Ednaldo Rodrigues evita falar em público.
Talvez o ‘segredo’ fique entre os presidentes de Federações, que confia.
A vergonhosa goleada para a Argentina, por 4 a 1, já havia ferido profundamente a confiança em Dorival Júnior.
Mas ao checar o planejamento para o jogo, com o coordenador Rodrigo Caetano, o presidente da CBF se revoltou.
E decidiu mandar Dorival embora.
O vivido técnico fez todo o estudo da partida, meses antes do confronto, e apostou que um jogador seria fundamental no confronto.
E baseou sua convocação nele.
Neymar.
Não levou em consideração seu histórico atual, o profundo desgaste físico, aos 33 anos.
Os quase quatro anos sem jogar, acumulando, 42 lesões, contabilizadas as menores.
Não o quis enxergar como um veterano, que não levou a carreira de maneira espartana.
Como, por exemplo Messi e Cristiano Ronaldo.
O meia/atacante foi cortado, sabotando toda preparação do jogo mais importante das Eliminatórias.
O mais representativo.
Veio o vexame da pior derrota em Eliminatórias, em todos os tempos.
4 a 1, com direito a olé e críticas no mundo todo.
Ednaldo já havia dado uma última chance a Dorival, depois do fracasso na Copa América.
O Brasil não chegou sequer à decisão, em uma competição fraquíssima tecnicamente.
O treinador havia treinado por quase um mês o time.
Veio a vergonhosa goleada e a demissão sumária.
Dorival jamais cogitou que Neymar se contundiria, mesmo voltando de um ano e meio parado.
E uma sequência alucinada de sete partidas pelo Santos, pedida pelo próprio jogador.
Agiu como se não tivesse perdido quase quatro anos na carreira, contundido.
Ao mandar Dorival Júnior embora, Ednaldo também questionou o trabalho de Rodrigo Caetano.
Como o coordenador da Seleção também foi tão ingênuo e otimista em relação ao jogador?
O presidente da CBF analisou que desde 2011 a situação é a mesma.
Dirigentes, treinadores, coordenadores e mídia acabaram iludidos por Neymar.
Ele não pedia.
Apenas se aproveitava do fato de ser o único jogador fora de série na Seleção Brasileira.
Jamais o Brasil dependeu de um só atleta.
Por exemplo, em 1958, havia Garrincha, Pelé, Didi, Nilton Santos…
Em 1962, Garrincha, Amarildo, Didi, Zito…
1970, Pelé, Tostão, Rivellino, Gerson, Jairzinho
1994, Romário, Bebeto, Mauro Silva, Mazinho, Dunga
2002, Rivaldo, Ronaldo, Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho
Mano Menezes, Felipão, Dunga, Tite, Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Júnior fizeram de Neymar o ‘centro do universo’ da Seleção.
Os jogadores perceberam que toda a estrutura tática favorecia o jogador, que quis e teve a camisa 10 de Oscar, por exemplo.
E eles se submeteram.
Gabriel Jesus, Fred, Philippe Coutinho, Vinicius Júnior, Richarlison, Rodrygo e tantos outros, corriam por ele.
E preferiam passar a bola a Neymar do que chutar a gol, mesmo livres, durante as últimas Copas do Mundo.
Situação estarrecedora em qualquer seleção do planeta.
Mas que era aceita pela CBF.
Os coordenadores, homens vividos no futebol, como Edu Gaspar e Juninho Paulista, não interferiam.
Assim como Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo del Nero, Rogério Caboclo.
E o próprio Ednaldo Rodrigues.
Não tiveram visão para enfrentar a pressão midiática fabulosa de Neymar.
Os mais de 270 milhões de seguidores nas redes sociais, os patrocinadores de alcance mundial.
A mídia de todo o mundo implorando por uma palavra do jogador.
Daí os privilégios eternos.
Como seu pai entrar no vestiário do Brasil.
Sua família ser a única a se hospedar no hotel da Seleção na Rússia.
Seus parças terem direito a acompanhar os treinos para a disputa da Copa.
