Leonardo Martins
Brasília, DF (UOL/Folhapress)
Preso nesta quarta-feira (2) pela Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, usou uma credencial falsa de um funcionário que presta serviços ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) remotamente para ter acesso ao sistema do órgão. As informações foram obtidas em investigação da PF e enviadas ao STF.
O que aconteceu?
A PF prendeu na manhã desta quarta-feira, em Araraquara (SP), Walter Delgatti Neto, e realizou busca e apreensão em endereços da deputada federal Carla Zambelli (PL) por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Eles são investigados pela invasão aos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e pela inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão).
Na decisão em que ordena as ações da operação, Moraes escreve que a inclusão de um falso pedido de prisão contra ele e solicitações de soltura de outros presos foi possível porque Delgatti usou uma credencial falsa de um funcionário que trabalhava de forma remota e é vinculado a uma instituição que presta serviços técnicos ao órgão.
Conforme relatou a Procuradoria-Geral da República, citada no despacho de Moraes, Delgatti disse em depoimento que invadiu o CNJ para mostrar fragilidades no sistema.
Encontro em posto com Zambelli
Ainda segundo o relato de Delgatti, a ideia teria sido combinada em setembro de 2022, quando se encontrou com Zambelli em um posto de combustíveis na rodovia Bandeirantes, em São Paulo. O objetivo seria invadir urnas ou sistemas da Justiça Eleitoral para demonstrar fraquezas na segurança.
A peça relata que Delgatti não conseguiu invadir sistemas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) porque o código fonte da urna eletrônica estaria hospedado em um computador offline.
Se não tivesse sucesso, continuou Delgatti, a ideia era obter conversas privadas do celular de Moraes. Ele teria tentado acesso por meio de um funcionário de uma operadora de telefone móvel, mas também não conseguiu.
Segundo Delgatti, Zambelli ainda teria vazado o mandado de prisão falso para o site Metrópoles.
Assessores da deputada federal fizeram pagamentos via Pix, de R$ 13.500, para o hacker Walter Delgatti Neto, de acordo com relatório da Polícia Federal. Por isso, houve quebra de sigilo bancário de todos os envolvidos no caso.
Advogado de Walter Delgatti, Ariovaldo Moreira, informou à reportagem que seu cliente está preso na PF de Araraquara, mas não deu detalhes sobre os próximos passos da defesa.
É a terceira vez que o hacker é preso pela PF. As outras duas ocorreram em 2019, na Operação Spoofing. Solto em 2020 com tornozeleira eletrônica, foi preso novamente em junho de 2023 por descumprir as medidas judiciais, já que afirmou que cuidava das redes sociais de Carla Zambelli, o que era proibido.
Delgatti estava sob uso de tornozeleira eletrônica desde 10 de julho por decisão da Justiça.
Apreensão de armas e objetos
Além de armas, munições, passaportes e dispositivos eletrônicos, Moraes ordenou apreensão de veículos eventualmente encontrados no endereço e nos armários de garagem, dinheiro e bens, como joias, obras de arte e outros objetos, em valores superiores a R$ 10 mil desde que não comprovada cabalmente, no local dos fatos, a origem lícita.
Os fatos investigados configuram os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
Zambelli nega cometimento de qualquer crime e diz que está disposta a cooperar com autoridades.