Manaus/A – A Polícia Civil deu detalhes chocantes do caso de um garoto de 12 anos que era torturado e supostamente submetido a rituais satânicos pelo próprio pai e o tio, na comunidade indígena Balaio, a 100 km de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
A vítima criou um coágulo na cabeça e ficou cega e devido às agressões. No dia em que foi resgatada, ela apresentava sinais de desnutrição extrema e já estava perdendo os movimentos das pernas.
Segundo a polícia, os autores do crime são professores na cidade e foram presos na última sexta-feira (29), após o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município denunciar o caso.
De acordo com o delegado Paulo Mavignier, o adolescente morava com a mãe, mas costumava passar os fins de semana com o pai, momento em que ocorriam as agressões. O menino contou que era espancado e proibido de dormir e de comer.
“A própria criança, quando eu o visitei no hospital, me relatou que era agredida e que o tio auxiliava o pai, a segurando e a amarrando. Ele disse que era agredido com uma barra de ferro, com tijolos, das mais diversas formas, e que o pai fazia menção a rituais satânicos no momento em que o agredia, sempre com a ajuda do tio”, afirma.
Apesar disso, as investigações descartaram os rituais. O delegado afirma que na verdade, quando as agressões ocorriam, o pai estava embriagado e falava coisas desconexas.
“Em relação aos rituais satânicos, isso foi relatado pela criança e pelo psicólogo do CRAS, e teoricamente, as agressões seriam uma espécie de oferenda da criança à uma entidade. E nós confirmamos que não era nada disso (…) As agressões eram por conta da embriaguez do pai e do tio e eles usavam esse artifício de que o garoto estava envolvido em alguma coisa obscura, maligna. A situação de agressão justificaria a libertação dessa criança, mas isso era coisa do pai quando ele estava alcoolizado”, diz o delegado.
A polícia não sabe precisar há quanto tempo o menino sofria as agressões, mas afirma que as costas dele tinham várias lesões recentes provocadas por barra de ferro ou fios elétricos. A piora do estado de saúde dele nas últimas semanas, também chamou a atenção para que o caso fosse denunciado.
A polícia investiga se a mãe era conivente com a situação, uma vez que não se atentou para a debilidade do menor.
O delegado Paulo relata que no momento da prisão, nem o tio, nem o pai pareceram surpresos mas agiram com extrema frieza. O pai chegou a questionar os policiais se o filho “já havia morrido”.
“A frieza do pai nos chamou a atenção, no momento em que eu abordei ele e disse que ele estava preso, ele disse: É por causa do meu filho é? Ele já morreu?”
Questionado sobre os ferimentos no garoto, o homem se negou a falar como eles foram provocados e disse apenas que costumava levar o filho para um curandeiro.
O pai e o tio permanecem presos em São Gabriel da Cachoeira e vão responder por tortura e maus-tratos e omissão de socorro entre outros crimes.
A vítima foi trazida para Manaus e segue internada. Ele recebe acompanhamento médico, pois corria risco de morte, mas os profissionais já informaram que ele não conseguirá mais voltar a enxergar.