O Ministério Público Federal pediu a condenação do influencer Júlio Cocielo por conta de uma série de publicações feitas no X, antigo Twitter, entre 2011 e 2018. O MPF identificou nove vezes em que Cocielo teria incorrido na prática de preconceito racial através de suas redes. Segundo o anunciado pelo órgão nesta quarta-feira, o processo encontra-se em sua fase final na primeira instância e teve seu sigilo suspenso em dezembro de 2022.
De acordo com o MPF, caso condenado, o influencer pode pegar uma pena de até cinco anos de prisão. O caso teve início após Cocielo publicar, em meio a Copa do Mundo de 2018, que o jogador francês Mbappé “conseguiria fazer uns arrastão top na praia”. A repercussão negativa da fala fez com que o influencer apagasse cerca de 50 mil tweets de seu perfil e publicasse um pedido de desculpas.
“Ainda que o réu seja humorista, não é possível vislumbrar tom cômico, crítica social ou ironia nas mensagens por ele publicadas. Pelo contrário, as mensagens são claras e diretas quanto ao desprezo do réu pela população negra”, destacou o procurador da República João Paulo Lordelo nas alegações finais apresentadas pelo MPF na 1° Vara de Justiça Federal de Osasco (SP), em novembro deste ano.
“O réu, sem qualquer sutileza, reforça estereótipos da população negra — miseráveis, bandidos e macacos — não havendo abertura, em seu discurso, que permita entrever alguma forma de sátira (…) Não é humor, é escárnio”, diz ainda o MPF.
O MPF apontou outras frases de cunho racista de Cocielo, como: “O Brasil seria mais lindo se não houvesse frescura com piadas racistas, mas já que é proibido, a única solução é exterminar os negros” e “nada contra os negros, tirando a melanina”.
Perda de seguidores e patrocínios
Após a postagem em que relacionava o jogador francês Kylian Mbappé à prática de roubo, Júlio Cocielo perdeu vínculo com patrocinadores como Coca-Cola, Itaú e a empresa Submarino.
Na época, por meio de nota, a Coca-Cola afirmou que a ligação com o Youtuber foi interrompida e que não havia pretensão de realizar novas parcerias com Cocielo. Já o Itaú, em comunicado, afirmou que “repudia toda e qualquer forma de discriminação e preconceito” e substituiu uma peça publicitária especial para a Copa do Mundo em que o influenciador digital aparecia.
O dono do “Canal Canalha”, que atualmente conta com 20,8 milhões de inscritos, perdeu também seguidores após a postagem sobre Mbappé. Segundo informações do site SocialBlade, que mede dados de redes sociais, foi estimado que o influenciador perdeu cerca de 10 mil seguidores ao longo da semana em que o racismo foi apontado pelos internautas.
R$ 7 milhões por dano social coletivo
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) pediu que o youtuber Júlio Cocielo fosse condenado a pagar mais de R$ 7 milhões por dano social coletivo.
Os promotores responsáveis pela ação civil pública contra Cocielo solicitaram ainda a quebra do sigilo bancário do réu em 2018, de forma que fosse subsidiada a sua condenação na obrigação de pagar a quantia imposta (R$ 7.498.302).
Esposa de Cocielo acusada de racismo no mesmo ano
As acusações de racismo contra Tata Estaniecki, esposa de Júlio Cocielo, aconteceram em fevereiro do mesmo ano dos tuítes do influenciador.
A também influenciadora digital usou um adereço de rosto para o Baile da Vogue 2018 que fazia alusão à máscara de Flandres, instrumento de tortura usado contra os negros escravizados, que os impedia de se alimentar e ingerir líquidos.
A blogueira respondeu a uma usuária do Instagram dizendo que foi uma forma de “homenagem aos escravos”. Tata deletou todos os registros do baile temático de suas redes, porém, os prints continuaram a circular no X, ainda conhecido como Twitter na época.
Pedido de desculpas nas redes
Após as acusações, Cocielo publicou um vídeo com o título “Ignorância”, em que afirmou que a postagem se tratou de “um comentário muito zoado, muito mal explicado”. O Youtuber alegou ainda que, após a repercussão negativa, procurou explicações sobre o motivo de ter ofendido tantas pessoas. Segundo o influenciador, ao entender melhor como funcionam o “racismo institucional” e o “racismo velado”, ele compreendeu porque seu comentário foi interpretado como racista.
“A gente só precisa prestar atenção nas estatísticas. Por exemplo, muito negro morre sendo confundido com bandido. (…) A gente só precisa se informar. No meu caso, a minha ignorância foi combatida com conhecimento”, afirmou Cocielo. “Sem querer, espalhei o ódio”.