Por: Evandro Lobo
Todo ano tem sol e chuva nestas plagas manauaras. Sejam fortes, sejam fracos, quem mora aqui está acostumado (ou tem de se acostumar) com os humores das estações, o vaivém do rio nas suas enchentes e vazantes, a (in) constância das chuvas e o esquenta, molha e assopra do nossos verões e invernos amazônicos.
Mesmo com todas as mudanças climáticas, que fazem nossos 6 meses de sol e 6 meses de chuva mais intensos (em todos os sentidos que se puder dar à palavra “in-tensidade”), o que não dá pra se acostumar é com a ignorância flutuante, mais especificamente à resistência dos moradores das áreas alagáveis em conviver com o lixo. Seja na estiagem, seja na cheia, ele (o lixo) sempre aparece e resiste, do lado ou embaixo das casas, parado ou flutuando livre e sendo reproduzido aos milhares.
A justificativa de muita gente que insiste em morar nas áreas alagáveis a gente até entende. Falta de moradia, fuga do aluguel, ocupação de conveniência (“está perto de tudo!”), enfim, de todo modo, é um problema social interminável, porque os governos estadual e municipal podem até tirar algumas famílias dessas áreas mas elas (e outras) sempre voltam ou ainda: abrem espaço para que outras ocupem os lugares desocupados.
O que não se concebe é a passividade delas diante da convivência com o lixo e a sujeira, produzidos por eles mesmos. Para ser mais claro: por que as pessoas dos alagados não se dispõem elas mesmo em limpar todo lixo, detritos, dejetos e esperam que eles voltem a flutuar em volta das casas durante as enchentes?
A prefeitura até que tenta fazer a limpeza, com mutirões nos bairros, com balsas no rio e nos igarapés, campanhas de conscientização, com um esforço descomunal em retirar toneladas e toneladas de lixo, por dia, nessa época principalmente. Mas, como disse um coordenador de uma dessas operações de limpeza: tudo isso é “enxugar gelo”, porque mesmo com todo esforço do município, nada vai adiantar se permanecer a insensatez dos moradores das áreas alagadas, jogando lixo onde não deveria ser. Talvez imaginando que vão desaparecer ou o rio vai levar pra longe. Enfim. É inconcebível que entra ano e sai ano a situação seja a mesma.
E não adianta culpar a falta de coletores ou lixeiras, uma ação mais efetiva da Semulsp, isso é dos males o menor. Ou melhor: o mal pior que a ignorância é a resistência em saber o que tem de fazer, o que tem de ser, como fazer e não faz por pura ojeriza ao dever.
Mas a lógica da natureza é clara: o que vai, volta. E aqui, é o rio quem comanda a vida. Nada acontece sem que o rio traga e leve.