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Lula quer regulamentar redes sociais a pedido de Janja, mas ainda não regulamentou nem a Janja

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A verdade é que o governo perdeu a linha. Quer regular o debate público, mas não consegue regular sua própria estrutura

Antes de regulamentar redes sociais a pedido de Janja, Lula deveria começar regulamentando a Janja. Ele não consegue criar e aplicar regras nem dentro de casa. Não existe cargo de primeira-dama no Brasil. Janja não tem função pública. Tudo o que faz – viagens, eventos ou representação internacional – é feito na base da gambiarra institucional. Ela representa o governo sem estar no governo. Atua sem ter nomeação, responsabilidade formal ou qualquer mecanismo de prestação de contas.

E por que não resolver isso? Lula pode. Bastaria dar a ela uma secretaria ou uma função oficial. Mas aí o bônus da exposição viria acompanhado do ônus da responsabilidade. E talvez a conta não compensasse. Hoje, Janja acumula visibilidade sem risco. Fala, aparece, protagoniza, mas não responde por nada. O que ela chama de “protagonismo feminino” é, na verdade, ausência de protocolo. E o “nenhum protocolo vai me segurar” resume bem o espírito: é o improviso como método, o personalismo como política.

O caso da China mostrou isso. O que aqui parece apenas mais uma cena patética do casal presidencial, lá é considerado desrespeito institucional grave. A cultura chinesa tem códigos claros de convivência, e um deles é a preservação da dignidade do outro. Não se expõe, não se constrange, não se confronta publicamente nem entre amigos. Não é apenas uma regra social, é fundamento diplomático. Janja desconhece e tem o dever de conhecer se quer estar na comitiva. O governo finge que não entende e que não tem diplomatas especializados para dar o suporte técnico. O resultado é ruído, constrangimento e prejuízo diplomático.

Mas a pauta é regulamentar redes sociais. Por isso Janja quebrou o protocolo, para falar a Xi Jinping que precisa intervir no Tiktok, que a plataforma chinesa privilegia a extrema-direita. O modelo de regulamentação qual é? A China. Por lá, falar mal do governo pode impedir alguém de viajar ou matricular o filho em uma boa escola. É esse tipo de “regulamentação” que está na mira. E, como ironizou Pedro Cerize, talvez fosse melhor começar censurando a Janja.

A verdade é que o governo perdeu a linha. Quer regular o debate público, mas não consegue regular sua própria estrutura. Quer impor limites ao cidadão comum, mas trata as próprias regras como sugestões opcionais. E, enquanto isso, o Brasil vai se tornando um lugar onde o improviso, a personalização e a bajulação tomam o lugar do serviço público sério.

Querem regulamentar redes sociais? Antes disso, por favor, regulamentem a Janja.

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