O ex-ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, demitido há cinco meses pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por suposto assédio sexual, diz que foi alvo de “intriga” política e que a colega de Esplanada, Anielle Franco, o tratou com hostilidade durante a transição.
Entre as vítimas que o acusam está a própria Anielle, que teria sido alvo dele ainda durante a transição de governo, em 2022. Ele negou as acusações.
“Não convivemos durante a transição. Tenho lembrança de ter encontrado Anielle em duas ocasiões. Num jantar, em que minha esposa, grávida, ficou conversando com a ministra. Depois no dia em que fomos anunciados ministros. Não tenho lembrança de ter me encontrado com ela durante os trabalhos”, disse em entrevista ao UOL publicada nesta segunda (24).
A Gazeta do Povo pediu um posicionamento do Ministério da Igualdade Racial sobre as falas de Silvio Almeida em relação à ministra e aguarda retorno.
Silvio Almeida prestará depoimento à Polícia Federal nesta terça (25) sobre as acusações, que envolveriam outras mulheres e que teriam sido confirmadas pela ong Me Too.
O ex-ministro afirma que, num dos episódios supostamente narrados por Anielle, houve uma reunião tensa em Brasília em que os dois teriam divergido sobre o enfrentamento ao racismo nos aeroportos. Além deles, estavam diretores da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Polícia Federal.
“Eu passaria a mão nas pernas de uma ministra numa reunião na frente do diretor geral da PF? Isso é um descalabro. […] Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: ‘Em todo lugar você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula’. Eu me calei. Tinha outro compromisso e saí da reunião”, disse.
Almeida afirma ter relatado a assessores sobre “como era difícil trabalhar com o Ministério da Igualdade Racial e com a Anielle Franco”, que teve uma atitude considerada “desrespeitosa” com ele.
Ele diz ter ouvido fofocas de que Anielle se sentia “incomodada” por conta da atuação dele em temas que seriam comuns aos dois ministérios, mas que tudo não passava de “intriga” política de possíveis adversários e de pessoas que queriam estar em sua posição de ministro. Isso teria afetado a ambos.
“Tem gente especialista, dentro e fora do governo, em criar intriga e vazar para a imprensa. Tanto eu quanto Anielle Franco fomos enredados nessa imundice”, disparou pontuando, depois, que “não fazia parte de nenhum partido ou grupo específico”, e que isso pode ter sido seu “calcanhar de Aquiles quando as intrigas começaram”.
Para Silvio Almeida, Anielle “caiu numa armadilha” de não compreender como funciona a política, que “ela se perdeu num personagem” e espalhou fofocas para tentar desgastá-lo e fazê-lo perder credibilidade “certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de justiça”.
Isso levou a uma crise que, após se tornar público, deixou a Anielle duas opções, segundo o ex-ministro: negar os fatos ou “dobrar a aposta na história inverídica”. “Ela escolheu o caminho da destruição”, afirmou.
“É ingenuidade pensar que cheguei nos lugares aonde cheguei sem angariar adversários, sem que outras pessoas não quisessem estar na minha posição. Tem pessoas que foram demitidas do ministério e apareceram em profunda ligação com pessoas de organizações. […] E ainda parcelas de grupos do movimento negro, que não é homogêneo. Há disputa de espaço, poder e dinheiro”, completou Silvio Almeida.
Ele afirmou, ainda, que documentos comprovaram que havia “alguma relação” do Me Too com o ministério, mas preferiu não aprofundar isso. “Quem vai decidir sobre isso é a Justiça”, emendou.