As últimas semanas de maio reacenderam a discussão sobre as origens do novo coronavírus. Embora a OMS tenha feito um relatório, após visita à China, afirmando que é “extremamente improvável” que o vírus tenha surgido em laboratório, a própria entidade afirmou que faltaram elementos para uma resposta conclusiva a respeito da origem da doença. De teoria da conspiração, a possibilidade de vazamento do vírus devido a um acidente em um instituto de pesquisa voltou a ser tratado como hipótese.
Instituto de Virologia de Wuhan, na China, deve voltar a ser alvo de investigação internacional. (Foto: Wikipedia)
Cronologia da dúvida
Em 14 de maio, um grupo de 18 cientistas de universidades prestigiadas – Harvard, Yale, Stanford e Cambridge – publicaram uma carta na revista Science questionando o relatório da OMS a respeito da origem do novo coronavírus. Eles pediram um novo estudo, uma vez que os pesquisadores enviados pela OMS à China tiveram as investigações limitadas devido a restrições impostas por Pequim.
No dia 23 de maio o The Wall Street Journal publicou uma reportagem sobre três colaboradores do Instituto de Virologia de Wuhan que teriam adoecido juntos e precisaram ser internados em novembro de 2019 – época em que surgiram os primeiros casos de coronavírus no país oriental. As informações são atribuídas a relatórios dos serviço de Inteligência americanos.
Em 24 de maio, o porta-voz da Casa Branca para assuntos médicos, Anthony Fauci, disse já não estar tão certo de que o vírus tenha mesmo origem na natureza e sugeriu que mais investigações fossem realizadas.
Já em 26 de maio, o presidente americano Joe Biden solicitou que os serviços de Inteligência do país investiguem as origens da covid-19 e façam novo relatório. Isso ocorre após Biden ter recebido um documento indicando que as pesquisas sobre as duas hipóteses de surgimento do Sars-CoV-2 – contato entre animais infectados e humanos ou acidente em laboratório – são inconclusivas até o momento.
Qual hipótese é a mais provável?
Joe Biden argumentou que, segundo os serviços de inteligência, as duas hipóteses são as mais plausíveis, porém ainda não há informações suficientes para avaliar qual é mais provável. Segundo o presidente, Washington irá trabalhar com parceiros internacionais para pressionar a China a participar de uma “investigação internacional abrangente, transparente e baseada em evidências”.
O que a China diz
Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, acusou os Estados Unidos de tentar provocar estigmatização de seu país e alegou que o estudo científico realizado pela OMS é sério.
“O objetivo deles [EUA] é usar a pandemia para buscar estigmatização, manipulação política e redirecionar a culpa. Eles estão sendo desrespeitosos com a ciência, irresponsáveis com a vida das pessoas e contraproducentes para os esforços conjuntos para combater o vírus”, afirmou.
Investigação da OMS
Lagostins em mercado de úmidos em Wuhan. O mercado de Huanan foi o primeiro local a registrar um surto de covid-19, em 2019. (Foto: Pixabay)
Já em abril de 2020, quando relatórios do Departamento de Estado dos EUA foram revelados, ficou claro que funcionários da embaixada demonstravam preocupação com a biossegurança de Wuhan. Mas a China levou meses para admitir uma investigação internacional.
Somente no início de 2021 uma equipe de pesquisadores foi enviada pela OMS à China. O relatório, feito em conjunto com cientistas do país, foi inconclusivo. O documento apontou apenas que era “extremamente improvável” que o vírus tivesse surgido de um laboratório chinês – o que não exclui por completo a possibilidade de acidente.
Um porta-voz da OMS reiterou à rede BBC recentemente que mais estudos são necessários “em uma variedade de áreas, incluindo detecção precoce de casos e surtos, o papel potencial dos mercados de animais, transmissão através da cadeia alimentar e a hipótese de incidente em laboratório”.
O laboratório citado pela OMS fica próximo ao mercado de Huanan – primeiro foco de infecções por covid-19 no mundo. Defensores da teoria do acidente em laboratório afirmam que o vírus poderia ter escapado e se espalhado no mercado.
Acidentes de laboratório, no entanto, não significam necessariamente que o vírus tenha sido sintetizado propositalmente, mas sim que o patógeno pode ter escapado das barreiras de proteção em um local que estuda agentes que infectam outros seres vivos. Joe Biden deu 90 dias para que o novo relatório seja apresentado.
Com informações de Tecmundo