Um ato pela anistia aos presos de 8 de janeiro apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo pastor Silas Malafaia deve ocorrer às 16h desta quarta-feira (7), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, sob um clima de tensão. A organização chamou o evento de “Caminhada Pacífica pela Anistia Humanitária” e está mobilizando participantes com a promessa de que não haverá quebra-quebra nem prisões.
Os manifestantes se concentrarão na Torre de TV, no Eixo Monumental, e seguirão com um carro de som em direção ao Congresso Nacional. Discursos devem ser feitos durante todo o trajeto. Os mais fortes, no entanto, devem ser registrados quando a caminhada alcançar a avenida mais próxima do Congresso.
Esta será a primeira vez que um ato apoiado por militantes da direita vai tentar se aproximar da Praça dos Três Poderes desde a manifestação de 8 de janeiro de 2023, que resultou em atos de vandalismo nos edifícios do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2023.
Malafaia, que vem organizando manifestações pela anistia e de apoio a Bolsonaro em São Paulo e no Rio de Janeiro, tem reforçado que o ato foi registrado junto às autoridades locais e contará com esquema de segurança para evitar infiltrações ou atos violentos. “Nós vamos filmar tudo”, disse o pastor em vídeo publicado nas redes sociais.
Os organizadores não esperam uma presença de público comparável aos atos realizados na Avenida Paulista, em 6 de abril, e na praia de Copacabana, em 16 de março. A expectativa do Partido Liberal (PL) é de que cerca de duas mil pessoas participem da caminhada, embora apoiadores acreditem que o número possa ser maior.
A presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda é incerta, em razão de recomendações médicas para evitar aglomerações após a alta hospitalar. Bolsonaro, porém, manifestou nas redes sociais a intenção de comparecer, caso sua saúde permita.
Pelo menos 50 parlamentares devem participar da caminhada, além familiares de presos e exilados políticos, cerca de 200 influenciadores digitais e caravanas vindas de pelo menos nove estados. Uma série de ônibus foram contratados por grupos de São Paulo, Paraná, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Sergipe e Rio de Janeiro, segundo Iran Rocha, presidente do Movimento Conservador Endireita ABC.
O evento na capital federal foi cadastrado junto à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF). Em nota enviada à Gazeta do Povo, a secretaria afirmou que o planejamento da segurança para a caminhada estava em fase de consolidação. Por razões de segurança e estratégia, a SSP/DF não divulgou a quantidade de efetivo que será empregado pelas forças de segurança pública. No entanto, a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Distrito Federal adiantou que “um policiamento está previsto especialmente para o ato”.
Os organizadores do evento têm evitado fazer estimativas sobre o público presente. Fontes ouvidas pela Gazeta do Povo apontam ainda que o receio de que ocorram prisões tem feito com que algumas precauções sejam tomadas. Uma delas é com o nome do ato, preferindo o termo caminhada, ao invés de manifestação.
A mobilização de pessoas de outros estados também é afetada. O número de caravanas – com ônibus fretados por grupos – não deve ser expressivo. Parte dos militantes deve utilizar os chamados ônibus de linha, saindo de rodoviárias. “Tem muita gente com medo de prenderem os ônibus inteiros como foi em 08/01”, lembrou o presidente do Movimento Conservador Endireita ABC, Iran Rocha.
“Não tenham medo! A caminhada pela anistia humanitária terá um grande aparato policial, e nós vamos filmar tudo”, disse o pastor Silas Malafaia nos convites publicados nas redes sociais. Malafaia assegurou ainda que a mobilização em Brasília terá liderança e “nenhuma lata de lixo será virada”. A afirmação foi feita em entrevista ao Metrópoles.
Informações repassadas à Gazeta do Povo pela Secretaria Pública do Distrito Federal (SSP/DF) também apontam para a garantia de segurança durante a caminhada. “O acompanhamento de atos e eventos é realizado de forma permanente, mesmo sem aviso prévio, por meio do Centro Integrado de Operações de Brasília (CIOB). Esse monitoramento é conduzido de maneira integrada pelas forças de segurança e por outros 31 órgãos, bem como instituições e agências do governo local e federal. A atuação conjunta conta com o apoio de câmeras de videomonitoramento e levantamentos de inteligência das pastas envolvidas”, afirmou a secretaria em nota.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República também afirmou que, diante da previsão de manifestações, as medidas de segurança são intensificadas.
