Em entrevista a jornalistas nesta quarta-feira (1º/9), o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) admitiu a chance de “algum racionamento” no Brasil em razão da crise hidroenergética que o país atravessa. É a primeira vez que uma autoridade do alto escalão do governo admite a possibilidade.
“O que eu tenho acompanhado é que o governo tomou as medidas necessárias aí: criou uma comissão para acompanhar e tomar as decisões a tempo e a hora no sentido de impedir que ocorra isso aí que você colocou, que haja apagão. Agora, pode ser que tenha que ocorrer algum racionamento. O próprio ministro falou isso, né?”, disse o general ao chegar em seu gabinete na Vice-Presidência.
Durante pronunciamento em rede nacional de rede e televisão na noite de terça-feira (31/8), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu envolvimento de toda a sociedade para afastar o risco de apagões e racionamento. O ministro, porém, não citou a palavra “racionamento” em sua fala de cerca de 5 minutos em cadeia nacional de rádio e TV.
“Para aumentarmos nossa segurança energética e afastarmos o risco de falta de energia no horário de maior consumo, é fundamental que a Administração Pública, em todas as suas esferas, e cada cidadão-consumidor, nas residências e nos setores do comércio, de serviços e da indústria, participemos de um esforço inadiável de redução do consumo”, defendeu o ministro.
Segundo Albuquerque, “o empenho de todos nesse processo é fundamental para que possamos atravessar, com segurança, o grave momento energético que nos afeta, para atenuar os impactos no dia a dia da população e também para diminuir o custo da energia”.
Bandeira de escassez hídrica
Também na terça, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a criação da “bandeira de escassez hídrica”. O novo valor será de R$ 14,20 para cada 100 kW/h consumidos.
A bandeira começa a valer a partir desta quarta-feira (1º/9) e vai durar até 30 de abril de 2022. Antes, a revisão do sistema de bandeira era feita mensalmente. Para os consumidores, o aumento na conta de luz será de 6,78%.
Nesta quarta, Mourão pontuou que a matriz energética brasileira é muito baseada em hidrelétricas. E defendeu dosagem no uso da água destinada a atividades da agropecuária e para o consumo humano.
“Tem que haver uma dosagem nisso aí, né? É algo que, na minha visão, a gente vai enfrentar nos próximos anos aí enquanto não houver recuperação plena dos nossos reservatórios”, assinalou o general.
Questionado se o governo não demorou a adotar medidas, visto que o período mais crítico é outubro e novembro, Mourão respondeu que houve avaliação de que não era necessária decisão mais drástica antes.
“Olha, os decisores eles tinham todos os dados disponíveis, e se não tomaram uma decisão mais drástica antes é porque na análise de risco que fizeram não era o caso. Eu veja dessa forma”, pontuou.
Ministro pede redução do consumo
Em seu pronunciamento, além de dizer que a crise hidroenergética “se agravou” e avaliar como “inadiável” o esforço da população para reduzir o consumo de energia, o ministro Bento Albuquerque ainda pediu que equipamentos, como chuveiros elétricos, aparelhos de ar-condicionado e ferros de passar, sejam usados no período da manhã e aos fins de semana.
“Os consumidores que aderirem a este chamado [de redução de consumo] e economizarem energia, serão recompensados e poderão ter redução na sua conta de luz”, afirmou.
O governo anunciou um programa de desconto na conta de luz de consumidores residenciais e pequenos negócios que reduzirem, de forma voluntária, o consumo de energia.
Inicialmente, o programa será válido até dezembro deste ano, mas poderá ser prorrogado, caso necessário.
O desconto vai valer para quem diminuir o consumo de energia em, no mínimo, 10% em comparação ao consumo de 2020. A redução será de até 20%. O desconto será de R$ 0,50 por cada quilowatt-hora (kWh) de energia economizada.
O Brasil vive a pior crise hídrica em 91 anos. As principais bacias hidrográficas que abastecem o país estão secando em razão do baixo volume de chuvas na região dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia no Brasil.