A visita de David Gamble, chefe interino da Coordenação de Sanções dos Estados Unidos, reavivou a esperança de sanções externas ao Judiciário brasileiro. Ainda que a embaixada americana não tenha declarado oficialmente, o deputado Eduardo Bolsonaro afirma que se trata de discutir sanções a Alexandre de Moraes. Este foi o ponto de partida do programa Última Análise desta segunda-feira (05).
O ex-procurador e colunista da Gazeta do Povo Deltan Dallagnol destaca que a visita é algo inédito na história do país e que nem na época da Lava Jato ocorreu algo semelhante. Assim, a análise da conjuntura não permite outra interpretação que não a de “uma punição concreta em relação a Alexandre Moraes”, afirma.
Sobre a motivação oficial da visita, o vereador Guilherme Kilter lembra que, em Relações Internacionais, nem sempre os motivos são tão claros e sanções ao Judiciário poderiam ocorrer: “A verdadeira diplomacia não é feita com comunicações ou agendas oficiais, mas sim em conversas que não são gravadas nem registradas. As conversas oficiais servem apenas para registro público”.
A necessidade de uma solução externa
A possibilidade de uma sanção vinda de outro país é vista com bons olhos. Dallagnol refuta a acusação de “complexo de vira-lata” dada ao Brasil ao buscar auxílio externo para lidar com os abusos, especialmente vindos do ministro Alexandre de Moraes, já que hoje em dia “a justiça é cada vez mais global”, segundo ele. “Qualquer país que possa aplicar sanções legítimas contra violações e direitos humanos deve fazer e nós devemos defender que o façam”, destaca o comentarista.
Neste mesmo sentido, o advogado André Marsiglia reconheceu que os Estados Unidos passaram a ser um “ator externo político relevante” dentro do que ele descreve como o “caos jurídico” no Brasil. Ele ainda observou que o debate sobre sanções externas, antes considerado uma “fantasia de bolsonaristas”, virou uma realidade. E que a visita do representante americano, tendo ou não como foco principal o ministro Alexandre de Moraes, não muda o fato de que os Estados Unidos já estão de olho nos abusos do ministro há tempos.
“Se é para sancionar (Moraes), essa sanção vai acontecer independente de ser verdadeira ou não a notícia de que ele (David Gamble) veio para isso. Estamos tratando aqui de uma visita, mas a sanção a autoridades brasileiras não é dependente exclusivamente dela”, pontua.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.