Apesar da severa seca dos últimos 100 anos, prefeituras de municípios amazonenses já gastaram pelo menos R$ 2,77 milhões com cachês de artistas do estilo musical chamado ‘piseiro’. O subgênero do forró é a preferência dos prefeitos. Os artistas Zé Vaqueiro, Xand Avião e João Gomes estão entre os mais bem remunerados. Cinco municípios que gastaram com essas contratações estão entre os 60 que enfrentam emergência devido à severa estiagem que afeta mais de 600 mil pessoas no Estado. As informações foram divulgadas pelo site Estadão e ganharam ampla repercussão nas redes sociais nesta sexta-feira (27).
Zé Vaqueiro, conhecido pelo sucesso “Volta Comigo BB”, recebeu quase R$ 1 milhão por suas apresentações em Tabatinga e Manacapuru. Xand Avião e João Gomes também receberam R$ 500 mil cada um por suas performances na ExpoFest 2023, um dos principais eventos do calendário local, na cidade de Itacoatiara. Todos os shows foram contratados sem licitação. Não se observa qualquer irregularidade nos espetáculos, no entanto, as despesas ocorrem em um período no qual os municípios necessitam de recursos para lidar com as consequências da estiagem severa que enfrenta o Estado.
Atrações nacionais foram contratados pelas prefeituras de Tabatinga, Manacapuru, Itacoatiara, Nova Olinda do Norte e Novo Aripuanã. Todas estas cidades em situação de emergência desde setembro, conforme a Defesa Civil do Amazonas. As ações de Defesa Civil, totalizam R$ 1,9 milhão com recursos do Estado e Governo Federal.
Novo Aripuanã, um município de 26 mil habitantes às margens do Rio Amazonas, teve seu estado de emergência reconhecido em 2 de outubro deste ano. Pouco depois, em 20 de outubro, foram solicitados R$531,05 mil para “ações de proteção e Defesa Civil” em benefício da prefeitura local, comandada por Jocione Souza (PSDB). No entanto, no final de agosto, a cidade realizou a edição de 2023 do Festlendas, com contratação dos artistas George Japa (por R$ 47 mil) e Israel Novaes (por R$ 238,6 mil).
Críticas
Nas redes sociais, o deputado federal Amom Mandel (Cidadania) questionou se os prefeitos estão desconectados da realidade e enfatizou que a população local sofre os efeitos da pior seca dos últimos 100 anos.“Sério isso?! Enquanto buscávamos apoio do governo federal para lidar com as queimadas e a seca no Amazonas, os prefeitos dos interiores estavam planejando festas[…] Parece que esses prefeitos estão em um mundo paralelo. Será que a população estava precisando disso ou de insumos básicos? Enfrentamos a pior seca já vivida nos últimos 100 anos, mais de 608 mil amazonense atingidos de maneira direta, e essa é a medida tomada?”, criticou.
Alguns internautas criticaram o que chamaram de “velha política do Pão e Circo”, referindo-se à prática de distrair a população com entretenimento enquanto problemas essenciais são negligenciados. Outros ressaltaram que as pessoas mais afetadas pela seca não têm acesso a essas festas e questionaram se essas celebrações atendem às necessidades reais da população. Outra preocupação levantada foi a falta de controle e fiscalização, com a percepção de que denúncias não levam a medidas efetivas.
Seca afeta 600 mil pessoas
A seca já afeta pelo menos 608 mil pessoas no estado do Amazonas, sendo a pior dos últimos 100 anos. Apenas três municípios não estão em situação de emergência, de acordo com a Defesa Civil. A maioria deles teve o estado de emergência decretado pelo governo estadual em setembro. Vários rios atingiram a cota mínima histórica e causaram dificuldades no transporte de pessoas e no acesso a mercadorias.
Em Manaus, a estiagem é a pior registrada em 121 anos, com o rio Negro atingindo níveis históricos diários de menor volume de água desde 1902. Até o momento, R$ 628 milhões foram investidos para combater os efeitos da seca no estado, entre recursos para o Corpo de Bombeiros, dragagem dos rios, assistência de saúde e apoio aos municípios afetados, além do adiantamento de emendas parlamentares no valor de R$ 100 milhões para o Amazonas.
*Com informações do site Estadão