“TensõesRegime chavista disse que governo brasileiro “se passa por vítima” após Itamaraty criticar “tom ofensivo” de autoridades venezuelanas.A Venezuela acusou o Brasil neste sábado (02/10) de “tentar enganar” a comunidade internacional e pediu para o Itamaraty “não se intrometer em questões que dizem respeito apenas aos venezuelanos”.
Em nota, o Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, também disse que o Brasil tenta “se passar por vítima em uma situação em que claramente agiu como perpetrador”.
“O Itamaraty empreendeu uma agressão descarada e grosseira contra o presidente constitucional, Nicolás Maduro Moros, contra as instituições e contra os poderes públicos”, disse o documento.
A declaração acontece um dia depois de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em comunicado, se dizer surpreso com o “tom ofensivo” adotado por “autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e seus símbolos nacionais”.
Na última quarta-feira (30/10) a Venezuela havia convocado seu embaixador em Brasília como forma de repudiar uma fala do assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim. O conselheiro de Lula disse, em sessão na Câmara dos Deputados, que “houve uma quebra de confiança dentro do processo eleitoral” da Venezuela.
Maduro também chamou o representante de negócios do Brasil em Caracas para dar explicações – a embaixadora, Glivânia Oliveira, está de férias –, e ameaçou declarar Amorim “persona non grata”.
Na quinta-feira (31/10), a Polícia Nacional da Venezuela publicou em sua conta oficial do Instagram uma imagem da bandeira do Brasil e uma silhueta de Lula com os dizeres “quem mexe com a Venezuela se dá mal”, o que teria motivado a resposta do Itamaraty.
Brasil não reconheceu reeleição de Maduro
As tensões entre os dois países crescem a cada oportunidade em que o Brasil se nega a reconhecer a vitória de Maduro nas eleições de 28 de julho. O pleito que o alçou a um terceiro mandato foi tomado por acusações de fraude, e o líder chavista acusou o Itamaraty de “conspirar contra a Venezuela.”
Além do Brasil, outros países, como os EUA, a União Europeia e grande parte da comunidade internacional, não reconhecem a vitória de Maduro e continuam a exigir a publicação dos boletins das urnas.
O atrito aumentou ainda maisapós o governo brasileiro vetar a entrada da Venezuela nos Brics, em outubro, apesar da pressão de Maduro.
Caracas acusa “intervencionismo” brasileiro
No comunicado de sexta-feira o Itamaraty disse que respeita “plenamente” a soberania de cada país e afirmou que seu interesse no processo eleitoral venezuelano decorre de sua condição de testemunha dos Acordos de Barbados, assinados entre o regime chavista e a oposição.
Na opinião de Caracas, o comunicado do Itamaraty revela o “incompreensível intervencionismo” das autoridades brasileiras.
Em sua resposta, a Venezuela afirmou que o argumento brasileiro, “intitulando-se testemunha dos Acordos de Barbados”, carece de veracidade. “É um ardil que deve cessar imediatamente”, disse o documento publicado pela chancelaria.
O ministro Yván Gil ainda defendeu que o Brasil deteriorou suas relações diplomáticas e deveria assumir “uma conduta profissional”.