Senadores e especialistas defenderam, nesta quinta-feira (21), a superação de barreiras legais e tributárias para garantir o aumento da frota de veículos elétricos ultracompactos no Brasil. Semelhantes a quadriciclos, os veículos têm cabines fechadas e capacidade para apenas dois ocupantes. O tema foi debatido em uma audiência pública da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT).
Para o presidente do colegiado, senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL), “gargalos” na legislação de trânsito dificultam a expansão da frota de carros elétricos. Ele cita como exemplo uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que autoriza a circulação dos veículos apenas em áreas urbanas e proíbe o tráfego em rodovias federais, estaduais e do Distrito Federal. Para Cunha, o Brasil precisa se preparar para receber novas tecnologias.
“O preço da gasolina está altíssimo e tem que ser discutido. Mas, se o Brasil inteiro fica olhando apenas para o momento atual, esquecemos de olhar para o futuro. E o futuro não é mais o combustível como conhecemos. Não é mais a gasolina, o álcool ou o diesel. São os veículos elétricos. Nós, no Brasil, temos muito a avançar. Precisamos identificar onde estão os gargalos que são capazes de inibir esse avanço”, disse.
O presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Adalberto Maluf, sugeriu mudanças nas resoluções do Contran.
“A gente vê esse problema em muitas cidades do interior, cortadas por grandes rodovias estaduais e federais. Às vezes, a pessoa não pode passar de um lado para outro da cidade. Se ela cruza a rodovia, está cometendo uma ilegalidade e fica sujeito à apreensão pela polícia”, criticou.
Maluf também questionou as alíquotas de dois tributos cobrados sobre veículos elétricos. Ele citou o exemplo as bicicletas elétricas, que pagam 20% de Imposto de Importação e 35% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
—”Isso não faz sentido num mundo globalizado “argumenta.
O diretor do Departamento de Segurança no Trânsito da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), Daniel Mariz Tavares, reconhece que a regulamentação dos carros elétricos enfrenta “desafios”. Para ele, o Contran está aberto para rever as normas de circulação dos veículos, desde que a segurança dos usuários seja garantida.
“É um desafio muito grande regulamentar essas tecnologias no campo do trânsito e da segurança viária. Mas há espaço para tratar desses temas. A restrição da circulação dos veículos ultracompactos em rodovias vem muito da primeira análise comparativa com os triciclos com cabines. Mas sendo demonstrada a segurança em ambientes urbanos e em vias locais, estamos abertos ao diálogo para aprimorar a legislação”, disse.
Transição
Os carros elétricos respondem por 1,4% das vendas de veículos no Brasil. Na Alemanha, eles já são 28% da frota. Na China, 30%. Para Igor Calvet, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o mundo atravessa “uma transição bastante forte” na mobilidade urbana que pode trazer benefícios econômicos em ambientais. Ele cita como exemplo um projeto desenvolvido no Paraná.
“A cada veiculo elétrico compartilhado que colocamos nas ruas, oito veículos a combustão saíram das ruas. O que significa isso para o poder público? Um custo de manutenção menor e a possibilidade de reduzir sua frota. São 2,4 mil litros de combustível economizado em um ano e cinco meses de projeto. Conseguimos evitar 8,4 toneladas de CO2 na atmosfera”, disse.
Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), Rodrigo de Almeida Vieira Dias, as cidades “estão doentes por causa dos automóveis à combustão”.
“Os veículos elétricos podem e devem ser a solução para essa doença que a gente vive hoje. Durante a greve dos caminhoneiros que ocorreu há alguns anos, em uma semana, a poluição na cidade de São Paulo despencou em 50%. E o volume de atendimentos médicos no sistema de saúde por problemas respiratórios caiu notoriamente. A gente precisa transformar essas tecnologias em algo palpável, concreto, possível e viável financeiramente”, disse.
Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), os fabricantes de veículos elétricos no Brasil “estão por toda parte”. Ele reconhece, no entanto, que o setor ainda atua sem a devida atenção dos Poderes Executivo e Legislativo.
“A mobilidade elétrica tem que chegar no espírito público. A mobilidade elétrica no futuro próximo permitirá que a mobilidade urbana seja gratuita. Até porque o serviço privado vai ser tão barato, que se o serviço público não for gratuito não atrairá mais ninguém”, argumenta.
O professor de Engenharia Elétrica Marcus Tulius Barros Florentino, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), lembra que os motores elétricos são mais eficientes que os propulsores a combustão.
“Falamos de uma eficiência de energia de 90%. Nos veículos que utilizam os combustíveis fósseis, a eficiência gira em torno de 30%. O que significa isso? Estamos falando que 70% da energia demandada pelo motor é dissipada, principalmente na forma de calor. Apenas 30% seria utilizado para utilizar essa energia disponível em movimento” explica.
Fonte: Agência Senado