possivelmente para uma ponte aérea.
O MST, por sua vez, será representado por João Pedro Stedile e por uma delegação de cerca de dez militantes. É possível que figuras brasileiras participem de uma reunião do Foro de São Paulo, coalizão de partidos de esquerda da América Latina, no dia anterior à posse.
A presença do MST e do PT, ambos históricos aliados de Maduro, ocorre em meio a uma polarização sobre a legitimidade da reeleição do presidente venezuelano. A eleição de julho de 2024 foi amplamente contestada por opositores, organizações internacionais e vários países, que não reconhecem sua validade. Nesta terça-feira, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos divulgou um relatório afirmando que o pleito careceu de “legitimidade democrática” e que Caracas pratica modalidades de “terrorismo estatal”.
Embora o governo de Lula não tenha reconhecido oficialmente a reeleição de Maduro (nem a vitória de Edmundo González Urrutia, que representou a oposição e é considerado presidente eleito da Venezuela pelos Estados Unidos, União Europeia e algumas nações latino-americanas), o PT foi rápido. Pouco após o fechamento das urnas em 28 de julho, quando o resultado oficial foi anunciado pelo CNE, conselho eleitoral cooptado pelo chavismo, o partido do chefe de Estado brasileiro emitiu uma nota parabenizando o ditador e destacando a importância de buscar uma solução para os problemas econômicos e políticos da Venezuela, atribuídos a “sanções ilegais”.
Enquanto isso, Maduro segue fortalecendo sua relação com movimentos de esquerda. O MST firmou, em setembro de 2024, um acordo com o governo venezuelano para o desenvolvimento de um projeto agrícola em Bolívar, estado fronteiriço com o Brasil.
Embora mantenha laços com movimentos de esquerda na região, Caracas ainda enfrenta resistência e desconfiança de grande parte da comunidade internacional. O governo de Gustavo Petro, na Colômbia, indicou que enviará seu embaixador para a posse, mas sem reconhecer a reeleição de Maduro. No México, a presidente Claudia Sheinbaum confirmou que enviará um representante, embora tenha descartado sua própria participação no evento.
O Chile anunciou nesta terça-feira, 7, o “fim da missão” do embaixador do país na Venezuela. O Ministério das Relações Exteriores do Chile argumentou que a falta de abertura do governo Maduro agravou a crise na região e “impediu o desenvolvimento de um diálogo bilateral eficaz”.
Exilado em Madri, mas atualmente em turnê pelas Américas, González, que também se diz vencedor do pleito, afirmou que pretende retornar ao país no dia da posse para assumir a Presidência, embora corra o risco de ser preso no momento que tocar o solo venezuelano.
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