O evento da última semana da Microsoft teve mais destaques além do Windows 11. No final da apresentação, que contou com diversas falhas de transmissão, o CEO Satya Nadella fez um importante discurso sobre comunidade e liberdade.
A apresentação feita por Panos Panay, CPO da Microsoft, trouxe todas as novidades do novo sistema operacional. Já ao final, Nadella disse que o Windows “tem sido uma força democratizadora para o mundo”. Também, que ele impulsiona consumidores, negócios e criadores.
Mas o CEO também relacionou o Windows como uma plataforma, apoiando o senso de comunidade. No lançamento do Windows 10, a Microsoft trazia para o público a ideia de que o Windows tornara-se um serviço — e que, inclusive, seria a “última versão” do Windows.
Embora não tenha direcionado sua fala, podemos relacionar esse discurso ao atual momento das big techs, onde Apple e Google enfrentam ações judiciais e investigações sobre suas lojas de aplicativos serem ou não um monopólio nos EUA e em países europeus.
Prévia da nova Microsoft Store já está disponível no primeiro beta do Windows 11.
Por exemplo, na Windows Store, a Microsoft permitirá que desenvolvedores de apps fiquem com toda a receita gerada pela loja já a partir de 28 de julho. Essa regra, apesar de não se aplicar aos jogos, é relevante no contexto atual:
- Em maio, a Microsoft anunciou a redução da taxa de 30% para 12% em jogos
- A partir de 1º julho, a Google Play passará a cobrar uma taxa de 15%
- Neste ano, a Apple reduziu a taxa de 30% para 15% aos pequenos desenvolvedores
Nada disso é uma coincidência e todos os casos envolvem lojas de aplicativos com bases relevantes de usuários. A discussão sobre as taxas vem ganhando notoriedade após a Epic Games passar a cobrar diretamente de seus jogadores, pulando essa etapa das lojas.
Com isso, o jogo Fortnite foi banido da App Store — e Google Play — e o caso segue em um julgamento ainda sem solução. A Microsoft, que já expressou sua indignação contra a Apple no caso do xCloud, ficou do lado da Epic.
As coisas mudam, mas muitas histórias também se encontram. Na década de 90, a Microsoft foi acusada de monopólio ao favorecer o Internet Explorer em relação ao navegador da Netscape.
Onde fica a comunidade?
“O Windows sempre representou soberania para criadores e agência para consumidores”, disse Nadella. “Precisamos ter autonomia para escolher os aplicativos que executamos, o conteúdo que consumimos, as pessoas com as quais nos conectamos e até como dividimos nossa atenção”.
“Uma plataforma só pode servir à sociedade se suas regras permitirem essa inovação fundamental e a criação de categorias. É por isso que estamos introduzindo novos modelos e políticas de comércio para a loja, criando novas oportunidades”, diz, ao citar também a compatibilidade com os apps do Android.
“O Windows sempre representou soberania para criadores”
Satya Nadella, CEO da Microsoft.
Nadella também destaca três pilares nessa mudança:
- “Não há computação pessoal sem agência pessoal”, pois “computação pessoal requer escolhas”.
- “O Windows é palco da criação no mundo”, que “está passando por uma mudança radical à medida que o equilíbrio entre consumo e a criação muda”.
- “O Windows não é apenas um sistema operacional; é uma plataforma para criadores de plataformas”
Em seu discurso, ele também afirma que o Windows 11 traz “um senso renovado do papel que o Windows tem no mundo” para a Microsoft. Globalmente, segundo dados da Statcounter, o Windows representa 73% do market share de sistemas para computadores atualmente.
E onde entra a Apple nessa história?
A questão é que nenhum desenvolvedor deve criar uma loja de apps e disseminar suas criações e ideias para uma plataforma que pertence a companhias gigantes. São essas ideias que impulsionam e tornam os dispositivos eletrônicos relevantes para o cotidiano do usuário. Afinal, a própria App Store foi lançada depois do primeiro iPhone estrear no mercado.
Mais recentemente, a Apple também divulgou um relatório explicando o motivo pelo qual é contra a instalação de aplicativos de outras fontes que não a própria App Store. Essa fala também foi reforçada recentemente por Tim Cook, CEO da companhia. Aqui, é relacionado que a segurança dos usuários pode ser colocada em risco.
Como exemplo prático, podemos citar o desenvolvedor do emulador Delta. Para distribuir sua aplicação, Riley Testut também precisou de uma alternativa à App Store, e então criou a AltStore. A loja, atualmente, abriga alguns aplicativos que podem ser instalados sem que passem pelo crivo da Apple.
Também há de se notar: a Apple faz muito dinheiro com a App Store. Só em 2020, a loja gerou US$ 64 bilhões em vendas — em 2019, fechou com US$ 50 bilhões. A ação da Microsoft pode não causar impacto nesses números, não agora. Mas é uma mensagem forte para Apple e Google — e, talvez, ainda mais forte para os desenvolvedores.
Loja de aplicativos da Apple é investigada sob suspeita de monopólio em algumas regiões.
No lançamento do Windows 10, a Microsoft trouxe para a mesa a ideia de que o Windows tornara-se um serviço, e não mais um produto. Agora, na nova versão, ele começa a ser tratado como plataforma. No final da apresentação, Nadella ainda trouxe um senso de comunidade para o ecossistema. E isso parece ter sido direcionado à Apple.
Tal qual o Android, iOS e Windows, suas respectivas lojas também devem ser oferecidas como um serviço. Este, disponível para desenvolvedores independentes ou não, negócios grandes ou pequenos e consumidores.
“Hoje, o mundo precisa de uma plataforma mais aberta, que permita que os apps se tornem plataformas por conta própria”. Algo como o próprio Windows, explica Nadella, que é “onde coisas maiores que o Windows podem nascer, como a web”.
Agora, nos resta acompanhar as investigações e julgamentos que acontecem nos EUA e Europa contra as grandes empresas de tecnologia.
Com informações de Tecmundo