O Ministério Público do Tocantins abriu investigação contra mais de 300 donos de terras que são suspeitos de desmatamento ilegal. A tecnologia ajudou das possíveis irregularidades
Oito em cada dez donos de terra que desmataram no Tocantins no ano passado não tinham autorização para fazer isso. A conclusão está num relatório do Ministério Público do Estado.
O levantamento foi possível com o uso de ferramentas de geotecnologia. Os técnicos compararam alertas de satélites do MapBiomas sobre onde há desmatamento com dados de cadastros rurais que indicam a localização das fazendas e, ainda, sistemas dos órgãos ambientais que mostram onde o desmatamento estava autorizado.
“A gente então faz o cruzamento com várias outras informações de outras instituições. Do Ibama, do órgão ambiental o Naturatins, então a gente vai fazendo um filtro e vamos, digamos assim, limpando essa informação”, diz o biólogo Marlon Rodrigues.
Com as informações dos satélites, é possível não apenas saber quando e onde houve o desmatamento, mas também identificar o proprietário da área, por exemplo. E até fazer um comparativo sobre como eram as imagens e como estão agora as imagens da área a ser fiscalizada. Em fotos de outubro de 2020 a área estava toda verde. No ano passado, a área não apresentava mais nenhuma árvore.
“É a mesma coisa de uma foto de uma placa de carro de alguém que avança o sinal e tem ali um radar identificando”, relata José Maria da Silva Júnior, procurador de Justiça e coordenador do Caoma.
Em 309 das propriedades monitoradas, a área desmatada é maior do que 20 hectares, ou, 20 campos de futebol. Pelo tamanho da devastação, esses locais se tornaram alvo de investigação.
“Nós separamos as principais propriedades por atividades. Aquelas que a gente entende que têm maiores desmatamentos e maior repercussão no meio ambiente e a gente. No final, se não houver um acordo com os produtores rurais ou com o produtor rural a gente amplifica a nossa atuação, a gente fiscaliza as propriedades in loco e a gente acaba proposto ações criminais ou ações cíveis que têm uma repercussão muito danosa também para o produtor”, ressalta Francisco Brandes Júnior, promotor de Justiça Regional Ambiental do Médio Araguaia.
O levantamento é inédito e levou cinco meses para ficar pronto. O plano do MP do Tocantins agora é reduzir o prazo para elaboração desse estudo.
“A ideia é que a gente consiga fazer isso mensalmente ou até semanalmente, esse é o nosso objetivo”, finaliza José Maria.