Ninguém jamais teve tanta regalia, desde que surgiu a Seleção Brasileira, formada pela primeira vez, em 1914.
Mas Neymar nunca conseguiu ser o líder, o comandante, retribuir nas Copas do Mundo que disputou.
Saiu contundido na melhor delas, em 2014.
Mas em 2018, virou meme mundial por suas simulações, que Tite fazia de conta que não via.
E em 2022, outra vez mal fisicamente, teve todo o privilégio tático e não conseguiu fazer o Brasil ir além das quartas.
Ednaldo percebeu que não seria agora, aos 33 anos, com um currículo de 42 lesões, que merecia ser, de novo, o centro da preparação à Copa dos Estados Unido.
A letargia dos dirigentes passou.
A goleada para a Argentina foi a gota d’água.
Rodrigo Lasmar é o médico da Seleção Brasileira.
E ele tem detalhadamente o assustador histórico de lesões do jogador.
Ednaldo percebeu que, depois da Copa do Mundo do Catar, ele atuou apenas quatro partidas pelo Brasil.
Quatro!
Ficou de fora de 17 outros confrontos.
A contusão que acabou de sofrer no Santos o deixará de fora por pelo menos seis semanas.
O prazo que os presidentes de Federações comentam é de oito semanas.
Ou seja, dois meses.
Ele estará fora dos confrontos contra Equador e Paraguai, quando o Brasil já deverá ter novo técnico, de acordo com o próprio Ednaldo.
Ou seja, o treinador que deverá chegar ao Mundial já não contará com Neymar, logo de cara.
Quer o cargo seja dado a Jorge Jesus, Carlo Ancelotti ou qualquer outro.
Demorou, mas chegou o grito de liberdade da Seleção.
Chega de Neymardependência, de acordo o atual presidente da CBF.
Não é uma afronta.
Só a constatação do que muitos insistem em não enxergar.
Neymar é um veterano e que na Copa estará com 34 anos e quatro meses.
E que já teve privilégio tático em 2018 e 2022, quando não precisava marcar ninguém.
Ou seja, a ilusão de que poderá repetir o que Messi fez no Catar, pela primeira vez, é irreal.
Tite fez com que o time todo corresse por ele em dois Mundiais.
E fracassou.
Ednaldo Rodrigues se reelegeu até 2030.
Ele sentiu o peso do fracasso como presidente em 2022.
Politicamente se fragilizou a ponto de perder o cargo na Justiça.
O recuperou, se reelegeu.
Mas sabe o quanto é importante para a própria sobrevivência, o Brasil ir muito bem no Mundial.
Entre a própria sobrevivência e Neymar, o dirigente opta por sobreviver.
Ele não aceitará o planejamento para o Mundial depender, de novo, deste jogador.
A aposta será no conjunto, na estrutura tática, com uma equipe competitiva, vibrante.
Neymar, se estiver bem fisicamente, estará no grupo dos Estados Unidos.
Mas não como ele mesmo sonhava.
Camisa 10, capitão, com o time dependendo dele para respirar.
Ednaldo quer um treinador que não se submeta.
Sem meias palavras, Jorge Jesus o dispensou do Al-Hilal, por falta de condições físicas.
Carlo Ancelotti não dá privilégios táticos para ninguém no Real Madrid ou por onde passou.
A um ano e dois meses do início da Copa do Mundo, a cúpula da CBF despertou.
Chega de Neymardependência.
De submissão.
Desta vez, de verdade, não só no discurso.
Até porque não há a menor certeza que fisicamente ele poderá sequer jogar o Mundial.
Foram 14 anos de esperança, de submissão a um só atleta.
O Brasil pagou caro pela aposta.
E promete se preparar para o que parecia impossível.
Não depender taticamente de Neymar.
O Brasil nunca trabalhou a sério esta circunstância, desde 2011.
As contusões e o desgaste exagerado para um atleta de 33 anos tiveram consequências.
Fizeram a CBF acordar.
Chega de Neymardependência.
Até que enfim…
Eisenbahn
Tempo de qualidade merece uma cerveja de qualidade