A Polícia Civil do Amazonas abriu um inquérito para apurar suposto crime de difamação após um documento apócrifo com ataques machistas a Izabelle Fontenele, noiva do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), circular em redes sociais na última semana. As investigações estão sob sigilo. O episódio gerou manifestações de repúdio de políticos e autoridades locais.
O documento ficou conhecido na cidade como “fofoca em PDF”. Sem identificação de autoria, ele lista supostos relacionamentos anteriores de Izabelle Fontenele, lança mão de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana e reproduz fotos e conversas pessoais. Auxiliares de David Almeida, que é evangélico e apoiou Jair Bolsonaro (PL) nas eleições do ano passado, atribuem os ataques à proximidade com as eleições municipais do ano que vem, quando o atual prefeito de Manaus tentará se reeleger. David Almeida não se manifestou sobre o caso. O GLOBO não conseguiu contato com Izabelle Fontenele.
A secretária de Saúde de Manaus, Shádia Fraxe, foi uma das autoridades da capital amazonense a se manifestar. Shádia publicou no domingo um vídeo em suas redes sociais em que repudia a tentativa de “desmoralização da mulher, em seu sentido genérico e pessoal”.
— Qualquer conduta contra uma mulher, que lhe cause dano, constrangimento, sofrimento moral, psicológico ou social, precisa ser repelido e punido. Vivemos democraticamente, mas todos os atos humanos precisam ser amparados legalmente — ressaltou.
Os ataques também pautaram discursos na Câmara de Vereadores de Manaus nesta segunda-feira. O vereador Luis Mitoso (PTB) defendeu uma reação da Casa, caso se comprove envolvimento de vereadores de oposição na divulgação do documento apócrifo nas redes sociais:
— Espero sinceramente que não tenhamos nenhum agente político dessa Casa envolvido nessa situação. Se houver, cabe acionarmos a nossa Comissão de Ética. Essa Casa precisa ser respeitada.
Discursos conservadores
Apesar das manifestações de repúdio aos ataques a Izabelle Fontenele, vereadores homens de diferentes legendas usaram discursos como “serem filhos de mulheres e terem esposas” e de defesa da família para criticar o uso político das publicações nas redes sociais. A Câmara de Manaus tem apenas quatro mulheres entre 41 vereadores.
No plenário, o vereador Sassá da Construção Civil (PT), por exemplo, chegou a citar ter amigas que tiveram um “passado difícil e hoje são grandes mulheres”.
— Você vê na Bíblia, uma prostituta no passado é uma grande mulher no futuro — discursou, ao enfatizar que “passado não interessa a ninguém”.