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PF diz a Moraes que X permitiu lives e pagamentos a perfis bloqueados

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Relatório da PF a Moraes analisa argumentos do X para falhas em bloqueios e diz que plataforma permitiu financiamento de blogueiros

Polícia Federal (PF) culpou a rede social X por falhas no bloqueio de perfis na plataforma, determinado por Alexandre de Moraes (STF). Em relatório enviado ao ministro no âmbito das investigações sobre o descumprimento de decisões judiciais por parte do X, a PF afirma que, além de transmissões ao vivo feitas a partir de perfis bloqueados, a plataforma permitiu a divulgação de links que possibilitaram o financiamento de comunicadores bolsonaristas atingidos pela determinação, como Allan dos Santos.

O relatório produzido pelo delegado Fabio Shor analisa argumentos apresentados pelo X, do empresário Elon Musk, para responder a outra investigação sobre as falhas, concluída em setembro de 2024. Nessa última apuração, a PF diz que o X mentiu ao afirmar que as transmissões ao vivo em perfis bloqueados teriam sido hospedadas em outras plataformas.

“A fim de verificar as justificativas apresentadas pela empresa X Brasil e o efetivo cumprimento das ordens judiciais, foram realizadas novas diligências. Na IPJ anterior, ficou demonstrado que o aplicativo móvel (aplicativo X para iOS) apresentou falhas quanto ao bloqueio, fato confirmado pela X Brasil em sua resposta”, diz o relatório enviado a Moraes no dia 11 de março.

“A X Brasil afirma que a transmissão ao vivo estava disponível aos usuários, mas teria sido hospedada em outra plataforma, sendo a plataforma X apenas uma forma de divulgação dos links de redirecionamento”, pontua a PF. No entanto, para contrapor as alegações da empresa, a corporação usa imagens de uma live realizada por Allan dos Santos pelo perfil Terça Livre no dia 8 de abril do ano passado.

“É possível observar que a foto de perfil do @tercalivre está com uma borda vermelha e com a frase ‘AO VIVO’, o que evidencia que uma transmissão estava sendo feita dentro da plataforma X por este perfil naquele momento. Conforme já exposto e recuperado nesta informação, a foto do perfil @tercalivre no momento dessa transmissão passa a contar com um botão que, ao ser clicado, redirecionava para o link: ‘https://twitter.com/í/broadcasts/1ynJOyonQrVKR’. O endereço por si já evidencia que o conteúdo estaria hospedado na plataforma da empresa X (Twitter)”, aponta o relatório.

Segundo a PF, o link que direciona para a live armazenada no perfil Terça Livre continua ativo caso seja acessado com o uso de VPN. A investigação também apontou que a transmissão foi feita em outras plataformas simultaneamente. “A própria página de ajuda da empresa X mostra como é possível a realização de transmissões ao vivo utilizando aplicações (software) ou dispositivos (hardware) de terceiros”, ressalta.

O mesmo artifício, segundo a PF, foi usado pelo jornalista Rodrigo Constantino, também atingido por ordem de bloqueio de perfil emitida por Moraes, no dia 12 de abril de 2024. “O acesso à referida live ficou disponível pelo aplicativo do X (Twitter) sem o uso de VPN, por meio de acesso via smartphone (iOS). Neste caso, o usuário é alertado sobre a apresentação (live)”, afirma o relatório. No canto direito do perfil bloqueado, o X permitiu a divulgação do link da live no YouTube.

Links de financiamento

De acordo com o relatório da PF enviado a Moraes, mesmo em perfis que apareciam com o conteúdo bloqueado, o X Brasil permitiu a utilização de links que direcionavam os usuários a páginas onde eles podiam fazer doações aos comunicadores. Para Allan dos Santos, as doações eram feitas em Bitcoin, criptomoeda digital que permite pagamentos em transações online sem necessidade de intermediários, ou seja, os bancos, dificultando seu rastreamento.

“Ao se realizar o acesso ao perfil @allanldsantos por meio de um navegador em um dispositivo de mesa (computador/desktop), não são exibidas postagens, fotos ou capa do perfil. Entretanto, há algumas informações fornecidas”, afirma a PF, destacando o botão “Enviar Bonificação” disponível no perfil.

“Ao clicar nesse ícone/botão, abre-se uma espécie de pop-up com dois links: ‘Endereço do Bitcoin’ e ‘Venmo’. Ao clicar no botão ‘Endereço do Bitcoin’, é exibida a mensagem ‘Endereço do Bitcoin link copiado para a área de transferência’. Trata-se de um endereço (chave pública) em uma carteira Bitcoin”, afirma o relatório.

A PF teve acesso aos dados das transações para a carteira de Bitcoin de Allan dos Santos na plataforma Blockain. “Os valores em dólares americanos mudam dependendo da cotação do Bitcoin em dólar. Por outro lado, o valor transacionado em Bitcoin até a finalização desta informação não havia se alterado. O resumo das transações identificadas envolvendo esse endereço que recebeu 0.00560102 BTC ($488,13)”, aponta a corporação.

Os Bitcoins obtidos por Allan dos Santos em doações pela Blockain foram repassados pelo jornalista ao portal Kraken.com. “A Kraken.com, conforme informação extraída da própria página da empresa, é uma exchange de criptomoedas que faz a correspondência de ordens de clientes que desejam comprar criptomoedas com ordens de clientes que desejam vender criptomoedas (ou vice-versa)”, afirma a PF.

Pelo portal, o comunicador bolsonarista disponibiliza uma assinatura que pode ser comprada por usuários por R$ 25,00 para “financiar/apoiar Allan dos Santos”. “O valor da assinatura é de R$ 25,90/mês e daria acesso a Spaces exclusivos com o jornalista”. O mesmo tipo de assinatura, pelo mesmo portal, é usado por outros militantes de direita, segundo a PF.

“Com relação à opção de assinatura, também estava disponível, quando consultada no dia 17 de fevereiro de 2025 às 15:06, nos perfis dos usuários com contas retidas PAULO FIGUEIREDO (@realpfigueiredo), TERÇA LIVRE (@tercalivre) e RODRIGO CONSTANTINO (@Rconstantino)”, diz o relatório entregue ao STF.

Conclusões

Em suas conclusões, a PF alega que o X “permitiu a realização de transmissão ao vivo por meio da própria plataforma dos perfis com bloqueio judicial no Brasil”. Além disso, durante novas diligências realizadas por esses signatários, após determinação da autoridade policial, foi possível identificar que, ao acessar os perfis @tercalivre, @Rconstantino, @realpfigueiredo e @allanldsantos, via navegador (desktop), são exibidas algumas informações adicionais dessas contas”, observa.

“Ao invés de apenas ser exibida a mensagem indicando que a conta está retida, os perfis exibem alguns botões e informações que permitem, no Brasil, sem uso de VPN, aos usuários financiarem/apoiarem essas contas por meio da assinatura da plataforma X e, no caso de Allan Lopes dos Santos, o fornecimento de um endereço para o recebimento de valores em Bitcoin”, afirma a PF.