O dia da saudade teve outra motivação este ano no bairro da Colônia Antônio Aleixo, zona Leste: o Lago do Aleixo, fonte de não só de beleza, mas de alimento e diversão para os moradores e visitantes, está reduzido a um córrego que estica o olhar de quem quer ver o que restou dele depois da seca recorde ocorrida este ano.
Ver o lago seco, com flutuantes encalhados, também é motivo de apreensão para o pescador Manuel Domingos 38, que hoje (2) estava vendendo jaraquis obtidos de um pescador de Autazes, porque o lago onde costumava pescar está seco há meses e não tem mais vida.
“Aqui quando está cheio passa dourado, tambaqui, jaraqui, peixe de toda espécie passa aqui”, conta Domingos, para lamentar a situação atual, tão desoladora.
Outro que manifesta tristeza por essa realidade nunca vista em tão pouco tempo no Lago do Aleixo é o mestre-de-obras José Luiz Alexandrino de Oliveira. Morador da rua que limita a faixa do lago com o bairro, José acredita que a vontade de Deus e da natureza predominam.
“Só vi isso duas vezes, ano passado e agora este ano”, afirma, com “tristeza no coração”, o aposentado Antônio Cícero da Silva, 68, morador do bairro há mais de 50 anos. Para ele, que costumava admirar a beleza do lago de vez em quando, para lembrar os tempos de infância no município onde nasceu, Santa Izabel do Rio Negro.
“Meu coração fica triste porque acho que essa secura tem muito a ver com o que homem faz contra a natureza”, afirma Antônio, sem esconder a tristeza sentida.
PURAQUEQUARA
No bairro Puraquequara, também na zona Leste, a situação é a mesma no lago que leva o nome do bairro. Fonte de pescados e diversão para os banhos e passeios de canoas e jet-skis, o lago está completamente seco.
“Nunca vi tão seco como agora, mesmo se comparando ao ano passado”, disse o autônomo José Carlos Silva, 65, que mora no bairro há mais de 20 anos.
Para ele, que estudou até o ensino fundamental e diz não ter sabedoria para opiniões, a seca desse ano é mais do que um ‘castigo’ de Deus para os que não respeitam os rios e a floresta. “Os homens não estão ouvindo, mas esse lago secar quer dizer muito da revolta da natureza contra as agressões feitas por nós”, assegura.
A vazante do Rio Negro registrada ontem (1) pelo Porto de Manaus foi de 12.18 metros. O rio está parado, conforme indica a medição, mas os moradores e pescadores do Puraquequara e da Colônia Antônio Aleixo convidam os manauenses a sair do lugar e se deslocar para a zona Leste admirar a seca para refletir sobe os efeitos que são muitos não só para quem vive naquela área, mas para toda a cidade cortada pelo rio de águas pretas.