Na manhã desta quinta-feira, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, entrou em contato com a sua contraparte egípcia, para tratar do assunto. Em ligação com Faisa Aboul Naga, assessora direta do presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, Amorim fez um apelo para a liberação dos brasileiros. Segundo uma fonte próxima a Amorim, a assessora disse que daria “máxima atenção” ao tema e levaria a demanda ao líder do país. Paralelamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está tentando articular um contato com uma alta autoridade do governo de Israel, comentou uma fonte do Planalto, também para falar, entre outros assuntos, sobre a urgência de retirar brasileiros que estão na Faixa de Gaza.
— O presidente Lula está empenhando na questão humanitária, precisamos encontrar uma saída imediata — assegurou Amorim ao GLOBO.
Segundo o Assessor Especial da Presidência da República, este será um dos principais recados que o chanceler Mauro Vieira levará à reunião do Conselho de Segurança da ONU.
— Nosso objetivo agora é salvar vidas — frisou Amorim.
A insegurança na região, porém, ainda dificulta a operação de repatriação. Desde os ataques terroristas do Hamas, ocorridos no sábado, Israel reagiu com bombardeios e passou a fazer um cerco ao enclave palestino.
— Todas as ações no momento devem ter como ênfase a parte humanitária. A resposta do Egito foi positiva, eles estão dispostos a abrir [um corredor humanitário] dentro de certas condições — acrescentou o Assessor Especial da Presidência da República, sem dar mais detalhes.
Segundo fontes do Itamaraty, o governo do Egito já está com a documentação dos brasileiros que pretendem sair do local, como cópias de passaporte e fotos. Mas ainda não houve condições para a liberação em segurança do grupo.
Uma aeronave da Presidência da República decolou nesta quinta-feira, em Brasília, para a operação de resgate de brasileiros em Gaza. Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), o avião, o quarto já enviado pelo governo brasileiro à região de conflito, tem capacidade para até 40 passageiros. O avião modelo VC-2 pousará em Roma, na Itália. Na capital italiana, a aeronave permanecerá até receber autorização para prosseguir ao Egito. O governo brasileiro decidiu enviar a aeronave para estar preparado no momento em que for habilitada a possibilidade de resgatar brasileiros na Faixa de Gaza. Um corredor humanitário, explicou uma fonte diplomática, pode ser aberto por apenas algumas horas e por isso é preciso estar o mais perto possível do local.
Na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, que antecipou sua viagem a Nova York para participar da sessão de consultas que será realizada nesta sexta — e que não estava no programa — entre membros do conselho, convocada por iniciativa do Brasil, também entrou em contato com a chancelaria do Egito para viabilizar a operação.
De acordo com fontes do Palácio do Planalto, a possibilidade de bombardeios em Rafah e a destruição do lado palestino na fronteira torna difícil o resgate. Ou seja, com poucas chances de ocorrer de forma imediata.
Mais cedo, o Egito reivindicou um corredor “seguro e urgente” para a ajuda humanitária em Gaza. Em comunicado publicado pela diplomacia daquele país, afirmou que a fronteira em Rafah não está fechada, mas que há destruição do lado palestino.
“A fronteira de Rafah, entre Gaza e Egito, está aberta e em operação, e não foi fechada em nenhum momento desde a crise atual, mas infraestrutura do lado palestino foi destruída após sucessivos bombardeios israelenses, impedindo que o trânsito ocorra normalmente”.
Em nota, o Itamaraty ressaltou que o governo brasileiro, por meio do Escritório de Representação do Brasil em Ramala, identificou “cerca de 20 brasileiros, na sua maioria mulheres e crianças, interessados em sua retirada da Faixa de Gaza”.
“Parte deles está reunida em escola local, onde lhes foram fornecidos alimentos, colchões e roupas de cama, entre outros gêneros. A Embaixada em Tel Aviv solicitou formalmente ao governo de Israel que não bombardeie a escola”.
A diplomacia brasileira diz ainda que contratou veículos para transporte dos brasileiros até a fronteira egípcia “tão logo seja possível a passagem por Rafah”.
“O Brasil vem reiterando gestões, em alto nível, com vistas a viabilizar a entrada dos brasileiros e de seus familiares no Egito”, diz o Itamaraty.
A agenda do Conselho de Segurança
Da sessão de consultas desta sexta não sairão definições contundentes sobre o conflito, disse uma fonte diplomática. A intenção do Brasil, frisou a mesma fonte, é “navegar num mar de escolhos sem naufragar”. Para isso, o governo brasileiro está conversando com todos os membros do Conselho de Segurança, e sua posição está bastante alinhada com a de países como os Emirados Árabes — que também é membro rotativo.
O governo brasileiro busca, segundo a fonte, adotar uma postura construtiva, em momentos em que “os ânimos estão muito exaltados”. Esperar respostas rápidas sobre temas como corredor humanitário, situação de reféns ou possibilidade de uma negociação entre as partes é desconhecer os tempos da diplomacia multilateral. Mas todos esses temas estarão na agenda de debates desta sexta.
Existe uma enorme preocupação sobre o impacto da guerra na estabilidade de toda a região. Para países como o Brasil, assegurou a fonte, a questão humanitária é no momento a mais premente, mas existe consciência de que nenhuma solução rápida saíra do âmbito da ONU. Por isso, a pedido do presidente Lula, seu Assessor Especial iniciou contatos com o governo egípcio, já que sem a participação do Egito, que faz fronteira com a Faixa de Gaza, não será possível abrir um corredor humanitário.