Líderes da oposição classificaram como “indigesta” a cena do abraço entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, e o deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, ao som do cantor Léo Chaves. A cena foi registrada durante a festa de aniversário de Pereira, em Brasília.
A foto circulou entre parlamentares e os incomodou. Para congressistas da oposição, o gesto sinalizou um alinhamento entre Congresso e Supremo. A leitura veio em um momento sensível, quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos- PB), se recusa a colocar em pauta o projeto de anistia aos presos do 8 de janeiro.
O que é o Republicanos
Vice-líder da oposição, o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS) criticou a cena.
“Sinal indigesto para o Brasil”, afirmou. “O Republicanos, que se diz o partido mais conservador do Brasil, demonstra que é o suco do centro.”
Marcon avaliou que o gesto simboliza “um completo descompasso com os anseios de centenas de pessoas presas injustamente”.
O líder do Novo na Câmara, Marcel van Hattem (RS), chamou o encontro de “promiscuidade institucional”. “A tal harmonia entre os poderes na sua pior acepção possível”, disse.
O deputado concorreu à presidência da Câmara e afirma que Hugo Motta ignorou a pauta da anistia durante sua campanha. “Ele não demonstrou compromisso”, observou.
O líder do Novo no Senado, Eduardo Girão (CE), também reagiu com indignação. “A imagem é o retrato do Brasil de hoje”, destacou o senador. “Sem nenhum pudor. No meio do país pegando fogo — o povo brasileiro indignado com a inversão de valores, com escândalo de corrupção, preso político em pleno século 21 — ver o Barroso cantando, junto de um deputado, um presidente de partido, é um tapa na cara da sociedade.”
Crise no partido
Um integrante do Republicanos afirmou, em caráter reservado, que pretende procurar Marcos Pereira para cobrar um esclarecimento sobre a posição atual do partido em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Supremo. Segundo ele, a “ambiguidade” da legenda cria um ambiente de insegurança e pode tornar insustentável sua permanência.
A irritação com o Republicanos não é nova. O partido de Marcos Pereira provoca desconforto entre siglas de oposição. Embora abrigue nomes como Damares Alves (DF), Tarcísio de Freitas e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão (RS), o Republicanos mantém articulações com o governo petista.
O alinhamento da legenda com o governo resultou na saída do atual líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (RS), que escolheu se filiar ao PL.
Reação do relator
Enquanto a pressão do Supremo contra a pauta da anistia recai sobre o Legislativo, a oposição reage. O deputado Rodrigo Valadares (União-SE) criticou a decisão da Câmara de barrar o avanço da proposta.
“Notícia terrível”, afirmou. “Não apenas para os que estão presos, mas para seus familiares.”
Segundo ele, líderes de diferentes espectros, inclusive da esquerda, já reconheceram que as penas aplicadas são exageradas. Valadares disse que o Congresso precisa assumir sua responsabilidade. “Negar a urgência da anistia é perpetuar o ódio e a perseguição”, disse. “Precisamos virar a página e seguir em frente como nação.”
O líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), também comentou. “Não recuaremos um milímetro”, declarou. “Enquanto a anistia não vem a pauta, estamos em guerra. Hoje, perdemos uma batalha, mas estamos ainda mais fortes.”