O grupo majoritário da CPI da Covid quer convocar o embaixador do Brasil na Índia, André Aranha Corrêa do Lago, para prestar depoimento sobre as tratativas entre o governo brasileiro, a Precisa Medicamentos e a empresa indiana Bharat Biotech, desenvolvedora do imunizante Covaxin.
O contrato para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin é alvo de investigação do Ministério Público e da CPI da Covid. A Covaxin é mais cara que outras vacinas já negociadas pelo governo, e as tratativas para a compra do imunizante tiveram a Precisa como intermerdiária, diferente da aquisição de outras vacinas, cuja negociação foi feita diretamente com o fabricante.
Em depoimento à CPI, os irmãos Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, e Luis Miranda (DEM-DF), deputado federal, denunciaram pressões “anormais” para a importação da vacina.
Eles também disseram ter relatado a Jair Bolsonaro suspeitas de irregularidades na negociação. Ao ouvir as denúncias, Bolsonaro teria dito que o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, estaria envolvido no suposto esquema. Barros nega irregularidades.
Essas declarações dos irmãos Miranda embasaram uma notícia-crime contra o presidente da República, apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o senador Humberto Costa (PT-PE), que participou na noite desta segunda-feira de reunião do chamado “G7”, o grupo majoritário da CPI, o requerimento para convocação do embaixador brasileiro na Índia deve ser analisado na próxima quarta-feira (30) pela comissão, junto com outros requerimentos.
O requerimento é de autoria de Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI. Segundo o parlamentar, comunicações do Itamaraty informam que o embaixador André do Lago se reuniu mais de uma vez com Francisco Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos.
“Em diferentes ocasiões foi falado sobre a quebra de oligopólio de empresas tradicionais fornecedoras de vacinas e ainda sobre a articulação junto à Câmara dos Deputados para facilitar a entrada da vacina Covaxin no Brasil. É de extrema importância entender o que de fato foi tratado nessas reuniões, tendo em vista a suspeita de irregularidades no contrato e de favorecimento dessa empresa”, afirmou Randolfe Rodrigues.
Prorrogação da CPI
Em entrevista após a reunião na noite desta segunda na casa do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), Humberto Costa disse que, até a próxima quinta-feira (1º), deve ser apresentado um pedido de prorrogação dos trabalhos da comissão.
Ele afirmou que o pedido já tem as 27 assinaturas necessárias, mas que os senadores ainda querem aumentar a lista de signatários. “A gente quer chegar com uma folga”, disse Costa.
Humberto Costa também comentou a mudança de atitude do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira.
Durante conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, o presidente disse não ter como saber o que acontece nos ministérios do governo.
“Foi muito emblemático, no sentido de que ele [Bolsonaro] teme alguma coisa. O sentimento nosso é de que ele sabia de tudo, absolutamente de tudo”, afirmou Humberto Costa.
Outras convocações
Segundo Humberto Costa, na próxima quarta-feira, além da convocação do embaixador indiano, devem ser votadas as seguintes convocações:
- Robson da Silva, secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde;
- Tulio Silveira, representante da Precisa Medicamentos;
- Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos;
- Antônio José Barreto de Araújo Júnior, ex-secretário-executivo do Ministério da Cidadania;
- Airton Cascavel, ex-auxiliar de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde;
- Regina Célia Oliveira, servidora do Ministério da Saúde;
- Roberto Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde;
- Ricardo Barros (PP-PR), deputado e líder do governo na Câmara;
- Thiago Fernandes, funcionário do Ministério da Saúde;
- Danilo Trento, empresário ligado a Francisco Maximiano, da Precisa.
Os senadores, segundo Humberto Costa, também devem votar novas quebras de sigilo. Um dos alvos deve ser Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.
Fonte: G1