Coari, uma cidade no coração do Amazonas, é amplamente reconhecida por sua biodiversidade singular e por sua cultura rica e pulsante. Contudo, as belezas naturais do município são frequentemente ofuscadas por um cenário político controverso, no qual a família Pinheiro desempenha um papel central. Apesar de sua longa dominação no poder, a família é cercada por escândalos que colocam em cheque a transparência na administração municipal.
Nos últimos anos, o nome Pinheiro se tornou sinônimo de polêmicas e acusações graves, variando de corrupção até crimes de natureza ainda mais séria. A concentração de poder em poucas mãos tem sido alvo de críticas de moradores e de especialistas em gestão pública, que apontam para falhas na oferta de serviços básicos e no uso adequado de recursos públicos.
Retorno ao comando de Coari
Na última sexta-feira (13), Adail Pinheiro foi diplomado como prefeito eleito de Coari, recebendo o cargo do sobrinho Keitton Wyllyson Pinheiro Batista. Essa transição representa mais um capítulo na controvérsia histórica envolvendo a família.
Adail Pinheiro, o líder do clã, possui uma trajetória marcada por escândalos. Sua gestão à frente da prefeitura já foi alvo de várias denúncias e processos judiciais, incluindo condenações por improbidade administrativa, exploração sexual infantil e fraudes em licitações. Apesar do histórico judicial pesado, ele conseguiu retornar ao poder, uma situação que levanta questões sobre o sistema eleitoral e a eficiência dos mecanismos de controle.
Um passado marcado por crimes graves
Adail Pinheiro foi condenado em 2014 a 11 anos de prisão por exploração sexual infantil, em um caso que chocou o país. Segundo o Ministério Público do Amazonas (MPE-AM), crianças entre 9 e 11 anos foram vítimas do então prefeito. Sua prisão preventiva foi decretada ainda em fevereiro daquele ano, culminando em uma sentença definitiva em novembro. Contudo, em 2017, ele recebeu um indulto presidencial e foi solto, retornando à vida pública logo em seguida.
Esse retorno foi seguido por novas condenações. Em 2018, Adail Pinheiro foi sentenciado a mais de 57 anos de prisão por fraudes em licitações enquanto liderava a prefeitura de Coari. O esquema foi desvendado pelo Ministério Público Federal (MPF), que apontou desvios milionários. Mesmo assim, Adail obteve liberdade no mesmo ano, quando o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) autorizou que ele aguardasse o julgamento de seus recursos em liberdade.
Eleição contestada
A eleição de Adail Pinheiro como prefeito de Coari, em 2024, também foi cercada de controvérsias. Em outubro deste ano, a Justiça Eleitoral do Amazonas começou a julgar recursos apresentados pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) e por adversários políticos contra sua candidatura.
Segundo o MPE, Adail estaria inelegível por conta de condenações anteriores por improbidade administrativa, que resultaram na suspensão de seus direitos políticos por oito anos. A defesa de Adail argumentou, entretanto, que a contagem da suspensão começou em 28 de agosto de 2015, o que teria restabelecido seus direitos em agosto de 2023.
O MPE discordou dessa interpretação, sustentando que a suspensão só começou em 18 de outubro de 2016, quando a decisão transitou em julgado. Assim, Adail teria concorrido ainda inelegível. Apesar das objeções, o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) confirmou sua eleição em 21 de novembro, reforçando que, no entendimento da corte, ele estava apto a participar do pleito.
Papel de Adail Filho na perpetuação do poder familiar
O ex-prefeito do município, Adail Filho, herdeiro político de Adail Pinheiro, também ocupa uma posição de destaque na influência da família em Coari. Atualmente deputado federal pelo Republicanos-AM, ele destinou emendas parlamentares no valor de R$ 22,2 milhões para o município apenas neste ano. Essa relação entre a gestão de recursos federais e a administração municipal levanta suspeitas de favorecimento.
Adail Filho foi eleito prefeito de Coari em 2016 e reeleito em 2020. Contudo, sua reeleição foi anulada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), que considerou que sua vitória configurava um terceiro mandato consecutivo dentro do mesmo núcleo familiar — algo proibido pela legislação eleitoral brasileira. Essa sequência de mandatos representa, para o TRE-AM, uma continuidade irregular do poder da família Pinheiro no município.
Adail Filho recorreu, argumentando que o mandato do pai foi interrompido em 2014 devido à prisão e perda de cargo de Adail Pinheiro. Apesar disso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) manteve a decisão de cassar o registro de candidatura de Adail Filho, impedindo-o de continuar como prefeito.
Operação Patrinus: mais um golpe na família
Em 2019, Adail Filho foi preso durante a Operação Patrinus, que investigava um esquema criminoso de fraudes em licitações, lavagem de dinheiro e corrupção no poder municipal. A investigação do Ministério Público revelou uma rede estruturada de desvio de recursos públicos, aprofundando ainda mais as críticas à dinastia Pinheiro.
Essa operação trouxe à tona os desafios institucionais enfrentados por Coari, onde a concentração de poder em uma família gera preocupações quanto à imparcialidade das instituições e à utilização dos recursos públicos.
A deputada estadual Mayara Pinheiro (PP), irmã de Adail Filho, também foi investigada na época.
Naquele ano, também foi preso o então presidente da Câmara de Coari, Keiton Pinheiro, primo do prefeito . O MP diz que Keiton atuava para que o prefeito tivesse aval e fizesse as licitações.
Desafios e perspectivas
O caso da família Pinheiro exemplifica como a concentração de poder pode comprometer a governança municipal. A história recente de Coari é marcada por escândalos que ressaltam a necessidade de reformas no sistema político e na fiscalização de gestões públicas.
Para a cidade, o futuro depende de medidas que promovam a descentralização do poder e garantam maior ética na administração. Transparência, inclusão e responsabilidade são elementos essenciais para mudar o curso da história de Coari e romper com um legado de polêmicas e desigualdades.
*Com informações ampost