Nas últimas décadas, o Brasil tem presenciado uma profunda transformação no cenário religioso. O crescimento vertiginoso dos cristãos evangélicos é um dos fenômenos socioculturais mais marcantes do século 21 no país. Esse movimento, que vai além da fé, tem repercussões profundas na política, economia, cultura e, mais recentemente, no enfrentamento direto com setores do Judiciário.
Crescimento dos evangélicos no Brasil
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1940 os evangélicos eram apenas 2,6% da população brasileira. Em 1950, chegaram a 3,4%; em 1960, a 4%; em 1970, a 5,2%; em 1980, a 6,6%; em 1991, a 9%; e, em 2000, a 15,4%. Em 2010, já eram 22%. Pesquisas mais recentes, como a do Datafolha de 2020, apontam que o número já ultrapassou os 30%. Se mantido esse ritmo, projeta-se que até 2035 os evangélicos se tornarão o maior grupo religioso do país, superando os católicos.
Esse crescimento se dá de forma difusa, abrangendo todas as classes sociais, mas com maior ênfase entre os mais pobres e nas periferias urbanas. Se nos primórdios eram as igrejas protestantes históricas que mais cresciam, nas últimas décadas são as pentecostais e neopentecostais. E a capilaridade das igrejas evangélicas, principalmente as pentecostais e neopentecostais, é notável: elas se fazem presentes onde o Estado muitas vezes falha, oferecendo apoio espiritual, social e emocional.
A projeção, como vista, é de que em dez anos os evangélicos representem cerca de 50% da população brasileira, alterando de forma irreversível o panorama político, social e cultural do país. Com esse crescimento, cresce também sua influência em diversos setores, especialmente na política, onde bancadas evangélicas têm conquistado cada vez mais espaço, e nas ações sociais, onde as igrejas vêm se destacando.
Benefícios do movimento evangélico no Brasil
Longe de se restringirem à esfera espiritual, os evangélicos têm promovido uma série de benefícios sociais que impactam positivamente o país. Igrejas evangélicas, por meio de suas lideranças e membros, realizam ações que envolvem assistência social, combate à criminalidade, resgate de dependentes químicos, apoio a famílias em situação de vulnerabilidade e capacitação profissional.
Longe de se restringirem à esfera espiritual, os evangélicos têm promovido uma série de benefícios sociais que impactam positivamente o país
Nas periferias, onde o Estado é omisso, as igrejas oferecem acolhimento, segurança e estrutura comunitária. Iniciativas como creches, escolas, centros de recuperação e apoio psicológico são comuns. Programas de distribuição de cestas básicas e auxílio a moradores de rua são rotineiros.
Outro ponto relevante é o impacto positivo nas taxas de criminalidade e consumo de drogas. Diversos estudos indicam que pessoas que frequentam regularmente igrejas evangélicas estão menos propensas a se envolverem com o crime, devido ao ensino de doutrinas baseadas nas Escrituras, como a responsabilidade pessoal, a regeneração e a santificação, e o incentivo à vida em comunidade.
Ao longo das últimas décadas, evangélicos têm desempenhado um papel fundamental na educação brasileira, fundando escolas e universidades que aliam ensino de qualidade a valores cristãos. Instituições como os Colégios Batistas e a Universidade Presbiteriana Mackenzie são exemplos de como a fé pode caminhar junto com a excelência acadêmica. Essas escolas e universidades não apenas oferecem uma formação sólida em diversas áreas do conhecimento, mas também promovem princípios como ética, responsabilidade social e respeito à família. Além disso, muitas dessas instituições oferecem bolsas de estudo e oportunidades para estudantes de diferentes origens socioeconômicas. Esse movimento reforça o compromisso evangélico com a transformação da sociedade, valorizando tanto o aprendizado teórico quanto a formação moral e espiritual.
Além disso, o incentivo ao trabalho, à família e à vida moral são características marcantes das igrejas evangélicas. Isso contribui diretamente para a redução de problemas sociais como abandono paterno, violência doméstica e alcoolismo.
O Judiciário e a perseguição aos evangélicos
Apesar dos benefícios sociais e do crescimento legítimo por meio da evangelização e não da imposição, os evangélicos têm se tornado alvo frequente de reações cada vez mais duras de setores do Judiciário, que, sob a bandeira do “combate ao discurso de ódio” e da defesa de supostas minorias, vêm tentando cercear a liberdade religiosa e de expressão dos evangélicos. Essa perseguição não se dá de forma explícita, mas por meio de ações judiciais seletivas, investigações e pressões institucionais que visam intimidar vozes de cristãos que defendem valores bíblicos. Casos emblemáticos ilustram essa tendência preocupante.
Um exemplo recente foi a tentativa de criminalização de cultos presenciais durante a pandemia de Covid-19. Embora atividades tidas como “essenciais” tenham sido permitidas, em diversos estados e municípios os cultos foram proibidos sob ameaça de multa e prisão de pastores. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que prefeitos e governadores tinham autoridade para proibir celebrações religiosas presenciais, o que foi uma afronta à liberdade religiosa garantida pela Constituição.
