A jornalista Natuza Nery, da GloboNews, disse ter sido alvo de insultos do investigador Arcenio Scribone Junior em um supermercado no bairro de Pinheiros, na capital paulista, na noite da última segunda-feira, 30. A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito sobre o caso, e a Corregedoria iniciou uma investigação administrativa que pode levar à expulsão do agente.
O episódio gerou repercussão entre políticos e artistas. Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), usou as redes sociais, nesta quarta-feira, 1º, para repudiar o episódio.
“O ataque sofrido por Natuza Nery, em razão do simples exercício diário de seu ofício, exige pronta resposta do poder público”, afirmou Mendes. “Em especial dos órgãos de persecução penal.”
O jornalista Luiz Artur Nogueria, comentarista do programa, também repudiou a ação do policial civil. Nogueira lembrou que críticas fazem parte da profissão, mas defendeu educação e gentileza.
“Esse tipo de interpelação, xingamento, não leva a nada, só polariza o Brasil”, disse Nogueira. “Se ele quiser fazer uma crítica construtiva ao trabalho dela, que o faça de modo gentil.”
Nogueira ainda criticou a fala de Gilmar Mendes. Para o jornalista, o magistrado não tem competência para exigir ações de órgãos estaduais.
“Não é papel do ministro do STF exigir que o poder público tome providencias”, comentou Nogueira. “Repare que está implícito uma supremacia do STF, ou seja, é o ministro do Supremo achando que ele manda nos outros órgãos.”
Ministro ofendeu jornalista da Folha
O comentarista do Faroeste à Brasileira, que é transmitido de segunda-feira a sexta-feira, a partir das 14h, lembrou do episódio em que Gilmar Mendes ofendeu uma repórter. Em março de 2018, o magistrado disse para uma funcionária do jornal Folha de S.Paulo “enfiar a pergunta na bunda”.
O advogado constitucionalista Andre Marsiglia também comentou o assunto. O jurista acredita há exagero em chamar os insultos contra Natuza de “ataques”.
“Se a ofensa foi verbal, não é nem crítica lícita, como diz o policial, nem ameaça, como diz a imprensa”, afirmou Marsiglia, em publicação no Twitter/X. “É ofensa à honra, que se resolve em ação entre particulares. É natural jornalistas se solidarizarem com colega, mas dizer que foi ‘ataque à imprensa’ legitima o STF a dizer que ofensa a ministro é ataque ao Estado democrático, justificando a competência do Inquérito das Fake News para tudo, inclusive para censurar jornalista.”
🚨Algumas considerações jurídicas sobre o lamentável episódio:
1) se a ofensa foi verbal, de que pessoas como ela merecem ser aniquiladas, não é nem crítica lícita, como diz o policial, nem ameaça, como diz a imprensa.É ofensa à honra que se resolve em ação entre particulares… pic.twitter.com/RWnYISi53n
— Andre Marsiglia (@marsiglia_andre) January 1, 2025
A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que diligências foram realizadas no supermercado para coletar imagens e ouvir testemunhas. Depois do incidente, Natuza Nery acionou a Polícia Militar, e ambos foram levados ao 14° Distrito Policial para registro da ocorrência.