Uma operação da Polícia Civil de São Paulo apreendeu cinco aeronaves desmontadas no galpão de uma chácara em Joanópolis, no interior do Estado, na última quinta. A suspeita é de que as peças seriam usadas para a montagem de aviões conhecidos como “Frankenstein”, para serem usados pelo crime organizado no transporte de drogas.
O galpão foi localizado durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão expedidos pela 2.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da capital em ação que investiga operações financeiras vinculadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Conforme o delegado Marcos Galli Casseb, do 30.º Distrito Policial (Tatuapé), essas aeronaves remontadas costumam ser utilizadas para o transporte de drogas e outras atividades criminosas. “Temos hoje uma modalidade de transporte de objetos ilegais, como droga, dinheiro e ouro de origem de garimpos ilegais, em que utilizam aeronaves conhecidas como ‘Frankenstein’. São aeronaves montadas com peças usadas, às quais é acrescentado um tanque suplementar para aumentar a autonomia e voar abaixo dos radares dos aeroportos”, disse.
Segundo o policial, os aviões são montados com peças compradas em desmanches ou arrematadas em leilões, a exemplo dos carros conhecidos como “cabritos”. “Chamamos a prática de voo de galinha, que é um voo único. Eles carregam a cocaína, fazem o transporte e, chegando lá, queimam a aeronave para não permitir a identificação”, explicou.
Como o dono do galpão em Joanópolis onde as partes de aviões foram apreendidas não teve o nome divulgado pela polícia, a reportagem não contatou sua defesa. No depoimento, conforme o delegado, ele negou qualquer envolvimento com o crime organizado e disse que as compras dos aviões desmontados foram declaradas à Receita Federal.
INÍCIO NO TATUAPÉ
A operação na chácara de Joanópolis teve início a partir de uma investigação sobre a atuação do crime organizado e lavagem de dinheiro na compra e venda de carros de luxo e apartamentos caros no bairro Tatuapé, na zona leste da capital. “No decorrer de um dos inquéritos, identificamos que havia uma empresa de fachada cujo proprietário era um pedreiro e a empresa dele tinha um avião de R$ 5 milhões, um bimotor que apreendemos em agosto.”
No dia 7 de agosto, agentes do 30.º DP apreenderam o avião Bandeirante Embraer EMB-110 que pertenceria a uma frota comprada por traficantes ligados ao PCC. A aeronave, avaliada em R$ 5 milhões, estava registrada em nome de um piloto vinculado a um narcotraficante que transportava cocaína para cartéis mexicanos e foi alvo da Operação Terra Fértil, desencadeada pela PF em junho.
Segundo o delegado, a investigação da Polícia Civil tem conexão com a da PF. “Estávamos atrás de três aviões, mas só achamos esse de Campo de Marte. Havia suspeita de que um avião estivesse em um hangar de Bragança Paulista e cumprimos um mandado de busca lá. Não achamos o avião, mas apreendemos documentos e vimos que o proprietário era dono desse sítio em Joanópolis, onde fizemos a apreensão das peças e fuselagens. Agora vamos investigar a origem e o destino delas”, disse Casseb.
À polícia, o empresário declarou ter importado as aeronaves parcialmente desmanchadas dos Estados Unidos e que ele as desmontava para vender as peças. “Causa estranheza porque sabemos que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) é altamente rigorosa na reposição de peças em aeronaves. Ele ficou de apresentar a documentação sobre a importação e estamos aguardando.”
DE BRAGANÇA A HONDURAS
A investigação já apurou que um avião teria decolado do aeroporto de Bragança Paulista, no interior do Estado e pousado em Honduras, na América Central, tendo sido incendiado em seguida. A suspeita é de que a aeronave levou uma carga de cocaína. Conforme o delegado, Honduras é um ponto de troca de aeronaves que voam com drogas para o México.
“O dono do sítio confirmou que algumas das aeronaves que ele comercializou caíram com drogas, mas ele alega que elas foram vendidas em transações legais. Vamos ter de apurar isso também”, disse.
As partes desmontadas apreendidas em Joanópolis são dos EUA. O que a investigação vai apurar é qual seria o destino dos aviões. “Ele entra com as aeronaves compradas em leilão nos Estados Unidos, o que pode até ser legal, mas queremos saber para onde vão esses aviões.”
O delegado disse que, assim que receber os laudos da perícia, vai informar a Anac sobre a investigação. Em nota, a Anac informou que agência atua quando há pedido da autoridade policial. “A Anac sempre colabora com seu conhecimento técnico quando solicitada pela polícia”, disse.