A cidade de Manaus é conhecida por diversos fatores, como o Teatro Amazonas, a Zona Franca, o encontro dos rios ou como sendo a porta de entrada para a floresta amazônica, mas nem sempre foi desta forma. Com 353 anos de história, o município, hoje capital do Amazonas, passou por diversas mudanças desde a fundação em 1669.
Com uma existência que percorre quatro séculos, a história da cidade é relatada em três momentos, pela professora e pesquisadora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Dra. Maria Evany Nascimento: a fundação, o ciclo da borracha e a criação da zona franca.
Fundação
O contexto da fundação de Manaus é o Brasil Colônia, a preocupação da coroa portuguesa em ocupar espaços e territórios no norte do país é a origem da construção de um forte em 1699 (onde hoje é localizado o Porto de Manaus), como explica a pesquisadora.
“Nós estamos falando desse período do século 17, que ainda é o processo de colonização dessas terras brasileiras. São os portugueses que chegam aqui para fazer essas construções, então tem o Forte do Presépio em Belém e tem o Forte da Barra do Rio Negro, aqui onde vai surgir posteriormente a cidade de Manaus. Então, vai ser uma organização militar para se construir fortalezas para controle dessas terras que são de posse da coroa portuguesa”, explica Evany.
Manaus não foi a primeira capital da região que atualmente se configura o estado do Amazonas, “era de Barcelos, que vinha a administração para os outros cantos do Amazonas, e posteriormente, esse poder administrativo passou a ser Manaus, porque marca geograficamente essa confluência dos rios e do comércio”, explica Evany.
Apenas em 1808, os registros históricos apontam que Manaus passa a ser a sede administrativa da Capitania de São José do Rio Negro (atualmente estado do Amazonas e parte de Roraima).
A região, no entanto, não era vazia, povos nativos ocupavam o território e participaram do processo de urbanização do espaço, que inicialmente era uma aldeia, como informa a professora.
“Antes disso, a gente tinha diversas populações indígenas que habitavam esse mesmo espaço. A partir dessa fortaleza vai se instalar essa população indígena, soldados, trabalhadores que vêm da Europa e de outros lugares. Nesse adensamento, que inicialmente é uma aldeia, vai crescendo até se tornar uma vila, e depois que nós vamos ter essa configuração urbana maior, a partir de 1848, que vai ser a cidade da Barra do Rio Negro”, afirma a professora.
Ciclo da borracha
Após eventos como a Independência do Brasil, em 1822, e a Proclamação da República, em 1889, a cidade de Manaus vive o auge do ciclo da borracha e é nesse período que a cidade experimenta o primeiro momento de forte desenvolvimento, como explica a pesquisadora.
“Um dos grandes períodos é o período chamado de Belle Époque, que é a explosão desse primeiro grande ciclo econômico, que é quem vai gerar o financiamento para a cidade que nós vamos ver construída nesse final do século 19, início do século 20”, afirma a pesquisadora.
Esse período da história é marcado pela construção de icônicas obras da cidade, como o Teatro Amazonas, em 1896. Uma revolução arquitetônica é iniciada em Manaus tendo como modelo a cidade de Paris na França. Segundo Evany, esse desenvolvimento foi possível graças à gestão do governador do Amazonas, na época, Eduardo Ribeiro, e os recursos trazidos pelo ciclo da borracha.
“Vem uma administração que junto desses empresários vão transformar o que era uma aldeia, uma vila, com as suas casas cobertas de palha, em um espaço que traz elementos dessa cultura europeia, porque nesse final do século 19, nós vamos ter como o local que vai inspirar a modernidade no mundo todo que é Paris”, relata a professora.
Após o pico do ciclo da borracha, em 1910, a cidade viveu uma depressão econômica, como explica Evany. “Nós vamos ter uma datação de 1920 até 1960, como esse impacto econômico, esse momento que a cidade viveu uma depressão, uma crise”. É nesse contexto que uma nova matriz econômica surge na capital do Amazonas: o Polo Industrial de Manaus.
Zona Franca
Criada em 1957 e reformulada em 1967 pelo Governo Federal, a Zona Franca de Manaus concedeu a empresas incentivos fiscais para que se instalassem no Polo Industrial de Manaus (PIM). Segundo a pesquisadora, esse momento caracterizou um novo ciclo econômico e um grande crescimento populacional.
“A partir dos anos 60, nós vamos começar a entrar em um novo ciclo econômico. Esses ciclos vão marcar a cidade com inchaço populacional, que é essa migração de pessoas, das pessoas que vieram no período da borracha e depois a partir dos anos 60, principalmente, na década de 70, as pessoas que vieram de vários lugares do Brasil por conta da Zona Franca, dessa explosão de empresas que se instalaram aqui”, relata a pesquisadora.
A nova fonte de recursos da cidade e o fluxo migratório dão início a um novo processo de expansão da cidade. A professora explica que é nesse contexto que novos bairros surgem em Manaus e a arquitetura remanescente do período da borracha dá espaço para novas estruturas.
“É desse período que a gente tem o nascimento de vários bairros mais periféricos, a zona leste cresce muito a partir desse período, e aqui no Centro, nós vamos ter uma mudança muito drástica, porque muitos casarios, os casarões da borracha, cederam o seu lugar foram demolidos para que se construíssem uma nova estética, que eram os grandes edifícios, os prédios, para abrigar esse novo ciclo econômico. Então, a forma da cidade vai se conformando a esse novo período econômico”, conclui a professora.