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Como Ednaldo Rodrigues derrubou Ronaldo, conseguiu amplo apoio e será reeleito na CBF

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Baiano de 71 anos não tem concorrente após Fenômeno desistir da candidatura e seguirá no cargo mais importante da entidade que comanda o futebol brasileiro até 2030

Ednaldo Rodrigues será reeleito presidente da CBF nesta segunda-feira, 24. A eleição é uma formalidade, já que o baiano de 71 anos não tem adversários no pleito depois que Ronaldo Fenômeno se retirou da disputa. O dirigente amealhou amplo apoio e continuará no cargo mais importante da entidade que comanda o futebol brasileiro até março de 2030.

A chapa de Ednaldo foi assinada pelas 27 federações estaduais e por 13 clubes da Série A do Brasileirão, além de mais 13 da Série B. Entre os times da elite nacional, Bragantino, Corinthians, Fortaleza, Flamengo, Fluminense, Mirassol e Santos foram os únicos que não subscreveram a candidatura do atual presidente, mas isso não significa que não estão o apoiando. Presidente de todos esses sete times vão votar dirigente, embora alguns tenham ressalvas quanto ao trabalho do cartola.

A chancela para a candidatura foi obtida por Ednaldo na noite da última quarta-feira, 19. Para articular o apoio, o presidente teve uma reunião com os presidentes dos clubes da Liga do Futebol Brasileiro (Libra), no Rio, neste mês. Antes, em fevereiro, conversou com os representantes da Liga Forte União (LFU).

“A gente vai procurar fazer um mandato que busque cada vez mais o fomento do futebol brasileiro, lutando pela purificação desse futebol e pela inclusão social e principalmente no combate ao racismo e a todo tipo de discriminação”, prometeu o cartola baiano, em declaração à CBF TV.

Ednaldo derrubou Ronaldo, que se viu sem respaldo de uma federação sequer e não teve outra opção senão a desistência. O único presidente de federação que ensaiou apoio ao ex-jogador Foi Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista de Futebol. Nunca, porém, publicamente. Ele já é um dos oito vices da CBF atualmente e foi opositor de Ednaldo no passado. Depois, voltou a apoiar Ednaldo e será novamente um dos vices.

Eleição à presidência com candidato único repete um padrão na CBF. A última vez em que houve duas chapas foi 1989, quando Ricardo Teixeira derrotou o então vice-presidente da entidade, Nabi Abi Chedid.

Os vices de Ednaldo Rodrigues:

  • Reinaldo Carneiro Bastos (SP);
  • Ednaílson Rozenha (AM);
  • Roberto Góes (AP);
  • Ricardo Lima (BA);
  • Gustavo Oliveira (ES);
  • Leomar Quintanilha (TO);
  • Rubens Angelotti (SC);
  • Gustavo Henrique (CBF em Brasília).

Ronaldo: da euforia à frustração

Se Ronaldo, em campo, está no panteão dos maiores atacantes da história, como dirigente, ainda não prosperou, de modo que sua candidatura nasceu morta. Não dependia somente de seu desejo ocupar a cadeira mais proeminente do futebol nacional, e revelou-se inviável até conseguir o mínimo apoio para ao menos disputar o pleito.

Ele precisava do apoio de pelo menos quatro das 27 federações, e de quatro clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro para lançar sua candidatura. Pelas regras eleitorais da CBF, na eleição presidencial, o voto das federações tem peso três. Dos clubes da Série A é dois e dos clubes da Série B, um. Assim, é possível vencer o pleito somente com os votos das filiadas.

“Eu sei que é difícil pra caramba, mas não imaginava que era impossível”, queixou-se o Fenômeno em entrevista ao Charla Podcast. “Arrumei minha turma e disse, ‘vamos tentar’. Mas o sistema realmente não deixa ninguém entrar”.

