Queira ter a bondade de ler com um pouco de atenção, por gentileza, as frases, meias frases e tentativas de frase feitas abaixo. Sem saber quem disse cada uma delas, você teria todo direito a um chute educado. Numa primeira hipótese, diria que isso só pode ser coisa dita por algum boçal raiz do PT de hoje. Numa segunda possibilidade, que o autor seria um daqueles gorilas tipo débil mental da ditadura militar – para os quais a “IBM”, ou coisa parecida, iria usar o computador eletrônico para reduzir o Brasil à situação de colônia através da tecnologia de vanguarda. Errado e errado.
Quem acaba de dizer isso, perante uma plateia inteirinha de futuros juristas com cara de estarem acreditando no que ouviam é Alexandre de Moraes. Incrível, não? Mas é fato, líquido e certo. Saem o boçal do PT e o gorila da ditadura; em seus lugares entra um ministro do Supremo Tribunal Federal que o Brasil tem hoje. Saem a “IBM” e o seu imperialismo ultrapassado; entram na mira de Moraes a Space X de Elon Musk e as big techs da comunicação com o seu imperialismo da hora.
Os militares brasileiros de 1964 tinham certeza de que a tecnologia de ponta dos microchips e dos computadores americanos iria acabar com o Brasil – ficavam especialmente impressionados com o que ouviam falar sobre o “megacomputador”. Sua proposta era destruir as empresas da área, como tinha sido necessário destruir as saúvas – antes que umas e outras destruíssem o Brasil. Sugestão deles para fazer isso: estatizar no ato qualquer computador que passasse na frente de uma farda.
O resumo do pensamento de Moraes, nisso tudo, é que o Brasil está sob uma ‘ameaça colonialista estrangeira’, que a soma de conquista tecnológica e liberdade de expressão são os maiores inimigos da ‘democracia’ no mundo de hoje e, mais do que tudo, que ‘o Estado’ tem de ‘intervir’
Eis aqui, 50 anos depois, o ministro Moraes, hoje nas funções de Lorde Protetor da Democracia e do Brasil – não previstas na Constituição, mas muito existentes na vida cotidiana – tocando de novo na mesma viola, e sendo levado tremendamente a sério por Deus e todo mundo. Infelizmente, a passagem do tempo não diminui o tamanho da estupidez.
De um arranque heroico de cachorro atropelado a outro, como diria Nelson Rodrigues, o ministro subiu à posição de Inimigo Público Número 1 da liberdade de expressão no Brasil; e como a cada arranque recebia mais aplausos da esquerda, da mídia e de Janja, foi dobrando a aposta. Hoje, em consequência dessa neura, Moraes está se tornando o Inimigo Público Número 1 da Tecnologia – e das big techs.
Vamos às frases – já está mais do que na hora, não é mesmo? O centro de todo o raciocínio de Moraes – caso se queira considerar isso como um raciocínio –, é que as redes sociais, nas quais o povo manifesta livremente suas opiniões aqui e em todo o mundo democrático, são manipuladas pela tecnologia das big techs com objetivos políticos, econômicos e de monopólio. São manipuladas dessa forma, sobretudo, pelo X de Elon Musk.
Seu plano, segundo Moraes, seria fazer uma lavagem cerebral na população do mundo inteiro, incluindo o Brasil, para acabar com “a democracia” e impor em seu lugar uma ditadura universal da “extrema direita”. Para isso, segundo Moraes, Musk se valeria dos avanços extremos da atual tecnologia de comunicações, a começar pelos que são detidos por sua própria empresa, a Space X.
“Por enquanto nós conseguimos manter a nossa soberania. (…) Porque as big techs necessitam das nossas antenas e dos nossos sistemas de telecomunicação. Por enquanto”.
“Não é por outro motivo que uma das redes sociais tem como sócio uma outra empresa chamada Starlink e que pretende colocar satélites de baixa órbita no mundo todo para não precisar das antenas de nenhum país. No Brasil hoje só tem (sic) 200.000 pontos. A previsão é chegar em (sic)30 milhões de pontos, no Brasil. E aí não adianta cortar antena.”
“É um jogo de conquista de poder (…) e se a reação não for forte agora vai ser muito difícil conter depois”.
O ministro Moraes diz que Elon Musk, entre outras coisas, vai usar o Starlink para suprimir a soberania do Brasil para, então, impor aqui o seu regime ditatorial particular – ou em parceria com as big techs, não ficando claro em nenhum caso porque, no fim das contas, ele e elas querem suprimir a soberania do Brasil. Não faz nexo, mas e daí? A plateia não quer pensar; só quer acreditar e, para quem está decidido a acreditar qualquer coisa serve.
O resumo do pensamento de Moraes, nisso tudo, é que o Brasil está sob uma “ameaça colonialista estrangeira”, que a soma de conquista tecnológica e liberdade de expressão são os maiores inimigos da “democracia” no mundo de hoje e, mais do que tudo, que “o Estado” tem de “intervir” – agora não só mais no conteúdo das redes, mas também nos aparelhos de tecnologia que o cidadão pode ter e operar. É a criminalização das antenas.
Tudo se concentra, no fundo, nas palavras mais indignadas que Moraes disse em toda essa sua babilônia. “Aí não adianta cortar”, alarma-se ele. É esse o Brasil de Moraes, do STF, de Lula e dos seus subúrbios. Ou a gente pode “cortar” – ou não interessa.
*Com informações revistaoeste