Após embate com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) conversou com a coluna Entrelinhas sobre temas que considera centrais para o debate público nacional, como o papel das ONGs na Amazônia, as ameaças à liberdade de expressão no Brasil, a crescente influência da China e a crise institucional entre os poderes. Sem meias palavras, o senador criticou o que chama de “lacração ideológica” e defendeu posições que vêm ganhando ressonância entre parte da sociedade brasileira.
Nesta entrevista, o parlamentar amazonense explica suas posições, comenta episódios recentes de confronto político e fala sobre o cenário eleitoral de 2026, sem fugir de temas polêmicos como a anistia, a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e a possibilidade de impeachment de ministros.
Entrelinhas: O episódio com a ministra Marina Silva que gerou grande repercussão e levou a etiqueta de “machismo”. Qual sua análise sobre isso?
Senador Plínio: Passei 6 horas e 10 minutos com ela na CPI das ONGs. Ela me provocou o tempo todo, e eu resisti, resisti. Ela me odeia por isso. Ela não tem argumentos, então me ofende. Disse que “passei sem focar”, no sentido de que me mantive respeitoso, sem ser mal-educado. E aí veio o mundo abaixo, com os lacradores de plantão em canais de televisão. Hoje em dia, se você discute com uma mulher, já dizem que é machismo.
Entrelinhas: E o que exatamente o senhor queria dizer ali?
Senador Plínio: Eu quis separar a mulher da ministra. Ela interrompeu meu tempo, não deixou eu me apresentar. Eu falei com respeito à mulher, mas a ministra perdeu o respeito quando debochou do povo de Manaus dizendo que “não ia permitir 400 km de estrada para passear de carro”. Passear já seria direito. E ainda me chamou de “psicopata”. Já imaginou se eu chamasse uma mulher de “psicopata”?
Entrelinhas: Essa postura da ministra Marina Silva, segundo o senhor, reflete uma agenda global?
Senador Plínio: Sim, ela traz uma agenda de fora, uma engenharia social global. Fala de países que vivem da biodiversidade, mas não consegue citar um. Mente, engana o público com dados que não se confirmam. Quando volta ao Brasil, traz propostas que não condizem com a realidade amazônica.
Entrelinhas: Sobre essa questão da Amazônia e das ONGs, o que o senhor constatou na CPI?
Senador Plínio: Investigamos seis ONGs, e juntas movimentaram 2 bilhões e 100 milhões de reais. Só seis. Essas organizações dominam tudo: Ibama, ICMBio, FUNAI, Ministério dos Povos Indígenas, tudo capturado. O Lula, o Bolsonaro, nenhum deles mandou na pauta ambiental. Quem manda são os interesses estrangeiros, banqueiros, petroleiras, ONGs financiadas por Noruega, Alemanha, Holanda.
Entrelinhas: E como o senhor vê a aproximação do governo brasileiro com a China?
Senador Plínio: Vejo com muita preocupação. A venda da Mina de Pitinga, no Amazonas, para uma empresa chinesa foi feita sem passar pelo Congresso, o que é ilegal. Estão extraindo estanho, mas ali tem urânio, lítio, terras raras. Acreditar que os chineses vão só separar o estanho é acreditar em Papai Noel.
Entrelinhas: O senhor entrou com alguma medida contra essa venda da mina?
Senador Plínio: Sim, entrei com mandado de segurança porque o Congresso tem que aprovar lotes de terras acima de 50 blocos. Não foi feito. Meu direito foi desrespeitado, e estou tentando reverter isso na justiça.
Entrelinhas: Qual sua opinião sobre uma recente fala da primeira-dama Janja, que mencionou o modelo chinês de controle das redes sociais?
Senador Plínio: Isso é inadmissível. Pedir que o ditador chinês mande alguém regular as redes aqui é escandaloso. É censura. Estamos vendo um governo que simpatiza com o modelo autoritário da China. Isso ameaça nossa liberdade.
Entrelinhas: Recentemente falou-se da possível sanção de autoridades brasileiras pelos Estados Unidos. Como o senhor vê essa situação?
Senador Plínio: Se aqui dentro ninguém faz nada, que venha de fora. O ministro Moraes está sendo cobrado por ter censurado pessoas dentro dos EUA. Foi ele quem passou do limite.
Entrelinhas: E sobre a anistia dos presos do 8 de janeiro, o que o senhor pensa?
Senador Plínio: O Brasil tem tradição de conceder anistia. Lula, FHC, Dilma, todos foram beneficiados. Quando chega a vez dos outros, não pode? Isso é hipocrisia. O Congresso tem a competência para isso. O problema é que o presidente da Câmara engaveta tudo.
Entrelinhas: O senhor vê responsabilidade do Senado nesse cenário?
Senador Plínio: Sim. O Senado foi omisso. Eu denunciei desde 2019 que o boi estava forçando a cerca. Se não tivesse impeachment de ministro, a tempestade viria. E veio. E o Senado se calou.
Entrelinhas: O senhor defende o impeachment de ministros do STF?
Senador Plínio: Defendo. Mas precisa de um Senado com coragem. Um Senado do tamanho que o Brasil precisa. Um Senado que faça valer sua independência.
Entrelinhas: O senhor será candidato à reeleição em 2026?
Senador Plínio: Serei, e o Eduardo Braga também. Fala-se no governador Wilson Lima e no Capitão Alberto Neto, do PL. A população precisa perguntar: “O senhor é a favor do impeachment de ministro?” Se disser que é, verifique se é sincero. Precisamos de senadores que enfrentem esse sistema.
Entrelinhas: Como o senhor define esse momento político do Brasil?
Senador Plínio: Vivemos uma ditadura do Judiciário. O Legislativo está acuado. A mídia, capturada. E o povo sem voz. Mas a verdade é que nós, amazônidas, não vamos aceitar pagar os pecados ambientais do mundo. A luta continua. Não é fácil, mas a gente segue gritando.