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Em visita técnica a comunidades do Tarumã-Açu, Ministério Público acompanha processo de retirada dos flutuantes

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Proposta não é contestar decisão judicial, que determina retirada, mas considerar inclusão nos autos de outros fatores responsáveis pelos problemas ambientais da localidade

Para alinhar as propostas da ação socioambiental de retirada dos flutuantes do Tarumã-Açú sem prejuízo aos ribeirinhos, o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM), por meio da 50ª Promotoria de Justiça Especializada em Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e Ordem Urbanística (Prodemaph), realizou uma visita técnica com o objetivo de verificar a realidade das 197 famílias moradoras do entorno do Marina do Davi, prejudicadas pela poluição. A ação, articulada pela Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), ocorreu na manhã desta segunda-feira (31/01).

Foram visitadas as comunidades de Fátima, Livramento, Gedeão, Abelha, Agroville, Ebenézer, São Sebastião, Juliano e Vai Quem Quer, onde a comitiva apurou denúncias que não estavam nos autos do processo e puderam ser contestadas com a ajuda de drones, como ausência de ecobarreiras nos igarapés.

Também foi possível constatar a inobservância do poder público no descarte inadequado de resíduos sólidos de produtos químicos contendo chorume, diretamente nas nascentes do rio, oriundos de condomínios de luxo e de ocupações irregulares — cujos encanamentos de esgoto se encontram totalmente expostos, despejando dejetos diretamente no rio.

Em alguns trechos dos igarapés foi verificada, ainda, a abertura de diversos clarões na vegetação nativa, por conta da expansão do perímetro urbano, contrariando o artigo 4º da Lei n. 12.651/2012, que estabelece o Código Florestal e classifica como área de preservação permanente, com a proibição mínima de 100 metros de terra adentro, as faixas marginais de qualquer curso d’água de rios, lagos, igarapés ou nascentes.

De acordo com a promotora de Justiça Lílian Maria Pires Stone, a visita está longe de contestar a decisão judicial, que determina a retirada dos flutuantes, mas considera fundamental que o MP não deixe de incluir nos autos informações sobre outras agressões que estão ocorrendo no ecossistema do Tarumã-Açú. 

“A nossa intenção aqui não é desrespeitar a decisão já proferida, mas possibilitar a execução dessa sentença identificando, exatamente, quais outras variantes culminaram nesse atual cenário”, comentou.

Segundo o defensor público Carlos Almeida Filho, o convite ao Ministério Público se deve à complexidade que o caso exige, isto é, uma abordagem que contemple as múltiplas nuances envolvidas, incluindo aspectos sociais, ambientais e jurídicos, razão pela qual a visita institucional configura um passo relevante para embasar futuras medidas e deliberações.

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Para Sara Guedes, presidente da Associação dos Moradores da Marina do Davi, o local é o único porto que liga as comunidades ribeirinhas da cidade de Manaus, o que tornou ainda mais importante a participação do Ministério Público e da Defensoria na visita técnica. “Sou muito grata e esperançosa. Ao ver a doutora Lílian e o doutor Carlos aqui, sentimos que não estamos abandonados e que essas famílias terão voz. É muito importante olhar pela classe baixa, que são as famílias ribeirinhas que dependem daqui para tudo”, afirmou.

A partir da inspeção, a promotora de Justiça Lílian Stone agendará uma reunião, em conjunto com a Defensoria Pública, para a criação de um protocolo que assegure o cumprimento da sentença da Justiça, sem prejuízo aos ribeirinhos que residem na localidade, e para o alinhamento de estratégias na investigação das novas denúncias verificadas.

Texto: Ramon Oliveira
Fotos: Hirailton Gomes