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Mãe e irmã de Débora Rodrigues apelam por justiça a outros ministros do STF

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Débora Rodrigues dos Santos é mãe de duas crianças e está presa desde 17 de março de 2023, sem condenação

A família de Débora Rodrigues dos Santos, presa há dois anos por pichar com batom a estátua da Justiça durante os atos de 8 de janeiro, se diz esperançosa de que os outros ministros do Supremo Tribunal Federal terão mais sensatez ao julgar o caso da cabelereira.

No sábado, o ministro Flávio Dino lançou seu voto no plenário virtual da Primeira Turma e acompanhou o relator, ministro Alexandre de Moraes, que propôs pena de 14 anos de prisão para Débora Rodrigues. Até a próxima sexta-feira (28), os cinco ministros da Primeira Turma irão registrar os votos: faltam Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.

“Ela chorou, ficou muito triste. Mas como sempre falou, toda essa decisão não a define. Porque sabe dos valores dela, sabe o que fez e que não houve um crime para que haja uma condenação de 14 anos”, relatou Cláudia Rodrigues, irmã de Débora, em entrevista ao jornal Metrópoles. Ela e a mãe de Débora, Maria de Fátima, visitaram a cabelereira neste domingo no Centro de Ressocialização Feminina de Rio Claro, no interior de São Paulo.

Família de Débora espera “sensatez” dos ministros

“Ela tem esperança viva no coração de que os ministros olhem toda essa situação com mais razão. E realmente, pratiquem a justiça. E nós também temos essa esperança, de que os juízes irão julgar com sensatez nesse momento, que é tão delicado no nosso país”, relatou Cláudia Rodrigues.

A família já esperava um voto mais duro do ministro Alexandre de Moraes, ficou triste com o voto de Flávio Dino, mas ainda conta com um senso de justiça dos outros integrantes da Primeira Turma. “Nós apelamos para os demais ministros, para que eles usem a razão, usem a capacidade de julgar com imparcialidade nesse caso. Qual foi o crime? Foi uma pichação? Então vamos julgá-la por esse crime, pela pichação. A Débora não entrou em nenhum prédio público, não causou nenhum tipo de dano permanente, então isso precisa ser levado em conta no momento do julgamento”, sublinhou Cláudia.

Todos os fins de semana os familiares de Débora, que são de Campinas e Paulínia, próximo de Rio Claro, se revezam para as visitas na prisão. A mãe da cabelereira relatou noites de angústia, sem dormir, e o impacto da prisão na vida dos netos, de 10 e 7 anos. “Eles (os ministros) precisam entender o que é o amor ao próximo. Alguns deles devem ter filhos, e eles sabem o que é o amor de filho. A lágrima que eu derramo por ela, ela derrama pelos filhinhos dela. E os filhinhos dela derramam por ela também”.

Filhos de 10 e 7 anos sonham com volta da mãe para casa

“Eles dizem: quando minha mãe chegar, aí nós vamos passear em tal canto. Eles já têm os planinhos deles, de saudade, de partilhar com a mãezinha deles…. ‘quando minha mãe chegar, eu vou para o mercado, mamãe vai comprar isso, assim e assim para mim’. É o desejo deles, a loucura deles é a mãe deles em casa”, contou Maria de Fátima.

Sobre a pichação da estátua com batom, em si, a irmã relatou que Débora está arrependida. “Ela se arrepende, sim. Ela fala que naquele momento foi um ato realmente impensado. Foi no calor das emoções. Ninguém sai de casa com um batom na mão, pensadamente, ah, eu vou ali escrever na estátua”.

O caso da cabelereira Débora Rodrigues tem sido apontado como um dos mais emblemáticos dos abusos nos processos contra os manifestantes de 8 de janeiro, e das penas desproporcionais aplicadas pelo STF. Em casos de pichação, a condenação costuma ser de no máximo um ano e multa; normalmente a prisão é substituída por pena alternativa. Mas Débora, como outros manifestantes, são acusados e condenados por associação criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado por violência e grave ameaça contra o patrimônio da União.

Bolsonaro pede anistia

Na sexta-feira, após Moraes votar por pena de 14 anos de cadeia para Débora Rodrigues, o ex-presidente Jair Bolsonaro reagiu classificando o ministro de sádico, ao propor pena dessa magnitude.

“Ao propor uma condenação de 14 anos à Débora, Moraes em seu sadismo votou para condenar também duas crianças. Não é só a Débora quem irá amargar uma pena injusta e desproporcional de uma década e meia. São os filhos dela, um garoto de 6 e outro de 9 anos, que vão ficar marcados para sempre por essa crueldade”, reagiu.

“Débora, mãe de dois filhos, conta com Deus e depois o Congresso para que tamanha injustiça tenha um fim com aprovação da anistia”, disse Bolsonaro.