A ideia nasceu em 2014, literalmente como uma forma de realizar um sonho de infância do engenheiro britânico Michael Mercier. Um hovercraft de luxo com design futurista, como nos filmes e games, destinado a ser o transporte do futuro e substituir carros, como nos filmes e games. Sem rodas ou asas, flutuando a 18 cm do chão sob um colchão de ar, capaz de atuar com a mesma desenvoltura sobre a água, areia, pedras, grama, asfalto.
Então, o veículo se chamaria Supercraft, entrou já num programa de pré-vendas (por um valor de reserva, não o completo) e teve suas entregas anunciadas para 2015. Desde então, o conceito foi recebendo atualizações, inclusive no nome, que agora é Arosa. E devia começar a chegar hoje (o último prazo era agosto de 2021), mas, aparentemente, não foi ainda dessa vez.
Vaporware?
A história traz à mente a amarga memória do Moller Skycar, carro voador concebido nos anos 1980, altamente celebrado pela mídia, múltiplas vezes. E que nunca foi além de voar preso a cabos. Um caso de vaporware, um produto anunciado e aguardado que nunca se materializa.
Mas hovercrafts são um plano bem mais, literalmente, pé no chão que carros voadores. Não é exatamente engenharia espacial: eles já existem desde 1953 e inclusive já foram mais usados que hoje, com o hovercraft gigante SR.N4 operando por 32 anos com sucesso cruzando o Canal da Mancha, entre 1968 e 2000, até ser aposentado pelo Eurotúnel.
O Arosa também não prometeu muito: fora o design de carro esportivo, o híbrido teria uma máxima de 129 km/h (e uma velocidade de cruzeiro com a metade disso), uma autonomia para 193 km, suspendido a 18 cm do chão. Também não fez uma promessa crucial que parece implícita no seu design: substituir carros na estrada. E o painel de controle, de fato, parece mais o de uma lancha.
E aqui a realidade se impõe: um hovercraft é, sim, perfeitamente capaz de andar em qualquer rua ou estrada. É capaz de fazer isso muito mais suavemente que um carro, com um baita “plus a mais” para o Brasil: ignorando buracos. Em tese, poderia inclusive ser mais rápido que carros, sem perder velocidade pelo atrito com solo e componentes de rodagem.
Dificuldades de um hovercraft
Mas o que um hovercraft não faz muito bem é ser controlado. Note as duas “rodas” no Arosa: não são rodas, mas hélices com dutos, e sua função é direcionar o veículo. O Arosa afirma ser o hovercraft mais facilmente controlável do mundo. A questão é se isso seria o suficiente para substituir um carro.
Porque um hovercraft é, literalmente, um veículo flutuando sem contato com o chão. O mesmo que acontece com um carro quando está aquaplanando, flutuando sob uma camada de água, como numa chuva intensa. É causa de muitos desastres e algo que os fabricantes de carros e pneus lutam para combater.
Sem contato com o solo, é como se o hovercraft estivesse derrapando o tempo todo. Ele só conta com controles aéreos, mas esses são bem menos firmes que uma roda no chão. Curvas e frenagens precisas estão fora de questão. Você pode ver isso num aparelho de boa qualidade sendo manobrado devagar em terra:
Não dá pra imaginar um veículo assim na cidade. Por isso nenhum país emplaca hovercrafts, ainda que existam múltiplos fabricantes para fins comerciais e recreativos. Para todos os fins, hovercrafts são barcos capazes de andar em terra, e estão sob a legislação naval.
Assim sendo, o Arosa, se vem mesmo aí, vai ter que lutar na justiça para ser entendido como mais como uma bela lancha esportiva. Uma que pode andar na praia ou no campo ou em estradas privadas, mas não um carro voador que voa baixinho.
Com informações de Olhar Digital.