Manaus/AM – Morreu nessa segunda-feira (13), em Manaus, aos 84 anos, a irmã Helena Augusta Walcott, da Congregação do Preciosíssimo Sangue, cuja trajetória se confunde com as lutas dos sem-terra na capital amazonense. A partir da final da década de 70 do século passado, sensibilizada com a falta de política de moradia na cidade, irmã Helena comandou a ocupação de pelo menos oito bairros nas zonas Oeste, Centro-Oeste, Norte e Leste da capital.
A atuação dela causou tanta movimentação na cidade que chegou a ser ameaça de morte por latifundiários e grileiros, o que a obrigou a sair de Manaus. Irmã Helene morreu com falência múltipla dos órgãos. Ela estava internada em UTI do PSM 28 de Agosto.
Irmã Helena era filha de barbadianos, descendentes dos povos de Guiné Bissau e Senegal. Era caçula de sete filhos, nasceu em Guajará-Mirim, em Rondônia, após a família estabelecer-se no país, por conta do trabalho conseguido por seu pai na construção da estrada Madeira Marmoré.
Em Manaus, ligada aos trabalhos da Igreja desde a década de 70, iniciou as atividades no bairro da Compensa, zona Oeste, que surgiu após ocupação por sem-terra após a desarticulação da chamada “cidade flutuante”.
Nos anos seguintes, consolidou seu trabalho nessa área e ajudou a constituir outros 8 bairros nas áreas leste e norte da cidade de Manaus, como Terra Nova, São José, João Paulo II, Zumbi dos Palmares I -II, Nossa Senhora de Fátima, Novo Israel, Armando Mendes e São Jorge. Além de Redenção, zona centro-oeste, e Japiim, zona sul.
Um detalhe nos processos de ocupação, Helena buscava batizar as áreas escolhidas para esse trabalho com nomes marcantes como o primeiro, que foi o bairro Redenção, que ganhou esse nome com o objetivo de ressignificação do espaço numa sociedade avaliada como racista e cerceadora dos direitos dos mais pobres.
A área de ocupação do bairro hoje bairro da Redenção era inicialmente chamada de “Planeta dos Macacos”, em alusão ao filme, mas ironizando a presença de centenas de famílias pobres que lutavam por um pedaço de terra.
Também era uma preocupação dela que os lotes fossem delimitados com área para cultivo de frutíferas e outras plantas.
Outro acontecimento marcante foi a ocupação que daria origem ao bairro Armando Mendes, em 1987. Há relatos de que na saída de uma reunião com comunitários, Helena sofreu um atentado, comandado pelo grileiro Paulo Farias, que resultou na morte do jovem Altenor Cavalcante.
A partir dessa data, ela exilou-se nos Estados Unidos, até 1997.
O velório é aberto ao público na quadra do Colégio Preciosíssimo Sangue, na rua Constantino Nery, 1751, São Geraldo. Ás 14h horas haverá missa de corpo presente e o sepultamento será às 16h no Cemitério de São João Batista.