O Ministério Público de São Paulo pediu à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) a abertura de um inquérito policial contra o cantor Bruno, da dupla com Marrone. De acordo com informações divulgadas pela “Folha de S. Paulo” nesta quarta-feira, o intuito é que o MP apure se houve transfobia por parte do músico contra a repórter transsexual da RedeTV, Lisa Gomes.
Em maio, ele já havia sido denunciado por transfobia ao MPSP. Apresentada pela Associação dos LGBTQIA+, a ação pedia a punição ao artista pelo comportamento discriminatório contra Lisa Gomes durante uma entrevista concedida à RedeTV!, há duas semanas.
Na ocasião, o sertanejo constrangeu a jornalista ao questionar, no início da conversa, se ela tinha um pênis: “Você tem pau?”, perguntou. Várias pessoas acompanhavam o trabalho da reportagem, nos bastidores de um evento dedicado à música country.
Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que homofobia e transfobia são crimes. Por oito votos a três, os ministros equipararam as práticas de homofobia e transfobia ao crime de racismo. Desde então, quem ofender ou discriminar gays ou transgêneros está sujeito a punição de um a três anos de prisão. Assim como no caso de racismo, o crime é inafiançável e imprescritível.
‘Crime de ódio’
Protocolada pelo advogado criminalista Angelo Carbone, a denúncia ressalta que apenas o cumprimento da lei — com a prisão, de fato, de homofóbicos e transfóbicos — impedirá que esse crime continue acontecendo em solo brasileiro.
“Os efeitos deletérios do crime de ódio por transfobia praticado pelo cantor Bruno reforçam o sistema de discriminação que as mulheres travestis e as mulheres transgêneros sofrem diariamente, excluindo-as socialmente de seu gênero identitário e obstando assim a realizações de seus direitos humanos de felicidade, aceitação e realização social e profissional”, reforça o documento, que tem representação de Agripino Magalhães Júnior (MDB), deputado estadual suplente por São Paulo.
Relembre o caso
Em entrevista ao GLOBO, Lisa Gomes revelou a intenção de levar o caso para a Justiça:
— Foi muito constrangedor. A sala estava lotada de gente e, quando ele falou aquilo, fez-se um silêncio, todo mundo olhando para cara do outro e para mim. Todos ficaram estarrecidos com aquela cena. Foi muito ruim. Eu espero que o Bruno faça uma retratação pública e peça desculpas. Mas isso não vai livrar ele de um processo — afirmou a repórter.
Após a repercussão do caso, o sertanejo pediu desculpas, por meio de nota. “Ela é do bem, e me mostrou com muita sinceridade que as marcas de todo um processo de vida são eternas, e que cada ‘brincadeira’ de péssimo gosto como a minha pode trazer tudo à tona”, disse Bruno.