Um santuário dedicado a Lúcifer, construído pela autodenominada religião Nova Ordem de Lúcifer na Terra, será inaugurado nesta terça-feira (13/8), em Gravataí (RS). Localizada em um sítio de cinco hectares na zona rural da cidade, a instalação contará com uma estátua de Lúcifer de mais de cinco metros de altura, feita em cimento.
Antes do templo, os rituais eram realizados ao ar livre pelos cerca de 100 membros ativos da ordem em Gravataí, que possui aproximadamente 280 mil habitantes e está situada na região metropolitana de Porto Alegre.
A localização exata do santuário, no entanto, é mantida em sigilo por motivos de segurança.
Santuário é “algo com valor inestimável”
A Nova Ordem de Lúcifer na Terra foi criada há cerca de dois anos como uma ramificação da Corrente 72, um grupo de quimbanda independente que se dedica à evolução pessoal e espiritual por meio do trabalho com entidades como Exus e Pombagiras.
Segundo a organização, o objetivo do novo templo é aprofundar o estudo sobre demônios e questionar visões tradicionais, particularmente aquelas impostas pelo cristianismo.
“Uma das coisas que a gente aborda muito dentro da nossa ordem é que os nossos participantes não sejam como ovelhas governadas por um lobo. Aqui a gente quer que as pessoas busquem o autoconhecimento, o respeito, o entendimento”, explica o líder religioso da Nova Ordem de Lúcifer na Terra, Mestre Lukas de Bará da Rua.
Lukas destaca que ter um espaço para cultuar Lúcifer “é algo com valor inestimável”.
“A importância que tem essa imagem para nós, essa estátua, é uma representação do nosso Deus, que é Lúcifer. E para nós, poder ter um espaço para cultuá-lo, para homenageá-lo, para nós é algo com valor inestimável.”
Polêmica nas redes sociais
Nas redes sociais, a iniciativa provocou polêmica. Enquanto alguns internautas elogiaram a construção por promover a diversidade religiosa, outros manifestaram oposição.
Segundo o Mestre Lukas de Bará da Rua, todo o investimento no santuário foi financiado pela ordem, sem envolvimento com dinheiro público.
Em nota, a prefeitura de Gravataí afirma desconhecer o projeto de fundação do santuário e ressalta não ter prestado qualquer suporte financeiro.
“Diante da grande repercussão nas redes sociais e questionamentos à prefeitura, a administração municipal informa que não tinha conhecimento até o momento sobre a criação de um santuário dedicado a Lúcifer na cidade. Não há qualquer vínculo ou recurso público da prefeitura no empreendimento”, diz a nota da prefeitura da cidade, publicada no Instagram.
A repercussão na internet gerou comentários de ódio e ameaças à ordem. “O que mais nos preocupa são as ameaças. Pessoas estão dizendo que vão entrar e botar fogo, que vão dar tiro, que vão dar placadas. Tem muitos comentários assim”, diz Lukas, enfatizando que terá seguranças na inauguração.
“Nós não estamos divulgando o local justamente para poder preservar as pessoas. Imagina se gera uma confusão grande, uma briga. Não é o que a gente quer. É um ambiente sagrado”, afirma.
Quem é Lúcifer
Lúcifer é uma figura complexa, cujo nome e significado variam conforme o contexto religioso e cultural. No cristianismo, o termo “Lúcifer” é comumente associado a Satanás, o anjo caído que, segundo a tradição, foi expulso do céu após se rebelar contra Deus.
Essa interpretação se baseia em passagens bíblicas, como Isaías 14:12, que descreve a queda de um “astro da manhã” (traduzido como “Lúcifer” em algumas versões da Bíblia), embora o contexto original se refira a um rei humano, provavelmente o rei da Babilônia.
No entanto, o conceito de Lúcifer como um ser malévolo não é universal. Em outras tradições, especialmente no período pré-cristão, o termo “Lúcifer” referia-se ao planeta Vênus, conhecido como a “estrela da manhã” devido a sua visibilidade ao amanhecer. Essa interpretação se desvincula da figura demoníaca e se conecta a mitos que exaltam a beleza e o brilho da estrela.
A evolução do mito de Lúcifer reflete a confluência de crenças antigas e a interpretação teológica cristã, transformando um símbolo de luz e conhecimento em um arquétipo de rebelião e queda.
Este personagem tem sido objeto de análise em várias disciplinas, como a teologia, a literatura e a psicologia, sendo utilizado para explorar temas como o orgulho, a desobediência e a busca por poder.
Fonte: Metrópoles