Manaus – Um Boletim de Ocorrência (B.O) da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), revela denúncias que apontam o aparelhamento político da Igreja Adventista do 7º Dia (IASD) para favorecer o prefeito de Manaus, David Almeida.
Fiéis criticam que as Igrejas na capital sustentam uma organização administrativa ligada a gestão municipal para captação de eleitores e citam que servidores públicos lotados em cargos de confiança estratégicos e de comando na gestão municipal, igualmente acumulam funções de coordenadores de ministério dentro da Igreja.
Pastores foram atingidos, ao serem destituídos de setores importantes da Igreja, que passaram a ser gerenciados por ‘escolhidos’ do presidente da União Noroeste Brasileira da IASD, Sérgio Alan Caxeta.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma Instituição cristã protestante organizada em 1863 nos Estados Unidos e possui mais de 21.9 milhões de membros no mundo. No Brasil, a Instituição se organiza por meio da Divisão Sul-Americana, onde Uniões administram cada Estado.
O Amazonas é comandado pela União Noroeste Brasileira da IASD, que está sob a liderança do pastor Sérgio Alan Caxeta, eleito presidente em 2019, quando teve início uma série de mudanças dentro da Instituição, em especial no Amazonas. A partir de 2021, veio à tona o perfil das decisões e também os aliados da nova diretoria.
De acordo com denúncias de fiéis, o pastor da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), na época administrada pelo pastor Arlindo Kefler, e as presidências da Associação Central Amazonas (Aceam), à epoca conduzida pelo pastor Waldony Fiúza, além da Associação Amazonas Roraima (AAMAR), que era conduzida pelo pastor Wiglife Saraiva, todos teriam sido vítimas por discordar da forma como essas instituições ligadas à Igreja passaram a ser conduzidas com o viés de aparelhamento político.
Durante um breve pronunciamento, o ex-presidente da Associação Central Amazonas (Aceam), Waldony Fiuza, sugeriu que foi pressionado a deixar o cargo. De acordo com informações, ele teria deixado o cargo em 2021, após discordar da entrada do irmão do prefeito David Almeida.
“Há uma semana eu fui procurado pelo presidente da União Noroeste Brasileira fazendo uma proposta para deixar a minha atividade e ir para outro campo, mas eu entendi que há forma mais digna pelo trabalho prestado a Igreja há quase 9 anos no Amazonas e também há dois anos na Aceam. Levantaram alguns questionamentos e se esse foi o motivo eu gostaria de responder por ele”, disse o pastor.
Com a saída repentina de Fiúza, entre os departamentais, o pastor Disraeli Almeida, irmão do prefeito, assumiu o público Jovem (Desbravadores, Aventureiros, Música e Universitários). Com a mesma missão assumiu Anderson Carneiro, amigo pessoal do ex-secretário da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) e ex-coordenador de jovens na Igreja, Renato Júnior, anunciado no último fim de semana como pré-candidato a vice-prefeito na chapa de David Almeida.
Tanto o irmão do prefeito, quanto Anderson, atendem e coordenam dentro da gestão de Sérgio Alan Caxeta, jovens e adolescentes na faixa etária de 10 a 35 anos, parcela jovem do eleitorado amazonense.
Pela estrutura organizada, parte dos novos membros que passaram a compor a nova gestão da União Noroeste Brasileira da IASD, teve ou ainda tem alguma relação com a gestão municipal.
Em 2020, o diretor da Agência Adventistas e Recursos Assistenciais (Andra), pastor Arlindo Klefer Filho, foi acusado misteriosamente de desviar recursos, por meio de um e-mail sem assinatura encaminhado para o presidente Sérgio Alan Caxeta. Após o recebimento do e-mail, o pastor foi destituído das funções. O caso foi parar na esfera policial, com o registro de um Boletim de Ocorrência (BO).
De acordo com as informações, Arlindo Kefler teria aberto uma conta pessoal para desviar parte do montante doado à Igreja pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O e-mail anônimo e suspeito, pede que o pastor seja demitido.
“O que pode acontecer se essas histórias se tornarem públicas? Como ficaria o nome da igreja e da Adra? (…) Demita esse homem da obra URGENTE ou infelizmente que fez essa denúncia no Ministério Público, Tribunal de Contas e Polícia Federal. Faça o que é correto pastor”, diz o texto do e-mail.
O denunciante não assina e aponta receio de retaliação.
“Meu nome e como fontes estão em sigilo por questão de retaliação. Somos todos membros da IASD”, finaliza.
Arlindo Kefler declarou à época, ao ser indagando por Sérgio Alan Caxeta, que nunca recebeu qualquer pagamento da Unicef e que todos os valores eram depositados diretamente na conta da Igreja. Mesmo assim, Caxeta decidiu destituir Kefler.
Uma auditoria fiscal acabou confirmando que não ocorreram desvios financeiros na Adra. Kefler declarou que sua honra foi manchada perante a Igreja Adventista e também na sua função de pastor.
A Agência Adventistas e Recursos Assistenciais (Adra), é uma organização privada, não governamental e sem fins lucrativos com objetivos assistenciais, caritativos e filantrópicos. É a pasta dentro da Adventista que gerencia a departamental da assistência social em todo o Amazonas e por onde, além de alcançar um grande público, também passa a gama de recursos da Instituição.
A União Noroeste Brasileira da IASD foi questionada sobre a crítica dos fiéis sobre a suposta organização administrativa ligada à gestão municipal para captação de eleitores junto a Instituição, com servidores públicos lotados em cargos de confiança estratégicos e de comando dentro da Prefeitura de Manaus igualmente acumulando funções de diretores da Igreja. O GRUPO DIÁRIO DE COMUNICAÇÃO (GDC) procurou as Uniões responsáveis pela Igreja Adventista por meio de mensagens por e-mail e telefonemas para que respondessem aos questionamentos e os mesmos se recusaram a falar sobre o assunto.
O GRUPO DIÁRIO esclarece que, em nenhum momento, o conteúdo tem objetivo de criticar ou atacar a igreja, mas questionar a atuação de membros diretores que, conforme as denuncias de próprios fiéis e parte de seus membros registrados em delegacia, estão desvirtuando a sua missão, com o uso político em favor de um candidato.
Apesar da grande religiosidade do povo brasileiro a Constituição Federal separa o estado da religião e sua utilização com fins políticos, inclusive para a igualdade de condições na saudável disputa democrática entre os candidatos.
Ratificamos que este espaço continua aberto para que a Igreja se manifeste sobre o assunto em questão.