O agora ex-presidente americano Joe Biden nem tinha saído da Casa Branca quando as mudanças começaram. Em apenas algumas horas, a equipe do novo líder dos Estados Unidos, Donald Trump, transformou a cara do Salão Oval, o escritório presidencial, para refletir sua imagem e os objetivos do mandato — como é de praxe.
O Salão Oval é talvez o cenário mais icônico da Casa Branca, projetado para transmitir a grandeza e o poder da presidência para o mundo. É palco para reuniões com chefes de Estado, conversas informais com líderes do Congresso e onde os presidentes se dirigem à nação em momentos históricos.
Ao contrário de outros cômodos no complexo da Casa Branca, os presidentes tendem a personalizar seu escritório, selecionando arte e artefatos que enfatizam seus valores e os objetivos de sua administração. Quando cada novo presidente toma posse, o Salão Oval serve como um lembrete da mudança nas administrações.
Botão para pedir Coca Diet
Às 10h58, o tapete azul selecionado pelo ex-presidente Biden foi trocado por um mais neutro, que Trump já havia usado em seu primeiro mandato. Pedaços da enorme Mesa do Resolute — um presente de 1880 da rainha Vitória para o então presidente Rutherford B. Hayes, feita de carvalho branco e madeira de mogno de um navio da Marinha britânica usado para exploração do Ártico — tiveram que ser desmontados para que o tapete pudesse ser instalado, disseram assessores da Casa Branca ao jornal americano The Wall Street Journal.
Sobre a icônica mesa, onde o republicano assinou um calhamaço de ordens executivas na segunda-feira, 20, estava uma bandeja de canetas para assinar os documentos. Além disso, nela foi instalado um botão para que o presidente possa pedir Coca-Cola Diet com facilidade enquanto estiver trabalhando (sua bebida favorita, visto que é abstêmio).
Trump curador de arte?
Para decorar o Salão Oval, presidentes podem selecionar obras de arte da coleção da Casa Branca, dos vastos acervos do Smithsonian, maior museu do mundo, ou pedir para emprestar obras de outras instituições. Mas até mesmo o homem mais poderoso do mundo deve fazer concessões: as paredes curvas do cômodo significam que há um limite prático de tamanho para o que pode ser pendurado.
Como no primeiro mandato, um retrato de George Washington agora está sobre a lareira, que é ladeada por quadros de Alexander Hamilton, o primeiro secretário do Tesouro do país, e Thomas Jefferson, o terceiro presidente americano. Um busto de Winston Churchill repousa sobre uma mesa perto da lareira, no mesmo lugar onde ficava antes de Biden tirá-lo do Salão Oval quando assumiu o cargo, em 2021. Um busto de Martin Luther King Jr., que os dois escolheram exibir no Salão Oval, permanece lá.
Há também novas estátuas de águias prateadas sobre a lareira, enquanto a mesma pintura de Benjamin Franklin que Biden levou para seu Salão Oval, para simbolizar seu foco na ciência, continua pendurada no escritório de Trump.
Em destaque também está um retrato do ex-presidente Andrew Jackson, parte da coleção de arte da Casa Branca. (Em seu primeiro mandato, o sétimo chefe de Estado americano também figurava na decoração.) Outros antes dele, incluindo Ronald Reagan, penduraram a imagem de Jackson em seus Salões Ovais, mas o republicano é um fã particular, já que o antecessor também chegou ao poder em uma onda populista e anti-establishment e, então, refez seu partido à própria imagem. É uma figura controversa: suas ações no cargo levaram a realocações forçadas de indígenas, com milhares de mortos.
Sob a pintura de Jackson está uma escultura chamada The Bronco Buster, de Frederic Remington, que também enfeitou o primeiro Salão Oval de Trump. Ele tirou do escritório um busto de Robert F. Kennedy, que Biden mantinha em um local de destaque – mas a dinastia política não foi extirpada do governo: o gabinete de Trump inclui o filho do ex-procurador-geral assassinado, Robert F. Kennedy Jr., um controverso propagador de teorias da conspiração antivacina que o novo líder americano escolheu para encabeçar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos.
Registros do passado que Trump quer apagar
As bandeiras militares de cada ramo das Forças Armadas foram colocadas de volta no Salão Oval — elas haviam sido removidas durante o mandato de Biden. O democrata, porém, manteve as cortinas douradas que Trump usou em seu primeiro mandato, então elas não precisaram ser trocadas.
Quando Biden chegou ao poder, ele encarregou seu irmão James, junto com o historiador Jon Meacham, de trazer artefatos significativos para o escritório. Eles incluíam um enorme retrato do herói progressista, o presidente Franklin D. Roosevelt, pendurado sobre a lareira para simbolizar um momento em que o país enfrentou múltiplas crises. Trump o descartou.
O Salão Oval e grande parte da Ala Oeste foram reformados alguns meses após o primeiro mandato de Trump. O papel de parede listrado que adornava as paredes durante o governo Barack Obama foi substituído por uma cobertura de parede branca estampada, que o próprio Trump escolheu.
Além das pinturas e estátuas, os presidentes costumam adicionar outros toques reveladores. Obama gostava de ter uma tigela de maçãs em uma mesa de centro perto da lareira. Biden mantinha biscoitos de chocolate à mão, do lado de fora do Salão Oval. A mesa de Trump, por sua vez, inclui um buquê de flores junto com um peso de papel quadrado dourado, com seu nome gravado em relevo.