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MONOPÓLIO DIGITAL: Cade acatou o pedido do Grupo Globo e vai julgar inquérito contra Google por exibição de notícias na sua ferramenta de busca

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Para o Grupo Globo e a ANJ, big tech prejudica acesso a sites jornalísticos ao reproduzir informações de veículos em sua própria ferramenta de busca

Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) analisa na sessão desta 4ª feira (11.jun.2025) um inquérito administrativo que investiga se o Google adotou práticas anticoncorrenciais em seu sistema de busca.

Grupo Globo e a ANJ (Associação Nacional de Jornais) dizem que a big tech publica informações noticiosas em sua própria ferramenta de busca, diminuindo o acesso a sites jornalísticos.

O caso começou em 19 de setembro de 2018. O Cade foi acionado para que o Google fosse investigado por supostas práticas de “scraping” – o nome dado à coleta automatizada de informações de sites de notícias.

A ANJ contribuiu com argumentos contrários à big tech. Segundo a associação, a plataforma faz “raspagem” na internet para publicar informações na própria ferramenta de busca, como os resultados de jogos de futebol, as cotações das moedas e a previsão do tempo.

O Cade investiga se há eventuais abusos do Google em termos concorrenciais nos mercados de busca e notícias. Na prática, ao fornecer informações factuais, a big tech poderia diminuir o acesso aos sites de notícias. A ANJ afirmou que houve queda da audiência.

Em 3 de dezembro de 2024, a Superintendência-Geral do Cade arquivou o caso. Na ocasião, disse haver “insubsistência dos indícios de infração à ordem econômica”. Em nota técnica, acrescentou que a análise realizada demonstrou que a mudança de design dos produtos Google relacionados à busca por notícias “não pode ser considerada anticompetitiva, não havendo de se falar em inovação predatória”. Eis a íntegra (PDF – 446 kB).

Em 28 de março de 2025, a conselheira Camila Cabral Pires Alves recomendou ao Tribunal do Cade que o processo fosse destravado. Eis a íntegra (PDF – 369 kB). O pedido foi aceito.

O conselho discute se a suposta “raspagem” de dados jornalísticos de outros sites pelo Google faria com que o conteúdo mais relevante aparecesse em sua página de busca, desencorajando o acesso ao site jornalístico pelos consumidores.

O que a análise vai definir é se há “conduta exploratória” do Google ao exibir conteúdo jornalístico de terceiros em seus ecossistemas, sem qualquer compensação financeira aos produtores das informações.

Além disso, o Google será investigado por suspeita de “conduta exclusionária”, atrelada à alavancagem da plataforma. Em outras palavras, o Cade analisa se o Google Search ou o Google News permitem aos usuários o consumo de informações diferentes sem a necessidade de acessar os sites dos veículos de comunicação.

A conselheira disse que o caso foi discutido sob a ótica dos direitos autorais ou questões concorrenciais em outros países. Autoridades de Bélgica, Alemanha, Espanha, França e Austrália “analisaram aspectos relacionados à atuação do Google, levando a diferentes desfechos, incluindo acordos e ajustes legislativos”.

E completou: “Essas discussões refletem preocupações com o mercado digital e com o equilíbrio entre os interesses das plataformas e dos editores de conteúdo. Como pode ser visto, discussões envolvendo a atuação do Google no segmento jornalístico resultaram na atuação de autoridades concorrenciais em jurisdições como França e Austrália”.

DEFESA DO GOOGLE

Questionado sobre o tema, o Google declarou dar condições para os sites excluírem o conteúdo dos resultados temáticos de notícias sem que sejam retirados dos resultados orgânicos de busca. Segundo a defesa, caberia aos meios jornalísticos decidir se o conteúdo será ou não exibido na plataforma.

big tech declarou que os sites de notícias não podem alegar estar sofrendo “scraping” de seu conteúdo, porque a adesão seria consentida e voluntária.

O Google não atua no segmento de jornalismo, não emprega jornalistas, tampouco redige artigos destinados à publicação, razão pela qual não possuiria incentivos, tampouco teria a intenção de prejudicar a atividade econômica dos sites de notícia”, disse a defesa.

O desenvolvimento de ferramentas de buscas temáticas se deu para atender a um desejo do usuário, segundo o Google. Os internautas passaram a “demandar resultados mais atualizados em relação aos antigos links azuis, como tradicionalmente se fazia”.

FERRAMENTA DE PESQUISA DO GOOGLE

O Google afirmou que a ferramenta de pesquisa opera mediante um procedimento trifásico de:

  • rastreamento;
  • catalogação; e
  • classificação.

Para a plataforma, o modelo operacional não corresponde à prática de “scraping”, mas “tão somente de regular funcionamento de sistemas de busca”. A big tech declarou que outras empresas, como o Bing e Yahoo, utilizam as mesmas tecnologias.

O Google disse ter uma prática regular de “crawling”, um rastreio para posterior classificação e apresentação. Afirmou que busca auxiliar os sites de notícias, tendo criado a “Google News Initiative”, que financia veículos digitais de comunicação.

A ASSOCIAÇÃO CONTRA A BIG TECH

A ANJ disse que buscou “solução amistosa” com o Google a respeito da indexação das notícias de seus associados em 2010. Afirmou que, em 2013, a implementação do toolbelt teria tornado “impossível bloquear o acesso do robô de busca do Google ao conteúdo dos sites”.

toolbelt é uma aba separada nos resultados orgânicos de busca, que exibe só resultados temáticos específicos. A ANJ declarou que os conteúdos criados pelos sites de notícias são reproduzidos no Google Notícias sem autorização ou termo de cessão.

A defesa dos jornais disse que os conteúdos publicados pelo Google não resultam geram acesso posterior aos sites originais, ficando o tráfego restrito à plataforma. Defendeu que a diminuição dos acessos nos sites de notícias foi registrada desde a introdução da aba “Notícias” no Google Search.

A associação defendeu que não é viável um jornal “se manter competitivo e continuar a produzir conteúdo de qualidade sem a visibilidade que o Google proporciona”.

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