Pedro Bernardinelli, um brasileiro que terminou seu doutorado recentemente nos Estados Unidos, virou destaque na imprensa internacional ao anunciar a descoberta do cometa C/2014 UN271.
Com origem na periferia do sistema solar, o objeto pode ser o maior cometa já visto. Batizado de Bernardinelli-Bernstein, em homenagem ao cientista e seu orientador, estima-se que ele seja mil vezes mais massivo do que um cometa normal – o que o torna, possivelmente, o maior já descoberto na modernidade.
Para Thiago Gonçalves, professor da UFRJ, a pesquisa mostra o grande potencial da astronomia brasileira. O possível cometa está distante e não chegará mais próximo da Terra do que o planeta Saturno. No total, estima-se que ele tenha de 100 a 200 quilômetros de diâmetro – cerca de 10 vezes o diâmetro da maioria dos corpos celestes desse gênero.
Como o cometa foi encontrado?
Para encontrar o cometa foram utilizados dados do Dark Energy Survey – DES (Levantamento de Energia Escura, em tradução livre), um esforço colaborativo internacional criado para mapear centenas de milhões de galáxias, detectar supernovas e encontrar padrões de estrutura cósmica na busca de revelar a natureza da misteriosa energia escura que está acelerando a expansão do Universo.
O DES iniciou suas pesquisas em 31 de agosto de 2013 e desde então, mapeou 300 milhões de galáxias em uma área de 5.000 graus quadrados do céu noturno. Durante seus seis anos de funcionamento, o projeto também captou muitos cometas e outros objetos que passavam pelo campo de pesquisa – e Bernardinelli criou uma metodologia para descobrir esses objetos como projeto de seu doutorado.
Bernardinelli é pesquisador da Universidade da Pensilvânia e, orientado por seu professor Gary Bernstein, analisou seis anos de dados do DES, buscando milhares de imagens astronômicas. O material é equivalente a 2000 anos do trabalho de um computador comum. Eles encontraram o Cometa Bernardinelli-Bernstein escondido em meio a dados coletados por uma câmera de 570 megapixels, localizada em um telescópio do Observatório Interamericano de Cerro Tololo (CTIO), no Chile.
Bernardinelli e Bernstein utilizaram entre 15 e 20 milhões de horas de CPU no Centro Nacional de Aplicações de Supercomputação e no Fermi National Accelerator Laboratory – Fermilab, empregando algoritmos sofisticados de identificação e rastreamento para identificar mais de 800 objetos transnetunianos (TNO) – corpos gelados do nosso Sistema Solar, que ficam além da órbita de Netuno. Eles analisaram 80.000 exposições e 32 pertenceram a um objeto em particular, o C/2014 UN271.
Como o cometa Bernardinelli-Bernstein se comporta
Cometas são objetos gelados que evaporam conforme se aproximam do calor do Sol. As imagens do DES não mostraram uma cauda de cometa típica no corpo celeste encontrado. Mas um dia depois do anúncio de sua descoberta, astrônomos, utilizando a rede do Observatório de Las Cumbres, tiraram imagens novas do Cometa Bernardinelli-Bernstein que revelaram que ele produziu uma coma nos últimos 3 anos, tornando-o oficialmente um cometa.
A atual jornada do C/2014 UN271 em direção ao Sistema Solar começou em uma distância de mais de 40.000 unidades astronômicas (UA) do Sol – 40.000 vezes mais longe do Sol do que a Terra. Isso quer dizer que o cometa se originou na Nuvem de Oort de objetos, ejetada durante o início da história do Sistema Solar. Segundo o comunicado à imprensa do DES, o cometa pode ser o maior membro da Nuvem de Oort já detectado, e é o primeiro a ser detectado tão longe.
“Temos o privilégio de ter descoberto talvez o maior cometa já visto — ou, pelo menos, maior que qualquer um bem estudado – e o encontramos cedo o suficiente para as pessoas poderem assistir sua evolução enquanto ele se aproxima e esquenta,” disse Gary Bernstein. “Ele não visitou o Sistema Solar em mais de 3 milhões de anos”, complementou.
Agora, o cometa será acompanhado intensivamente pela comunidade astronômica para entender sua composição e origem. Ainda não se sabe quão ativo e brilhante ele ficará quando alcançar o periélio. Bernardinelli disse que um futuro Programa do NOIRLab “medirá continuamente o Cometa Bernardinelli-Bernstein até o seu periélio em 2031, e provavelmente encontrará muitos, muitos outros como ele,” permitindo que astrônomos caracterizem objetos da Nuvem de Oort com muito mais detalhes.
Com informações de Tecmundo