Conhecer quem planta, de que forma os alimentos são cuidados e como ele chega até à mesa dos consumidores: esse é um dos conceitos de uma Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), que chegou em Manaus em 2018. Mas, tudo começou no Japão, em 1971, quando Teruo Ichiraku (1906-1994), filósofo e líder de cooperativas agrícolas alertou os consumidores para os perigos do uso de produtos químicos na agricultura e desencadeou o movimento para uma agricultura orgânica.
Três anos mais tarde, um grupo de donas de casa formou o primeiro Teikei (parceria). Atualmente, 20 milhões de japoneses participam de grupos de Teikei em todo o país. Já no Brasil, o conceito foi apresentado anos mais tarde, no Fórum Mundial Social, que ocorreu em Porto Alegre em 2011.
O agricultor Joed Melo, que foi precursor do movimento na região norte, faz parte da Rede Maniva de Agroecologia, composta por técnicos e agricultores que adotam a agricultura que regenera. Em 2016, ele fez um intercâmbio em São Paulo e acabou conhecendo o CSA. “Fui na Fazenda da Toca, conheci o Instituto Chão, a Associação Biodinâmica, e nesse meu intercâmbio de conhecimento, acabei trocando ideia com o pessoal do CSA e achei interessante o conceito. Procurei mais informações e busquei conhecer a fundo para tentar implementar em Manaus”, relembra.
Em 2017, Joed ingressou em um grupo de trabalho com o objetivo de iniciar o movimento CSA em Manaus. Este foi o pontapé inicial. “Em fevereiro de 2018 começamos com dois coagricultores e hoje estamos com 73”.
Os coagricultores são os “financiadores” da plantação, uma vez que o CSA é uma tecnologia social no qual a produção local de alimentos orgânicos é apoiada pela própria comunidade, ou seja, pelos coagricultores (consumidores).“Como não gostamos muito desse conceito de “mercado”, os nossos consumidores tornam-se coagricultores. O agricultor tem os custos anuais, e os coagricultores financiam a produção por um período pré-estabelecido, em troca recebem alimentos frescos e livres de agrotóxicos”, explica Joed Melo.
Os alimentos fornecidos são de acordo com a sazonalidade, conforme explica Joed. “Buscamos deixar a cultura do preço para investir na cultura do apreço, aceitando o que a horta está produzindo dentro das condições e sazonalidades”.
Cotas
O consumidor, que no caso do CSA é chamado de coagricultor, colabora com cotas. Parte desta contribuição cobre os cursos das famílias de agricultores orgânicos e outra parte vai para uma reserva da comunidade.
Os alimentos são distribuídos entre os membros da comunidade entregues em Pontos de Convivência próximos às suas residências, semanalmente. Os coagricultores são responsáveis pelo recolhimento de seus produtos de acordo com o número de cotas que possuem. Uma cota prevê aproximadamente 10 ítens de verduras, frutas e legumes.
O modelo evita o uso de embalagens. Na CSA também não há atravessadores ou o risco de não escoamento da produção.
Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) podem ser encontradas na página do Instagram, no @csamanaus. Já os locais de venda, de coleta e informações sobre delivery das cestas orgânicas da Dona Wal também podem ser encontradas nas redes sociais, pelo @cesta.verde.dona.walda.
Cadeia econômica
É cada vez maior o número de agricultores que investem na agricultura orgânica. E, com isso, toda uma cadeia se forma através de uma rede colaborativa. Foi assim que Eduardo Shiniti Hase, 37, passou a ter uma renda fixa. Ele já trabalhava fazendo o delivery de cestas orgânicas antes da pandemia, mas foi no período da pandemia que as entregas se intensificaram e ele começou a fazer entrega para outros agricultores.
“No período de restrições, os agricultores fizeram um movimento na feira da Assinpa para continuar. Mas o movimento caiu pois muitos clientes estavam receosos em sair de casa. Foi quando surgiu a oportunidade de eu fazer delivery para outros agricultores, como o Joed, da Comunidade que Sustenta a Agricultura”, lembra Eduardo.
Para ele, o trabalho realizado influencia positivamente os agricultores, que veem sua rede de clientes aumentar com a possibilidade do delivery; e também traz benefícios aos consumidores, que muitas vezes não conseguem ir até os locais de retirada ou nas feiras de orgânicos. “O consumidor fica livre pra fazer o que tem que fazer, sem ficar preso a ir até o lugar pra comprar o alimento”.
As entregas que Eduardo realiza são sempre às segundas, quinta, sexta e sábado. “A quantidade de cestas que entrego varia. Na segunda são sete, mas na quinta, por exemplo, são quase 20 cestas”, pontua.
Cestas da dona walda
Além da CSA, Eduardo também faz entregas das Cestas Verdes da Dona Walda, que trabalha com orgânicos há seis anos. Walda Marina dos Santos, que também é da Rede Maniva de Agroecologia, começou a empreender no ramo participando das feiras de orgânicos. “Os produtos são orgânicos, 100% naturais, sem agrotóxicos, com um valor agregado 30% do convencional, e a procura é bem maior que o convencional por ser mais saudável tanto pro consumidor quanto para a natureza e os agricultores que estão produzindo”, disse Walda.
O serviço dela funciona com uma entrega na sexta-feira com delivery e aos sábado com delivery e com retirada no endereço fornecido nas redes sociais de Dona Walda.
A cestas possuem dois modelos: padrão e mini. A padrão tem de 12 a 14 itens e a mini possui de 6 a 8 itens.
“Os benefício para os clientes são muitos. Eles recebem em suas cestas todas variedades de produtos que se planta, e que estão consumindo produtos saudáveis sem veneno, os produtos são hortaliças, frutas, tubérculos, raízes etc… a influência é que temos uma relação muito próxima, eles podem fazer visita na propriedade, isso dá uma garantia de confiança entre agricultores e consumidores”, conclui.