A atuação do Ministério Público também tem causado muita controvérsia. Em 2020, a cantora e pastora Ana Paula Valadão tornou-se alvo do Ministério Público Federal (MPF) após declarações feitas durante um culto, em 2016, em que afirmou que “a Bíblia chama a relação entre pessoas do mesmo sexo de pecado” e que tais práticas estariam relacionadas a doenças, como o HIV. As declarações, baseadas em passagens bíblicas, foram consideradas por ativistas homossexuais e pelo MPF como “homofóbicas”. O MPF em Minas Gerais chegou a abrir um inquérito para investigar a pastora por suposta incitação ao ódio, mas Ana Paula foi inocentada pela Justiça em 2025. A ação foi um ataque direto à liberdade de pregação e expressão religiosa, instigado pela Aliança Nacional LGBT, e pode ser considerada um “ensaio” para criminalizar trechos da própria Escritura Sagrada, usando o Judiciário como ferramenta de censura religiosa.
Em 2024, a cantora Claudia Leitte, que se identifica como evangélica, ao se apresentar em um evento em Salvador, na Bahia, alterou a letra de uma de suas músicas, Caranguejo, substituindo a referência “saudando a rainha Iemanjá” por “eu canto ao meu Rei Yeshua”, uma menção ao nome hebraico do Messias de Israel, Jesus. A mudança na música gerou enorme repercussão nas redes sociais e meios de comunicação. Apesar de sua intenção de expressar sua fé, Claudia foi atacada por setores da mídia e por ativistas de esquerda, que alegaram que a cantora cometeu “apropriação religiosa” e “desrespeito à cultura popular”, e o Ministério Público da Bahia (MPBA) instaurou um inquérito civil para apurar denúncia de “racismo religioso”. A polêmica gerou pressões para cancelamento de contratos de Claudia Leitte e houve ameaça de ações judiciais por quebra de contrato e “constrangimento ao público”. Apesar das críticas, Claudia Leitte repetiu a alteração da letra em outras apresentações, como num show em Recife (PE).
Outro episódio revelador da hostilidade de setores da mídia e da opinião pública – frequentemente respaldada por decisões judiciais – contra figuras evangélicas ocorreu com a cantora Baby do Brasil. No carnaval de 2024, durante um show do grupo Novos Baianos, Baby, que é pastora, interrompeu a apresentação para fazer um alerta sobre o fim dos tempos, referindo-se à volta de Jesus. Embora tenha falado de forma pacífica e respeitosa, ela foi alvo imediato de ataques violentos nas redes sociais, além de ameaças de ações judiciais por “quebra de contrato” e “ofensa ao público pagante”. O MP foi acionado para investigar se houve “abuso da liberdade religiosa”.
Sob a bandeira do “combate ao discurso de ódio” e da defesa de supostas minorias, MP e Judiciário vêm tentando cercear a liberdade religiosa e de expressão dos evangélicos
Em 2025, Baby também enfrentou críticas intensas quando, durante um culto evangélico em São Paulo, disse: “Perdoa tudo o que você tiver no seu coração aqui hoje, nesse lugar. Perdoa. Se teve abuso sexual, perdoa. Se foi da família, perdoa”. Ignorando o contexto religioso da fala, uma deputada federal do PSol acionou o Ministério Público de São Paulo (MPSP), alegando que tais declarações poderiam desencorajar denúncias e favorecer agressores. Em meio a pressões, o proprietário da casa noturna onde ocorreu o evento cancelou futuros cultos evangélicos no local.
Em 2024, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) instaurou um procedimento administrativo para investigar os “intervalos bíblicos” em escolas estaduais, prática na qual alunos evangélicos se reúnem voluntariamente durante o recreio para atividades como leitura da Bíblia e orações. A ação foi motivada por denúncias do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), que questionou uma suposta violação da laicidade do Estado nas instituições de ensino. Deputados da bancada evangélica da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe) se posicionaram contra a medida do MPPE.
Em 2024, no Piauí, a Justiça condenou um empresário protestante a um ano e seis meses de prisão que, por motivos de fé, recusou-se a registrar o casamento de duas mulheres em 2021, enquadrando sua conduta como homofobia. Para os cristãos, o casamento é uma instituição sagrada, estabelecida por Deus entre um homem e uma mulher, conforme as Escrituras. E obrigar indivíduos ou empresas a participar de cerimônias ou eventos contrários às suas convicções religiosas é uma violação da liberdade de religião e expressão.
Esses são apenas alguns exemplos do crescente cerco judicial contra cristãos que defendem seus valores publicamente, colocando em risco sua consciência e sua fé. Estas decisões mostram como o Judiciário tem interpretado a lei para restringir a atuação dos evangélicos e sua influência social e política, transformando o próprio Judiciário em um “agente de subversão social”.