Ronaldo não conseguiu apoio de uma federação sequer para tentar presidência da CBF Foto: Alex Silva/Estadão

Inicialmente, Ronaldo imaginou que teria apoio maciço dos clubes em torno de sua pré-candidatura. Apesar de não ser suficiente para garantir a eleição, por causa do peso maior de voto das federações, e nem pra registrar chapa, ele pensou que poderia ser criado um clima midiático que lhe favorecesse, envolvendo clubes e torcedores desses clubes, e fizesse com que algumas federações trocassem de lado. Isso nunca nem chegou perto de ocorrer.

Ronaldo pensava assim porque, no fim de novembro, se sentiu valorizado. Àquela época, ele já havia confirmado seu desejo de sentar na cadeira mais importante do futebol brasileiro. Já tinha conversado com cartolas, empresários, ex-jogadores e pessoas que transitam nesse meio. Também havia escolhido um de seus articuladores, o amigo Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, e fizera um teste com a opinião pública: achava que era difícil, mas possível, realizar seu sonho. No fim, terminou frustrado.

Ronaldo até ganhou apoio e simpatia dos torcedores e de parte da mídia, com a ajuda de Rodrigo Paiva, ex-diretor de comunicação da CBF. Hoje no Flamengo, o profissional o levou a algumas emissoras, incluindo a Rede Globo, para que apresentasse ideias que poderiam impactar especialmente no calendário das partidas, que interessa diretamente a potenciais detentores de direitos de transmissão. Ednaldo contra-atacou recebendo meses depois executivos da Record na sede da CBF. A emissora do bispo Edir Macedo vai transmitir o Brasileirão a partir deste ano.

Ao lado do Fenômeno não ficou nenhum dirigente, do mais poderoso ao menos influente. Dois dos principais exemplos são Leila Pereira, presidente do Palmeiras, e John Textor, o dono do Botafogo. O magnata americano se reaproximou de Ednaldo na reta final da Libertadores do ano passado, um ano depois de falar em corrupção na CBF após seu time perder o Brasileirão de 2023.

Os movimentos de Ednaldo

Ednaldo sempre foi amplo favorito contra Ronaldo, mas teve de se movimentar para afastar o ex-jogador. Reaproximou-se de presidentes de federações com quem não tinha boa relação, reestruturou a arbitragem, sem Seneme e com uma comitê internacional, e fez promessas aos clubes. Uma delas foi a de que vai facilitar todo o processo da criação de uma liga unificada que organize o Campeonato Brasileiro em dois anos.

O cartola levou dois jogos da seleção brasileira para Brasília e se fortaleceu no meio político. Com bom trânsito na capital federal, onde a CBF montou uma casa no Lago Sul, bairro nobre repleto de mansões, ganhou força estratégica no Governo do Distrito Federal. Ele mantém prestígio também com Helder Barbalho, governador do Pará e Wilson Lima, do Amazonas. Em alguns Estados os governos têm forte influência sobre as federações.

A eleição da CBF é responsabilidade de uma comissão eleitoral independente, cuja atribuição é assegurar a lisura do processo. Dois dos membros dessa comissão são os advogados Fabrício Juliano Mendes Medeiros e Rodrigo da Silva Pedreira. O primeiro é professor no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e o segundo, pós-graduado na instituição.

O IDP foi fundado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, responsável por devolver Ednaldo à presidência da CBF em janeiro do ano passado, quando parecia impossível que o dirigente não voltaria mais a comandar a entidade. O IDP também tem contrato com a confederação para administrar a CBF Academy, braço educacional da entidade.

Naquela ação, o STF foi acionado pelo PCdoB, autor de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) para tentar obter medida cautelar contra uma decisão emitida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) em dezembro de 2023. Tal decisão havia destituído o presidente da CBF a partir do cancelamento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a entidade e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), em março de 2022, antes das eleições que tiveram Ednaldo, até então interino, como vencedor.

Ronaldo também buscou o apoio de Gilmar Mendes, com quem jantou na casa do ministro no fim do ano passado. Só que o decano do STF não foi muito útil ao Fenômeno, mas sim a Ednaldo.

O dirigente cumpriu “mandato-tampão” após o afastamento de Rogério Caboclo. Depois, ganhou sua primeira eleição em março de 2022, com mandato até março de 2026. A partir do ano que vem, começará seu novo mandato, que se encerra apenas em 2030.