A cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que foi flagrada vandalizando a estátua “A Justiça” com batom no dia 8 de janeiro de 2023, se diz arrependida do ato e que agiu “pelo calor da situação”. Ela está presa desde março daquele ano e teve o julgamento da ação penal iniciado na última semana com um pedido de pena de 14 anos de prisão pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta quarta (26), o ministro Luiz Fux afirmou que pediu vista do processo para revisar a pena imposta por Moraes, que diz que pode ter sido “exacerbada”. Até a interrupção do julgamento, Flávio Dino havia acompanhado o relator.
“Eu não fazia ideia do bem financeiro e do bem histórico daquela estátua. Não sei o que aconteceu comigo naquele dado momento, pelo calor da situação, de cometer esse ato. Eu me arrependo muito, muitíssimo, e eu jamais faria isso em sã consciência. O calor do momento alterou minhas faculdades mentais”,
Débora foi flagrada por câmeras vandalizando a estátua com a frase “perdeu, mané”, rabiscada com batom durante os protestos que levaram à depredação das sedes dos Três Poderes.
“Quando eu estava lá já tinha uma pessoa fazendo a pichação. Faltou talvez um pouco de malícia da minha parte, porque ele começou a escrita e falou assim: ‘eu tenho a letra muito feia, moça, você pode me ajudar a escrever?’. E aí eu continuei”, disse.
Ela tentou descrever o homem que havia pedido para continuar o vandalismo, como sendo branco, alto, com uma bandeira do Brasil pendurada no pescoço. No entanto, ela não conseguiu reconhecê-lo nas fotos que foram exibidas.
Na sua opinião, Eduardo Bolsonaro acerta em se licenciar temporariamente do mandato para ficar nos EUA?
Sim. Prestes a ter o passaporte retido pelo ministro Alexandre de Moraes, ficar nos EUA foi uma estratégia necessária para continuar buscando apoio internacional na pauta da liberdade de expressão no Brasil
Não. Ele deveria permanecer no Brasil para exercer seu mandato de deputado federal, combater o ativismo judicial daqui mesmo e assumir a presidência da comissão de Relações Exteriores da Câmara, ainda que isso custasse seu passaporte.
Ainda durante a audiência, Débora afirmou que havia orientado o filho sobre pichação em muros uma semana antes, e que teria feito “todo um texto pra ele sobre isso”, que “é ilegal, não se faz, poluição visual”.
“Isso me deixou traumatizada porque não me representa, não é o que eu sou. Sou uma pessoa totalmente disciplinada, que sempre seguiu a lei rigorosamente, nas minhas contas pessoais, no meu convívio social, nunca infringi uma lei”,
Ela disse que desenvolveu crise de ansiedade na prisão, que os filhos desenvolveram comportamentos atípicos – inclusive sofrendo bullying – e precisaram receber tratamento psicológico. Ela emendou afirmando que pegou “um pouco de repulsa” de manifestações políticas.
“Não quero me envolver com isso nunca mais. Eu queria pedir perdão para o Estado Democrático de Direito. […] Entendi que o Estado Democrático de Direito foi ferido com o meu ato, e eu jamais tive essa intenção. Foi algo totalmente isolado que eu jamais pretendo repetir”, completou afirmando que seguirá todas as determinações a que for submetida caso a prisão seja revogada por conta da situação de mãe de duas crianças.
Ainda durante a audiência, ela disse que não entrou em nenhum dos prédios invadidos, que saiu da Praça dos Três Poderes assim que a polícia chegou e retornou para o acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, e que está sendo bem tratada e sem reclamações no presídio de Tremembé, em São Paul.
O juiz auxiliar lembrou que Débora está detida em um “presídio diferenciado” de segurança para “presos que correm algum tipo de risco”, e que já abrigou também “celebridades” como Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga, Ana Carolina Jatobá, entre outros.
Débora ainda disse que foi a Brasília por conta própria, pagou R$ 50 de passagem para se deslocar de Campinas (SP) à capital federal um dia antes dos atos, e que “não imaginava que seria tão conturbado do jeito que foi”.
Durante a sessão da Primeira Turma do STF na quarta (26), Fux afirmou que “em determinadas ocasiões me deparo com peça exacerbada e por isso pedi vista do caso. Quero analisar o contexto em que essa senhora se encontrava”.