Oito meses após autorização da Agência de Vigilância em Saúde (Anvisa) para a vacinação de crianças e adolescentes de 12 a 17 anos, várias aldeias como do Vale do Javari, a oeste do estado do Amazonas, com pelo menos 26 povos indígenas, ainda não receberam a visita dos técnicos em saúde para aplicação do imunizante para essa faixa etária.
As vacinas para essa comunidade estão paradas há quatro meses em uma câmara fria em Manaus, à espera da distribuição pelo Ministério da Saúde porque o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) do Vale do Javari, braço do Ministério da Saúde, decidiu não retirá-las da capital, sob a justificativa de falta de aeronaves para transportar as doses até as aldeias, conforme comunicado da prefeitura de Atalaia do Norte (a 1.136 quilômetros de Manaus).
A denúncia foi feita ao site Repórter Brasil por Gilberto Marubo, mais conhecido como Beto Marubo, representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava ) em Brasília.
“O governo federal disse que o atendimento a indígenas na pandemia era uma prioridade, mas essa é mais uma mentira, porque na prática isso não vem ocorrendo”, diz Beto.
Para ele, é preocupante ver que, enquanto adolescentes de municípios como Manaus e São Paulo se vacinaram a partir de agosto de 2021, os indígenas desta faixa etária tiveram de esperar até outubro, quando a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) começou a distribuição das doses, sem explicar os motivos para esse atraso que permanece para os jovens do oeste do Amazonas.
A situação contradiz, segundo o líder, a fala do governo federal afirmando que o atendimento a indígenas na pandemia era uma prioridade. “Isso foi mais uma mentira, porque na prática isso não vem ocorrendo”, assegurou Beto Marubo.
De acordo com ele, as doses de Pfizer para os adolescentes do Javari foram enviadas para a Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM), em Manaus, no início de outubro, mas até hoje não chegaram aos jovens.
Ouvida pela reportagem, a Sesai, não comentou sobre a falta de aeronaves e justificou o atraso às “condições especiais” de transporte e armazenagem da vacina da Pfizer na região, onde as aldeias estão dispersas geograficamente.
“No caso do DSEI Vale do Javari, que utiliza apenas modais de transporte aéreo e fluvial para chegar às comunidades indígenas, as condições logísticas se chocaram com as especificidades do imunizante”, disse a Sesai, em nota enviada à Repórter Brasil.
Apesar da declaração, esse imunizante pode ser transportado e armazenado por até 31 dias nas mesmas condições da maioria das vacinas aplicadas no SUS – ou seja, entre + 2ºC a + 8ºC, equivalente a um refrigerador comum –, segundo a fabricante. À reportagem, a Pfizer afirmou ainda que atuou junto ao Ministério da Saúde para orientar profissionais de saúde quanto ao transporte e condições de armazenamento.
Segundo a Sesai, a vacinação dos indígenas que vivem na zona urbana de Atalaia do Norte começaria no dia 12 deste mês – três dias depois de ser questionada sobre o atraso. Já a vacinação para os que moram nas aldeias começaria dia 14.
Mas a informação foi desmentida pelas lideranças locais desmentiram. Na sede do município, a vacinação começou na sexta (18), mas dentro da área indígena, não tem previsão, conforme revelou Beto.