Pais e mães denunciaram a rede municipal de ensino em Manaus após os filhos não receberem o fardamento escolar neste ano, mesmo após a Secretaria Municipal de Educação (Semed) gastar mais de R$ 8,5 milhões. A informação é do Radar Amazônico. A pasta possui um orçamento de R$ 2,8 bilhões estimado para este ano.
“Nunca receberam farda, nunca receberam kit escolar, nada, nunca receberam nada. Desde quando eles começaram a estudar aqui, nunca receberam nenhum tipo de material escolar da prefeitura”, disse o morador Valdriane Fernandes Vales, que tem três filhos matriculados na Escola Municipal José Augusto Roque da Cunha, localizada no Monte das Oliveiras, zona Norte da capital.
Descaso
Na zona Sul da cidade, Márcia da Silva Pizano, que é tia de uma criança com transtorno do espectro autista (TEA), relata que não só faltam uniformes como mediadores nas salas de aula do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Dr. Fernando Trigueiro no Japiim, zona Sul da capital.
“A diretora informou que nunca mandaram [fardas] e que se quiséssemos eles vendem a R$ 25 reais cada peça [calça e camiseta]. […] Na questão do mediador, durante uma reunião com a pedagoga foi informado que teríamos que ter sorte para conseguir, pois a Semed abrange centenas de crianças”, disse Márcia, que afirma que já chegou a ser expulsa da instituição por tentar acompanhar o sobrinho dentro da sala de aula.
A denunciante também reclama de como a gestão de David Almeida vem usando as crianças de escolas municipais para fazer mídia e ganhar popularidade nas redes sociais.
“Esse ano a mulher do prefeito foi na escola e não passaram nada [dos problemas da instituição] para ela, apenas puxa saquismo!”, disparou Márcia, que enviou um vídeo que mostra o momento em que a primeira-dama interrompe a aula para fazer uma sessão de fotos com as crianças.
Uma outra mãe relatou o mesmo problema em outra unidade da rede municipal de ensino, mas por medo de represálias ela prefere não ter seu nome divulgado.
“Eu nem lembro qual foi o último ano que meus filhos receberam fardamento. Mas eles [direção da escola] cobram que o aluno use farda, mas eles não dão mais. Eles dão o prazo de um mês para comprarmos a farda ou uma blusa branca, sendo que só a camisa da farda da escola custa R$ 45 reais. Com relação ao mediador do meu filho, desde o ano passado que eu continuo brigando e não veem, mas nas mídias você vê a Amanda [gestora da Semed], antes era Dulce [ex-titular da pasta], e agora o Júnior [novo titular] todo mundo falando só as mil maravilhas, mas a realidade é bem diferente. Com relação à sala de educação especial, como todo mundo fala, nessa escola, o MEC liberou a verba, veio, o material está lá em um depósito e não funciona. Não abriu a sala para as crianças deficientes”, disse.
Função do mediador
Um mediador escolar é um profissional que atua como ponte entre o estudante com necessidades educacionais específicas e o ambiente escolar, para garantir que esse aluno tenha acesso pleno ao processo de aprendizagem, de forma inclusiva e respeitosa às suas particularidades.
Contratos milionários
Mesmo com as crianças sem farda e com os pais tendo que arcar com os próprios custos para comprar os uniformes, a Prefeitura de Manaus contratou duas empresas para fornecerem esse material aos alunos da rede pública municipal, sendo a L.P. do Valle Comércio e Fabricação de Roupas Ltda, que possui um contrato de mais de R$ 5 milhões para fornecer camisas e a Confetextil Ltda que foi contratada por R$ 3 milhões para fornecer bermudas para atender os alunos matriculados nas Unidades Educacionais da Secretaria Municipal de Educação – Semed.
O que chama atenção é que segundo dados da Receita Federal, as duas empresas bem próximas, ambas estão localizadas no Vila da Prata, entre as ruas Promécio e Rubídio. No quadro de sócios da L.P. do Valle aparece o nome de Leonardo Perrone do Valle, enquanto na Confetextil o sócio é Dany Kaiton Pinho dos Santos, cabeleireiro famoso e requisitado por mulheres da alta sociedade.