“Caso seja necessário, as diligências podem incluir: a coordenação e a articulação de medidas protetivas junto aos Órgãos de Segurança Pública; acompanhamento da evolução da manifestação por meios eletrônicos e por pessoal especializado; ativação da Força de Reação do GSI; e acionamento de prontidão das tropas de choque do Comando Militar do Planalto para emprego”, informou o GSI.
Com a alta médica de Bolsonaro, após 22 dias de internação, há a expectativa de que o ex-presidente compareça ao evento. Em publicação em suas redes sociais após a alta, ele agradeceu à equipe médica e afirmou a intenção em participar da caminhada.
“Meu próximo desafio: acompanhar a Marcha Pacífica da Anistia Humanitária”, escreveu o ex-presidente. Mais tarde, Bolsonaro voltou a compartilhar um convite para a caminhada e completou que tentará “estar presente se a situação de saúde do momento permitir”.
A recomendação médica, no entanto, é para que ele evite estar em meio a grandes públicos por pelo menos três semanas. “Orientamos que ele evite aglomerações, pois isso ainda pode interferir na recuperação da cirurgia”, explicou o médico Claudio Birolini. Bolsonaro também foi orientado a evitar atividades físicas intensas e adotar uma dieta pastosa.
Ao sair do hospital, no domingo (4), o ex-presidente Jair Bolsonaro chorou ao pedir pela anistia aos presos do 8 de janeiro. “O que mais nos dói no coração é que são pessoas inocentes presas por até 17 anos de cadeia”, afirmou. Ele citou o caso de Débora Rodrigues, uma das condenadas pela Suprema Corte. “A Polícia Federal vai lá pegar a Débora e deixar dois filhos chorando para trás, para ela cumprir o restante dos 14 anos de prisão?”, questionou Bolsonaro.
Caminhada intensifica pressão por votação da anistia para presos do 8/1
Com a caminhada, a oposição quer mostrar que a pauta da anistia aos presos do 8 de janeiro tem apelo popular e que precisa ser votada no Congresso. A intenção é fazer com que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), paute o requerimento de urgência para votação da proposta em plenário.
O líder da oposição, deputado Luciano Zucco (PL-RS), tem enfatizado que devem ser utilizados todos os meios “legítimos e democráticos” para garantir a votação do PL da anistia. “A matéria já está madura, já tem as assinaturas necessárias para o requerimento de urgência, e depende apenas da vontade do presidente da Câmara para ir à votação”, afirmou Zucco.
Apesar de a oposição ter reunido o apoio de 262 deputados, cinco a mais que o mínimo necessário, para que a urgência do projeto fosse votada, Motta tem resistido à pressão dos parlamentares de oposição.
A pauta da anistia é tratada pela oposição como uma via para que a haja a pacificação do país após os atos de 8 de janeiro. “Anistia é um instrumento legítimo e constitucional. Se há um caminho real de pacificação, ele passa pela pauta da Anistia”, afirmou a líder da minoria, deputada Caroline De Toni (PL-SC).
Bolsonaro e o Partido Liberal têm empenhado uma série de esforços para garantir a votação da proposta de anistia. O projeto chegou a ser pautado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara no ano passado, mas uma manobra do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), fez com que a votação fosse adiada.
Antes de se eleger e logo após tomar posse, o atual presidente, Hugo Motta, chegou a fazer acenos à oposição sobre o PL da anistia, mas a matéria segue engavetada. A resistência de Motta fez com que a oposição iniciasse uma obstrução dos trabalhos na Casa, mas a estratégia ainda não foi capaz de dissuadir Motta, que sofre pressão do Supremo Tribunal Federal e do governo federal, contrários à anistia.
Lula não estará em Brasília nesta quarta
No dia da caminhada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não estará em Brasília. Ele embarca nesta terça-feira (6) para a Rússia, onde participa, em 9 de maio, da celebração dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. O presidente não vai participar das celebrações do Dia da Vitória promovidas em nações ocidentais na Europa no dia 8 de maio. Depois de ir a Moscou, Lula fará uma visita oficial à China.
Questionado sobre o possível reforço na segurança do Palácio do Planalto, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, por sua vez, afirmou que “realiza constante trabalho de análise e gestão de riscos para subsidiar ações que visam prevenir e neutralizar possíveis ameaças à segurança das autoridades e das instalações protegidas, inclusive no caso de manifestações na Esplanada”.
Governistas têm evitado fazer comentários sobre o ato pela anistia. A mobilização da oposição, no entanto, estará na pauta da reunião da bancada petista no Congresso nesta semana.
Já o STF informou que reforçará as medidas de segurança do prédio, mas seguirá funcionando normalmente, sem alterar os eventos e sessões de julgamento previstos para a data.
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