Por que o Judiciário está perseguindo os evangélicos?
A atuação hostil de parte do Judiciário contra os evangélicos não é acidental. Por um lado, o Judiciário brasileiro foi progressivamente aparelhado por ideologias de esquerda, principalmente durante os anos de governos petistas. A nomeação de ministros com orientação ideológica esquerdista para o STF, a influência de ONGs e organismos internacionais em pautas de “direitos humanos” e a militância de certos setores do MP e da magistratura criaram um ambiente hostil à visão de mundo cristã nesse segmento.
Por outro lado, o crescimento dos evangélicos, com sua defesa da família tradicional, oposição ao aborto, resistência à normatização da homossexualidade, e valores éticos e morais baseados na Escritura, se tornou o principal obstáculo à agenda socialista. Como a esquerda perdeu espaço nas urnas, especialmente com o crescimento da bancada evangélica, passou a tentar barrar o avanço evangélico por meio do ativismo judicial.
O STF, por exemplo, tem julgado pautas polêmicas ignorando o Congresso e os anseios da maioria da população. A criminalização de críticas à agenda homossexual por decisão do STF, sem passar pelo Legislativo, pode ser vista como um exemplo de ativismo judicial que ignora o processo democrático. A esquerda, presente em setores do Judiciário, vê nos evangélicos uma ameaça à implantação de uma nova ordem social baseada no relativismo moral, no socialismo e na destruição dos valores tradicionais. Por isso, a perseguição jurídica seria uma forma de minar essa força, silenciando suas lideranças e limitando sua atuação pública.
Ademais, partidos de extrema esquerda, como o PSol, têm desempenhado um papel ativo na tentativa de silenciar e criminalizar manifestações da fé evangélica no Brasil. Utilizando estratégias políticas e jurídicas, essas siglas frequentemente provocam o MP e juízes a agir contra pastores, cantores e empresários evangélicos que expressam, em público, valores e crenças cristãs. Alegando “discurso de ódio” ou “violação de direitos humanos”, esses partidos buscam enquadrar opiniões religiosas dentro de tipificações penais, ignorando o direito constitucional à liberdade de crença e expressão.
Casos como o de Baby do Brasil mostram como esses partidos esquerdistas, que representam um segmento ínfimo da população, também pressionam o Ministério Público a investigar declarações feitas em cultos ou eventos religiosos, numa clara tentativa de intimidar e restringir o avanço cultural e político dos evangélicos. Tal prática revela não apenas intolerância religiosa, mas também uma estratégia coordenada para deslegitimar um movimento que desafia a hegemonia ideológica da esquerda nas esferas públicas e institucionais.
O futuro dos evangélicos e o desafio da liberdade religiosa
O crescimento dos evangélicos no Brasil é um fenômeno irreversível e com profundo impacto social positivo. No entanto, a ascensão política e cultural desse segmento tem gerado reações de setores ideologizados do Judiciário, que tentam impor limites à liberdade religiosa e de expressão dos evangélicos.
Mais do que presença política, é necessário que a Igreja evangélica clame por um verdadeiro avivamento espiritual no Brasil
A tensão entre o movimento evangélico e o Judiciário é um reflexo do embate maior entre conservadorismo e socialismo no país. Para que o Brasil continue sendo uma nação livre e democrática, é essencial que haja respeito à liberdade religiosa e que o Judiciário atue dentro dos limites constitucionais, sem ativismo ou perseguições ideológicas. A vigilância e mobilização dos evangélicos, assim como sua atuação na política e nas instituições, serão fundamentais nos próximos anos para garantir que seus direitos sejam respeitados e que continuem a contribuir para a transformação social do Brasil.
Mas, mais do que presença política, é necessário que a Igreja evangélica clame por um verdadeiro avivamento espiritual no Brasil. Um avivamento que vá além das estruturas religiosas, e que gere transformação pessoal, arrependimento genuíno e renovação moral. O Brasil carece de uma ação espiritual poderosa da parte de Deus, que traga não apenas crescimento numérico para os evangélicos, mas mudança de vida e de mentalidade, com impactos amplos no país.
Assim, o avivamento que vem do Espírito Santo é a resposta ensinada nas Escrituras para tempos de crise. O avivamento fortalece a Igreja, desperta os apáticos e converte os perdidos. Diante das perseguições e desafios, os evangélicos precisam buscar um derramamento poderoso do Espírito Santo, que una o povo de Deus e traga impacto real sobre a nação. Só assim será possível resistir às pressões externas e continuar a influenciar a sociedade com os valores do Reino de Deus.
Portanto, que oremos de acordo com a regra do Livro de Oração Comum: “Ó Pai Celestial, que fizeste com que a aurora santa brilhasse com a glória da ressurreição do Senhor; aviva em tua Igreja o Espírito de adoção, que nos é dado no Batismo, a fim de que nós, sendo renovados tanto no corpo como na mente, te adoremos com sinceridade e verdade; mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém”.