Manaus/AM– O diretor-presidente da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), Osvaldo Cardoso Neto, está envolvido em polêmicas desde o início das tratativas e anúncio do festival ‘Sou Manaus Passo a Paço 2023’. Cardoso está no cargo desde abril deste ano e conforme informações de bastidores anda na iminência de ser demitido após acumular insatisfações diante do público, artistas locais e outros setores da sociedade manauara.
O próprio Osvaldo Cardoso, que organizou o “#SouManaus Passo a Paço”, reconheceu as falhas do evento durante coletiva de imprensa para apresentar balanço da edição de 2023 do festival, que este ano ocorreu nos dias 5, 6 e 7 de setembro.
“A imprensa é fundamental para que o sucesso seja alcançado, de todo o trabalho das pessoas que estão aqui, quero agradecer pessoalmente a todos vocês que cobriram o evento, pedir desculpa por qualquer tipo de falha, isso está sendo ajustado, ninguém faz nada sozinho“, disse ele como ‘mea-culpa’ com os profissionais massacrados no evento.
Imprensa desvalorizada
A primeira noite do #SouManaus Passo a paço 2023, foi marcada pelo descaso com a imprensa que foi preterida ao tentar realizar seu trabalho no evento enquanto páginas de fofoca e influenciadores foram bem acomodados em camarotes com direito a regalias.
A situação repercutiu em grupos de WhatsApp onde profissionais da imprensa local recalaram do tratamento e da falta de organização da Manauscult.
Repórteres credenciados para cobrir o evento relataram diversas dificuldades e situações constrangedoras. Apesar de estarem lá para realizar seu trabalho, eles enfrentaram falta de água, ausência de banheiros adequados e restrições de acesso. Essas condições precárias afetaram não apenas a cobertura das atrações, mas também a saúde e bem-estar dos profissionais.
A repórter Carol Dias, do Portal e CM7 Brasil, relatou que os jornalistas não receberam nem mesmo água para se hidratar durante o evento. A falta de disponibilidade de banheiros também foi um problema mencionado pelo jornalista Mairkon Castro. Ele destacou que a distância até os banheiros dificultou o retorno ao local das melhores imagens. Além disso, foi observado que o preço de uma simples garrafinha d’água chegar a R$5, o que evidencia a falta de preocupação com as necessidades básicas tanto da imprensa quanto da população.
Desvalorização de artistas locais
Há cerca de 5 meses ao assumir o cargo, o diretor-presidente afirmou em entrevistas que iria tratar os segmentos da cultura sem distinção e que valorizaria todas as frentes artísticas. Porém, apenas na divulgação do ‘Sou Manaus’ é possível ver a diferença na valorização e divulgação dos artistas locais se comparado com os nacionais e a ausência de artistas que representam a diversidade cultural presente na região.
Um dos exemplos de desvalorização de artistas locais é o que aconteceu com a cantora indígena Djuena Tikuna, que foi anunciada pela Manauscult como uma das atrações locais do Sou Manaus, mas dois dias antes do evento publicou uma nota de esclarecimento, por meio de suas redes sociais, afirmando que o seu show estava cancelado.
No texto, a artista afirmou que foi convidada no dia 20 de julho por Osvaldo durante uma live realizada por ele, mas que após isso semanas se passaram e não houve mais contato. Djuena disse que no dia 4 de agosto, ela resolveu enviar uma proposta formal em relação a sua apresentação, mas não obteve resposta e somente no dia 24 do mesmo mês, a assessoria da Manauscult respondeu, por meio de email, alegando que a indígena não teria sido convidada para uma apresentação musical, mas apenas para uma ‘roda de conversa’.
Anda na justificativa, a pasta comandada por Cardoso afirmou à artista que ao fazer isso estaria adotando uma postura de economicidade, o que para Djuena era contraditório, uma vez que a propaganda do evento estava até na ‘Times Square’, em Nova Iorque, além de contar uma atração internacional.
Falhas na acessibilidade para PcDs
Após a Manauscult tentar vender imagem de um festival inclusivo, o presidente do Conelho Municipal da Pessoa com Deficiência, Neyrimar Furukawa, emitiu uma nota pública dizendo que as Pessoas com Deficiência (PcDs) que participaram do Sou Manaus 2023 “enfrentaram desafios significativos relacionados à acessibilidade”. Por exemplo, no primeiro dia do evento não havia intérprete de Libras.
Furukawa também afirma que chegou a enviar ofício para o presidente da Manauscult, Osvaldo Cardoso, mas não foi respondido.
“Nós, do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Manaus, acreditamos que é urgente e essencial que o poder público reconheça e respeite os direitos das pessoas com deficiência, garantindo acessibilidade plena em todos os eventos públicos. Não estamos buscando favores ou privilégios, apenas a execução de nossos direitos fundamentais“, destacou em nota.
Prejuízo para empreendedores do ramo da gastronomia
Diversos empreendedores do ramo de gastronomia ficaram com prejuízo significativo após o #SouManaus Passo a Paço 2023. Durante o evento, muitos comerciantes que investiram para estar lá relataram que não conseguiram vender seus produtos, resultando em perdas financeiras que chegam a até R$ 5 mil. A falta de organização e orientação da Manauscult, responsável pelo festival, foi apontada como a principal causa desse problema.
Os empreendedores gastronômicos investiram alto para colocar suas bancas de venda no festival Sou Manaus, desembolsando entre R$ 2 mil e R$ 5 mil. No entanto, muitos deles tiveram um retorno financeiro muito abaixo do esperado, faturando apenas R$ 700.
Uma das comerciantes afetadas pela falta de organização da Manauscult foi Silvia Santana, do empreendimento Chapa Mix, que disse ter investido alto após ser iludida de que venderia muito no evento.
Denunciado por supostas ilegalidades
O Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) foi acionado para investigar Osvaldo Cardoso, por possíveis ilegalidades nas tratativas relacionadas à realização do evento Sou Manaus Passo a Paço 2023. Uma foto publicada por ele levanta suspeitas de direcionamento em favor da empresa PUMP, uma vez que ela só foi declarada vencedora em agosto, após a homologação da Manauscult publicada no Diário Oficial do Município (DOM).
Foi solicitado que o TCE-AM apure a participação do proprietário da empresa ‘Nosso Show Gestão de Eventos Ltda (PUMP)’ nas negociações do evento antes da publicação do edital de chamamento público nº 007/2023, publicado em 23 de junho, e da homologação que selecionou a PUMP como empresa patrocinadora do festival. A denúncia questiona a cronologia dessa suposta participação e apresenta como evidência uma foto publicada em maio, na qual o diretor-presidente da Manauscult aparece ao lado do CEO da PUMP para alinhar as atrações que fariam parte do festival.
Se a investigação do TCE-AM comprovar o direcionamento na seleção da empresa patrocinadora do Sou Manaus, isso pode resultar em sanções para os responsáveis. Além disso, é imprescindível que sejam tomadas medidas para garantir que eventos futuros sejam realizados de forma imparcial, evitando o favorecimento de determinadas empresas em detrimento de outras interessadas.
Alvo de CPI
O vereador Rodrigo Guedes (Podemos), apresentou um requerimento na Câmara Municipal de Manaus (CMM) propondo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os indícios de irregularidades na organização do Festival “Sou Manaus – Passo a Paço 2023”, feita Manauscult.
A CPI tem como objetivo investigar os contratos firmados pela Manauscult, comandada pelo secretário Osvaldo Cardoso, na contratação dos artistas locais, nacionais e do artista internacional David Guetta. Além disso, a CPI também visa apurar se o festival está seguindo todos os trâmites legais para a sua realização e se há indícios de favorecimento de empresas.
O requerimento para a instauração da CPI já recebeu duas assinaturas, dos vereadores Rodrigo Guedes, William Alemão (Cidadania) e Carpê Andrade (Republicanos).
Contratos suspeitos
Osvaldo Cardoso Neto, está gastando dos cofres públicos R$ 3.131.140,00 milhões referente a três contratos fechados com a empresa Arsenal Serviços e Produções de Eventos LTDA, responsável pela organização do Festival Folclórico do Centro Social Urbano (CSU) do Parque 10, na zona Centro-Sul, alvo de denúncias sobre irregularidades no uso de patrimônio público no evento.